Foz do Arelho vai ter Casa-Museu Jaime Umbelino em 2019

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Gazeta das Caldas
Jaime Umbelino, em 2006, na apresentação da segunda edição do seu livro sobre a Foz do Arelho
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Em 2006, o fozense Jaime Umbelino (escritor, linguista, docente e cronista) legou a sua casa à Junta de Freguesia local para que após a sua morte (que aconteceu em 2007) o espaço fosse recuperado e transformado numa casa-museu. O actual presidente da Junta, Fernando Sousa, diz que “os orçamentos curtos e a falta de pessoal” impediram que o desejo daquele fozense ilustre fosse concretizado, mas que o será em 2019. Os anexos da habitação, situada no centro da vila, nas proximidades da igreja, vão dar origem a núcleos museológicos e a uma biblioteca para usufruto da população local.

Em Julho de 2019 vai ser inaugurada na Foz do Arelho a Casa-Museu Jaime Umbelino. O fozense, nascido naquela localidade em 1918, legou à Junta de Freguesia a sua habitação, conhecida como Casa do Arco. Situada nas proximidades da Igreja da Foz, o edifício possui dois anexos, arrecadações e logradouro.

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No seu testamento, que data de 2006, um ano antes da sua morte (9/03/2007) Jaime Umbelino deixou expresso que este prédio urbano “ficará ao serviço da comunidade, destinando-se o mesmo prédio a Museu a que além de todos os objectos que já fazem parte do seu recheio, a Junta de Freguesia irá acrescentar outros que obtenha por compra ou doação”. No seu testamento, Jaime Umbelino nomeia duas entidades fiscalizadoras: a vereação da Câmara das Caldas e o padre da Foz do Arelho.
Só que o seu desejo está a demorar vários anos a concretizar-se. O actual presidente da Junta de Freguesia da Foz do Arelho, Fernando Sousa, que exerce este cargo desde 2014, diz que até ser autarca “ninguém tinha feito nada em relação a este assunto”.
Nesse ano, conta o presidente da Junta, mandou fazer uma limpeza à Casa do Arco e guardou os objectos mais valiosos numa casa que pertence à Junta. Agora serão feitas remodelações que vão permitir transformar a habitação numa casa-museu.
“A inauguração da primeira fase decorrerá em Junho ou Julho do próximo ano”, disse ao autarca. A abertura da habitação de Jaime Umbelino ao público está prevista para 12 de Junho, aquando da comemoração da primeira década da elevação da Foz do Arelho a vila ou a 5 de Julho, altura em que se vai celebrar o centenário da freguesia.
Há já algumas ideias sobre a utilização dos espaços anexos à casa. Em frente à habitação serão albergados núcleos museológicos ligados às tradições e à etnografia da Foz do Arelho e, num segundo espaço, está a ser pensada a abertura de uma biblioteca, que ficará ao serviço do público.
“Depois vou reunir com as vereadoras da Cultura da Câmara das Caldas e de Torres Vedras para ver que outras iniciativas se poderão fazer na casa-museu”, disse Fernando Sousa, salientando que já foi convidado pela vereadora torriense para conhecer a Fábrica das Histórias – Casa de Jaime Umbelino.
O presidente da Junta da Foz está a contar com a ajuda financeira da autarquia para poder substituir o telhado dos anexos onde gostaria de apresentar os núcleos etnográficos. “Serão necessários cerca de dez mil euros”, disse Fernando Sousa que quer que a habitação fique “conforme Jaime Umbelino a deixou”. Depois, reparado o jardim e feitas as remodelações na habitação e anexos, poderá a casa-museu receber workshops ou residências artísticas. De qualquer modo, “não teremos capacidade para ter um funcionário de forma permanente”, informou Fernando Sousa, que está interessado em que se estabeleça um intercâmbio com o projecto congénere de Torres Vedras.
Questionado sobre quais foram as razões para que uma doação de 2006 demorasse até à actualidade para ter seguimento, Fernando Sousa respondeu que se deveu aos
“os curtos orçamentos e a falta de pessoal” de que a Junta de Freguesia da Foz do Arelho sofre.
Após a primeira intervenção, que permitirá à casa-museu ter “cara lavada”, a Junta da Foz quer ouvir as Câmaras das Caldas e de Torres sobre o desenvolvimento do projecto. “Logo que acabe o Verão virão dois funcionários para preparar os jardins para estar arranjados e floridos no dia em que abrir ao público”, disse o presidente da Junta, enquanto explica que o núcleo etnográfico vai contar com objectos da lavoura e da pesca.
Quando estiver recuperado, o exterior da casa poderá servir de cenário a iniciativas culturais como, por exemplo, noites de fados.

Torres vedras quer acompanhar Foz

“Teremos todo o gosto em estabelecer uma ligação com o projecto que vai surgir na Foz do Arelho”. Palavras de Ana Umbelino, vereadora da Cultura de Torres Vedras e sobrinha-neta de Jaime Umbelino que também impulsionou, em 2011, a constituição da Fábrica das Histórias – Casa Jaime Umbelino em Torres Vedras, cidade que acolheu a família quando o fozense tinha apenas quatro anos. Aquele espaço onde decorrem iniciativas culturais, desde exposições a edições de livros, “possui uma política de descentralização e temos muitas iniciativas a decorrer fora de portas”, contou a vereadora torriense, salientando que as actividades contam com uma participação de mais de 8000 pessoas por ano.
No Verão, a Fábrica das Histórias – Casa Jaime Umbelino leva a cultura até à Praia de Santa Cruz.
As memórias relacionadas com o patrono da casa não são esquecidas e a vida e obra do autor, escritor e linguista, Jaime Umbelino tem sido alvo de exposições, livros e curtas-metragens.
Ana Umbelino disse ainda que o seu tio-avô era uma pessoa “muito conhecida e respeitada” em Torres Vedras por se envolver em vários projectos de natureza social e cívica. “Era um linguista e um purista da língua portuguesa, assim como um excelente contador de histórias”, disse a familiar, explicando que para honrar este seu percurso “fizemos um projecto diferente e bem vivo do que é uma casa-museu convencional”. A Fábrica das Histórias “é um espaço de memória mas é também um local de muita cultura e concepção contemporânea”, informou a autarca.

Uma casa que recebia reis

“Nesta casa entre 1900 e 1908 esteve várias vezes, para participar em caças aos patos, sua Majestade o Rei D. Carlos, acompanhado pela Rainha D. Amélia e sua corte”. É o que se pode ler numa placa colocada na entrada da Casa do Arco e que é confirmado na biografia da Rainha D. Amélia. Nesta casa, na Foz do Arelho, que passou a pertencer à família Umbelino, os reis descansaram e tomaram refeições quando vinham às Caldas. Era pois naquela habitação (mais tarde casa de férias de Jaime Umbelino) que o casal real ficava, quando o rei vinha fazer as célebres caças aos patos na Lagoa. Na biografia da Rainha D. Amélia, de José Alberto Ribeiro, conta-se, segundo o diário da soberana, uma destas vindas, às Caldas e à Foz e que teve lugar a 23 de Agosto de 1896: “Partida comboio especial 8h45, na estação Franco. Adormeci na viagem. Muito bem recebida em Torres, Bombarral e Óbidos – Calor nas Caldas…, ruas cobertas de flores, homens a cavalo. Muito bem recebidos”. Nessa data, a casal real esteve na Foz do Arelho e segundo o relato da rainha, “Carlos (o rei) montou a cavalo junto ao nosso carro – pôr-do-sol muito belo…noite agradável com fados- jantar – partida caminho à luz das tochas. Perfeito. Chegámos à uma da manhã, calor”.

O primeiro licenciado da Foz do Arelho

“Jaime Umbelino foi o primeiro licenciado da Foz do Arelho”, disse Artur Domingues, empresário do Hotel Água d’Alma e ainda primo afastado do conhecido fozense.
Nascido em 1916 na Foz do Arelho, Jaime Umbelino foi viver para Torres Vedras com a sua família com apenas quatro anos. Foi o primeiro filho de uma série de irmãos e com a morte do seu pai viu-se com a família a cargo. Aos 19 anos tornou-se funcionário da Conservatória do Registo Civil. Com esforço, conseguiu licenciar-se em Filologia Românica e foi professor do ensino liceal e técnico de latim e língua portuguesa.
Foi também docente no Externato Ramalho Ortigão, nas Caldas, entre 1956 e 1959, bem como um dos fundadores do jornal Badaladas e director do jornal Torreense. Dirigiu também a Biblioteca de Torres Vedras e participou em diversas obras de carácter social e assistencial. Tem várias obras publicadas como “De Turres Veteras a Torres Vedras”, “O Foral de D. Afonso III”, ou “A Língua Portuguesa” onde reuniu centenas de artigos que publicou em vários jornais.
Em Maio de 2004 este autor lançou nas Caldas a segunda edição da sua obra “Musa Antiga – Poemas”, onde se dedica à poesia de inspiração clássica e que ofereceu à Santa Casa da Misericórdia.
É autor da obra “A Foz do Arelho na lenda e na história” (lançado no ano 2000) e Gazeta das Caldas noticiou, em 2006, a apresentação da segunda edição desta obra, revista e aumentada, no Centro Recreativo da Foz do Arelho e cujo produto das vendas reverteu a favor da construção da Igreja da Foz do Arelho. O autor tinha 90 anos e fez questão de contribuir para a construção do novo templo da sua terra natal onde tinha a casa de férias, agora doada à Junta. Jaime Umbelino faleceu no ano seguinte, em Março de 2017. N.N.

Festas do fim do Verã

Todos os anos, o escritor Jaime Umbelino realizava, na sua casa do Arco da Foz, a Festa do fim de Verão. Os homens e as senhoras convidados vestiam-se a rigor e eram festas de partilha cultural, de música e de degustação. Jaime Umbelino chegava a confeccionar alguns dos pratos servidos nestes convívios. Um dos convidados destas festas era Lalanda Ribeiro que conheceu Jaime Umbelino quando este foi professor no Colégio Ramalho Ortigão nos anos 50. Eram companheiros de comboio dado que partilhavam viagens para Lisboa. “Era um homem muito brincalhão que gostava de dizer piadas e de contar anedotas”, contou o caldense, que pertenceu ao núcleo de amigos do escritor. Jaime Umbelino convidava para estas festas alguns amigos da Foz do Arelho, tais como “Luís Ramiro, Alice Dinis dos Correios, o Carlos Pires que trabalhou na Câmara das Caldas ou José Páscoa (antigo presidente da Junta da Foz”, disse Lalanda Ribeiro, um dos convivas habituais daqueles eventos. Vinham também outros amigos de Torres Vedras como o antigo presidente da Câmara daquele concelho, José Augusto Carvalho, ou elementos da família Moura Guedes. “Eram festas que aconteciam nos jardins da sua casa, sempre no segundo fim-de-semana de Setembro”, rematou Lalanda Ribeiro.

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