Café concerto do CCC esteve lotado, a 5 de fevereiro, no primeiro evento de homenagem local ao poeta-cantor
Não havia espaço para colocar nem mais uma cadeira no café concerto do CCC no passado domingo. Reuniram-se naquela sessão cerca de 160 pessoas, de todas as idades, que quiseram marcar presença na primeira iniciativa de homenagem a Zeca Afonso, passados 40 anos da Festa da Amizade, realizada no Pavilhão da Mata. Muitos dos presentes participaram nessa festa solidária e vieram ao CCC lembrar esse acontecimento.
Na sessão em que foi vendida a serigrafia com o cartaz da Festa da Amizade, partilharam-se memórias daquela iniciativa e sobre o homem, o cantor e o poeta “que tanto se dava com o professor catedrático como com a senhora que vendia hortaliças na Praça”, disse Élia Mendonça, uma das organizadoras do evento que integra o Núcleo das Caldas da Associação José Afonso (AJA), sediada em Lisboa.
Já na mesa, a caldense recordou vários detalhes daquela memorável festa “que envolveu toda a cidade que na verdade se uniu em volta de um companheiro que, na altura, necessitava de ajuda”, acrescentou aquela responsável, referindo-se ao facto do cantor ter ficado doente, com esclerose lateral amiotrófica e precisava de dinheiro para os tratamentos. Francisco Fanhais e Manuel Freire, presidente da direção e da assembleia geral da AJA que apadrinha o Núcleo das Caldas, promotor do programa de iniciativas que se vão realizar ao longo de 2023, emocionaram-se quando descreveram situações específicas vividas ao lado de José Afonso. Estes seus companheiros de estrada e de palco partilharam memórias.
“É com muita emoção que estamos aqui em volta do Zeca. Foi um grande amigo de todos os nós….”, disse Francisco Fanhais enquanto descrevia estórias de outras pessoas que foi encontrando no país e que muito o admiravam.
Numa festa de homenagem feita no Norte do país “encontrei um jovem que me pediu para que lhe levasse um recado. Diga ao Zeca que ele não morre no coração da malta nova!”. E é isso que a AJA tenta fazer, “preservar a memória deste homem que colocou todas essas qualidades ao serviço da cidadania”. Francisco Fanhais ainda partilhou que não consegue falar do seu amigo “sem se emocionar por dentro”. Manuel Freire também esteve na Festa da Amizade mas confessou que não tinha qualquer memória do espetáculo do qual fez parte, no Pavilhão da Mata. “Já estive a ver as fotos e conheço toda a gente, mas de facto não me lembro…”, referiu o convidado que diz que a sua memória é como a renda de bilros. “Pouco fio e muitos buracos!”, disse o músico que ainda partilhou com a assistência que não fazia a mínima ideia que 40 anos passados iria mudar-se para a localidade de A-dos-Negros (Óbidos). “E é com gosto que aqui estou, para manter a memória do Zeca, esse amigo e companheiro de quem tenho muitas saudades”, rematou. A vereadora Conceição Henriques recordou que tinha 20 anos e que teve “o privilégio” de estar na Festa da Amizade que “foi algo verdadeiramente extraordinário”, tendo salientado que foi a oportunidade de ver Carlos Paredes ao vivo. Lembrou ainda que Zeca Afonso “falava facilmente com jovens estudantes como eu era na época”. A autarca sublinhou ainda o facto de Zeca Afonso ser “uma pessoa muito gentil”. Patente esteve uma exposição de fotografia da Festa da Amizade de José Nascimento e foi colocada à venda a serigrafia do cartaz desta festa. Este seria para um concerto em Nantes que não se realizou pois aconteceu o 25 de Abril e “o Zeca já não foi!”, conforme contou Francisco Fanhais. No final, atuaram Manuel Freire, Francisco Fanhais,Manuel Teixeira e João Afonso, o cantor e sobrinho do homenageado. Muitos presentes trautearam as canções, como já tinha acontecido na primeira parte da sessão quando se ouviu o som da Festa da Amizade com as cantigas e poemas de Zeca, Assis Pacheco, Sérgio Godinho, Manuel Alegre, Natália Correia e Manuel Freire.■