O pintor de 74 anos expõe regularmente na Sociedade Nacional de Belas Artes
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Francisco Guilherme de Almeida, conhecido nas artes plásticas como Fraguial, considera-se um pintor de arte. Iniciou o percurso
artístico na pintura cerâmica e hoje é nas telas que o autor continua a dar cartas, participando em exposições individuais e colectivas. Gazeta das Caldas conversou com o artista, de 74 anos, que continua a dedicar-se às artes e a expôr em Portugal e no estrangeiro

Francisco Guilherme de Almeida, conhecido no mundo das artes plásticas por Fraguial, nasceu em 1945, em São João da Talha (Loures). Era bebé quando a família se mudou para as Caldas. É o único rapaz de cinco filhos e, aos 16 anos, entrou na Marinha de Guerra, após ter frequentado, com pouco sucesso, a escola comercial e industrial. Nunca gostou do ensino regular e o pai, que tinha trabalhado durante 20 anos na Fábrica de Loiça de Sacavém, começou a “puxá-lo” para a cerâmica. Era um dos responsáveis pela joule (máquina de fazer pratos) e foi um dos empregados que participou na primeira greve daquela unidade industrial.
Perseguido pela polícia política, ainda trabalhou na Fábrica Raul da Bernarda, em Alcobaça até que ingressou na Secla, onde acabou por levar também o filho, Fraguial. “E por isso teve que fugir de Loures, pois a Pide andava atrás dos grevistas”, contou à Gazeta Fraguial, recordando que foi em 1958 que Herculano Elias o chamou para a secção de pintura, onde esteve às ordens de mestre Furriel.
“Fui ficando e obtive aprovação no curso de aprendiz de pintor, que tinha no total quatro anos, o dobro da formação dos acabadores”, referiu o autor, que fez da pintura em cerâmica a sua profissão. Após a formação na fábrica, seguiu um curso de pintura de mais três anos na Escola Comercial e Industrial, sob direcção de Herculano Elias.
Especializou-se de tal forma que, aos 26 anos, foi convidado a liderar 40 jovens pintores da fábrica onde trabalhou desde miúdo. O autor recorda os grandes nomes ligados àquela fábrica caldense, como os pintores Jorge Frutuoso, António Rafael, Manuel das Neves, Dario, Subtil, António Ribeiro, Janita, Furriel, entre outros. Lembra-se bem dos tempos áureos daquela empresa que chegou a empregar perto de mil funcionários quando tinha em funcionamento três unidades. “Fazíamos milhares de peças por dia”, disse o artista, acrescentando que os pintores mais experientes que tinham a tarefa de pintar as peças especiais. “Cheguei a ter 119 pessoas a meu cargo”, disse o artista, que assim laborou durante dez anos. O autor considera que ser bom patrão “não depende apenas dos conhecimentos”. Na sua opinião, acima de tudo é preciso “ter respeito pelas pessoas com quem se trabalha”. Chegava ao ponto de fazer e preparar os pincéis para os colaboradores e ficou muito orgulhoso quando os clientes internacionais lhes elogiaram a pintura, pois o trabalho dos pintores da Secla “estava muito próximo dos italianos”.
Em 1981 foi convidado para dar formação no Cencal e, mais tarde, decidiu investir num atelier próprio, que teve vários locais: na Encosta do Sol e posteriormente junto aos Pimpões, aumentando sempre a área de trabalho. O seu último estúdio tinha 500 metros quadrados e Fraguial contratou funcionários com deficiências mentais ligeiras. O artista, com a ajuda da mulher e três funcionários, dava conta de encomendas de milhares de peças. O exemplo de integração da pessoa com deficiência valeu-lhe, em 1990, o 1º lugar num concurso nacional. “Foi algo de que me orgulhei, pois eram óptimos funcionários e fomos distinguidos entre centenas de entidades como câmaras e misericórdias”, disse Fraguial. Entretanto, ainda consegue manter a oficina durante mais três anos, tendo dois dos três funcionários conseguido posterior colocação noutra fábrica. Hoje, arrepende-se de não ter regressado à Secla, pois foi convidado para retomar a chefia da pintura. Passou por várias localidades do país, dando formação e apoiando várias fábricas, tendo até criado trabalhos em azulejaria de grande dimensão.

Expor nas Caldas

Ao longo dos anos sempre se dedicou à pintura tendo trabalhado com o artista espanhol Juan Ramón Studio, professor na Escola Superior de Artes de Salamanca, e foi com ele que desenvolveu a pintura cubista. Fraguial, que pintou em vários tipos de materiais desde a azulejaria até à madeira – também se dedicou à curadoria, tendo coordenado exposições colectivas na Galeria D. Pedro no Porto. As suas obras estiveram lado a lado com grandes nomes da pintura nacional e internacional como de Malangatana, Ana Malta, Artur Bual, Cruzeiro Seixas, Armanda Passos, Mário Silva, entre tantos outros.
Ainda hoje este artista caldense dá cor e forma a poemas de vários autores. Fraguial continua a pintar, no seu atelier em casa, trabalhando para participar em várias exposições individuais e colectivas, tanto em Portugal como no estrangeiro.
“Gostaria de dar a conhecer melhor a minha obra nas Caldas”, disse o autor cuja obra já foi exposta no Brasil, França, Itália e Inglaterra e tem sido reconhecida nos mais variados fóruns. Entre outras distinções, obteve o diploma de honra na Exposição Colectiva no “Salon International d’Art Contemporain – Carrousel Du Louvre em Paris e o título de Honra de Mérito, concedido pela Federação Brasileira de Academia de Ciências, Letras e Artes, em agradecimento aos relevantes serviços prestados às artes. Tem também o Título de Mérito Profissional atribuído pelo Instituto Comnene Paleólogo de Educação e Cultura (Brasil).

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