Laura Kioto, uma caldense que conheceu o mundo como apresentadora de circo

0
561
Fernando Cartaxo junto à fotografia da sua tia

A caldense que se tornou numa estrela internacional de circo voltou, num 15 de agosto, à sua terra natal

A caldense Maria Laura Pereira Cartaxo nasceu em 1926 e viveu com pais e irmãos na Rua da Ilha (próximo da Rainha) até aos 16 anos. A família Cartaxo dedicava-se à produção de bolos secos que a jovem ajudava a vender indo até à estação para vender os doces à janela do comboio.
“Muita gente dizia que ela era uma das mais bonitas raparigas das Caldas!”, disse Fernando Cartaxo à Gazeta das Caldas, o sobrinho de Laura, lembrando que, em 1942, a jovem recebeu bilhetes gratuitos oferecidos pelo ilusionista Kioto para assistir ao espetáculo do Circo Luftman que veio às Caldas fazer parte da Feira do 15 de agosto.
Não só aceitou os ingressos como uma semana depois do circo ter deixado a cidade…a Laura tinha desaparecido. “Colocou-se até a hipótese da jovem ter sido raptada”, recordou o sobrinho. E a mãe de Laura, Luísa Cartaxo, pôs inclusivamente a polícia em campo que, num ápice, a localizou em S. Martinho do Porto, com o Circo Luftman.
Afinal a jovem caldense tinha ido de livre vontade pois “seguiu” o ilusionista e malabarista Kioto “com quem casou, dividiu palcos de circo e viveu durante perto de quatro décadas”, contou Fernando Cartaxo. A caldense apaixonou-se também pelas artes circenses e tornou-se locutora como então se designava as apresentadoras do circo. E fê-lo com mestria pois transformou-se numa estrela internacional dado que trabalhou em vários países em circos de Itália, Áustria, Hungria, EUA, México e Brasil. “Veio várias vezes a Portugal, apresentar espetáculos”, afirmou o seu sobrinho. Laura Kioto chegou a atuar em Moscovo, com o palhaço Popov e com o melhor animador de pista da Península Ibérica, o palhaço Luciano. Também conheceu as grandes figuras do mundo do circo e ainda apresentou espetáculos, em Barcelona onde atuou a estrela de cinema, Sara Montiel.
Num álbum de memórias sobre a vida desta caldense, feito pelo Museu do Ciclismo, em 2014, Mário Lino entrevistou o antigo trapezista Luís Cardinali pois este trabalhou com Laura Kioto na década de 70 do século passado. Para aquele artista, a caldense “foi a melhor apresentadora de circo do mundo!”.
A caldense que apresentou espetáculos em vários países não teve filhos e, por isso, interessava-se pelas crianças, “tendo ajudado muitas carenciadas e doentes”, informou o sobrinho.

Chegou inclusivamente a ser recebida pelo Papa Paulo VI, acompanhada por vários petizes, filhos dos seus companheiros de circo, em 1959, em Roma. Ainda nesse ano, a apresentadora regressou à sua terra natal. Foi na Feira do 15 de agosto desse ano, conforme anunciou a Gazeta das Caldas que Laura Kioto veio com o Circo Prin. Só a própria entrada do desfile era um grande espetáculo com dezenas de viaturas com músicos da banda de música, artistas e, claro, os animais ”, disse Fernando Cartaxo que se lembra que o Circo Prin se instalou no então Bairro do Borlão, onde hoje se encontra o Tribunal. O anúncio tinha o aviso: “Atuará nesta cidade a artista caldense Laura que fará a apresentação ao público do elenco que compõe esta monumental companhia”.
O caldense Fernando Cartaxo, de 80 anos, tinha então 15 anos quando a sua tia o mandou avisar que cá estava e deu-lhe bilhetes para a família ir assistir ao circo.
“Sim, gostava que ela fosse mais conhecida nas Caldas”, disse o sobrinho, recordando que a tia gostava da sua cidade pois “dava a conhecer que era de cá nas entrevistas que deu pelo mundo”. Laura Kioto escolheu viver em Barcelona e tinha casa na Avenida Mistral onde morreu, em maio de 2013. ■