Os talhões estão todos ocupados e há lista de espera para novos utilizadores. As hortas urbanas, resultado do Orçamento Participativo de 2013 e implementado em 2016, são um projeto consolidado e vencedor
Situadas às portas da cidade, a Oeste, as hortas urbanas permitem aos seus utilizadores terem sempre produtos frescos em casa, mas são também um espaço de convívio.
Com 83 anos, António Silva, é o utilizador mais velho das hortas, mas também um dos mais assíduos. Normalmente, chega pelas 10h00 e permanece até à hora de almoço, regressando à tarde, até às 19h00, para mais umas horas de cultivo, mas também de convívio com os vizinhos. No seu talhão cultiva um “bocadinho de tudo” e de forma biológica.
“São precisas duas coisas para cultivar as hortas: dedicação e amor às plantas”. A lição é dada por António, que reúne ambas as qualidades, como o comprovam as plantações do seu talhão, cujos frutos depois consome em casa e, por vezes, partilha com amigos.
As sementeiras são feitas consoante as épocas do ano mais propícias e com bons resultados. O antigo empregado bancário, natural da Serra da Estrela, não utiliza adubo, mas sim a cinza para desinfetar a terra e afugentar a bicharada, e caruma petrificada como fertilizante.
Atualmente com 78 anos, José Gomes, foi dos primeiros utilizadores das Hortas Urbanas, tendo-lhe sido atribuído o talhão 7. Tinha-se reformado há pouco tempo e, como os seus dias de trabalho como camionista do internacional eram longos, queria ter alguma coisa para fazer. Inscreveu-se e, desde 2016, que faz a sua produção própria de tomate, batata doce, couves, meloas, melancias, batata, alfaces, coentros, salsa e espinafres, entre outros. Os conhecimentos de agricultura vêm-lhe de acompanhar o avô, em criança, na aldeia, mas também de ver como os vizinhos fazem. Costuma ir para a horta de manhã e à tarde e, nem durante a pandemia, deixou de visitar o local, fazendo caminhadas por aquela zona.
No talhão de Norberto Cunha há tomate, feijão verde, alfaces, abóboras, pepinos, pimentos, salsa… “um bocadinho de cada coisa. É a natureza quem manda…”, conta o utilizador, fazendo notar que, como não utilizam pesticidas, por vezes as plantações não resistem às pragas.
Também ele está nas hortas desde 2016. “As minhas raízes estão na agricultura e gosto de plantar, ver crescer e colher os frutos. E como não usamos químicos é tudo mais saboroso”, diz, realçando que uma alface das que produz aguenta vários dias, viçosa, no frigorífico. A camaradagem entre vizinhos é outro ponto positivo, destaca, dando nota do espaço comum que possuem para fazer piqueniques.
Várias nacionalidades
Utilizador desde março, onde é responsável pelo talhão 51, Bruno Milhanas é também, atualmente, quem coordena a comissão de gestão (acompanhado por António Gonçalves, Luísa Garcia, Norberto Cunha e Abdul Guibá) fazendo a ponte com a Câmara das Caldas, que é a responsável pelo projeto.
Os 84 talhões existentes encontram-se todos ocupados e há lista de espera. Destes, 10 estão destinados a munícipes carenciados e existem ainda dois talhões atribuídos a associações. Há os espaços comuns, como a churrasqueira, que podem usar para confraternizações, mas também uma estufa, um pomar e um furo, de onde é retirada a água que as pessoas podem utilizar para regar as suas culturas. Os utilizadores, que pagam uma mensalidade de 10 euros, têm ainda direito a ferramenta, bem como o dever de respeitar as normas.
Chineses, brasileiros, angolanos, ingleses e holandeses estão entre os utilizadores e essas nacionalidades também se refletem na diversidade de cultivo dos alimentos.
Quando apresentou o projeto de candidatura à coordenação das hortas, Bruno Milhanas propôs a abertura do espaço aos jardins de infância e aos utentes dos lares de idosos.
Estão também a preparar um protocolo com o Colégio Rainha D. Leonor, situado em frente às hortas, para atribuir um talhão ao jardim de infância. É ainda objetivo do atual coordenador a possibilidade de estabelecer intercâmbios com hortas de outras cidades.
No próximo dia 31 vão fazer um piquenique nas hortas, apoiado pelo município, para o qual já têm cerca de 80 pessoas inscritas. Este convívio é feito normalmente por altura do aniversário, em junho, mas este ano foi adiado devido às eleições. ■