Homenagem ao pai do teatro, que representou auto nas Caldas, perante a Rainha, em 1504
Abriu ao público, a 9 de outubro, no Museu do Hospital e das Caldas, a exposição “Hum Gil – Desenhos de José Carlos Faria para o Teatro de Gil Vicente” e que contou com casa cheia. O pretexto para a realização desta mostra é o facto de que passam 520 anos da representação do “Auto de S. Martinho” e ainda os 500 anos da representação da Farsa de Inês Pereira. A 17 de novembro do próximo ano assinalam-se também os 500 anos da morte da Rainha D. Leonor. “Para nós, Gil Vicente é um autor fundamental e é o mais importante da Europa no seu tempo”, disse José Carlos Faria, do Teatro da Rainha, grupo que faz uma revisitação continuada da obra vicentina. E é este ator e cenógrafo que é o responsável pelos figurinos e dispositivos cénicos que têm subido ao palco ao longo de vários anos. Como tal, esta mostra revela um percurso que “tem a mesma idade que o próprio Teatro da Rainha”, a companhia residente das Caldas.
Da mostra fazem parte vários desenhos para figurinos, estudos para cenografias, dispositivos cénicos, ilustrações e outros documentos de trabalho referentes aos diferentes autos vicentinos que o grupo caldense foi representando ao longo da sua carreira.
Em relação ao “Auto de S. Martinho” está presente o desenho do Pobre, assim como o próprio cavalo de S. Martinho que está colocado no centro do espaço expositivo. Podem igualmente ser vistos desenhos para os figurinos das várias personagens da peça “Quem tem Farelos?” e que data de 1505.
Há ainda registos da cenografia e de estudos para os figurinos dos marinheiros do “Auto da Índia”. Presentes estão detalhes relacionados com a representação do “Auto das Fadas”, da “Farsa dos Físicos” , do “Auto Pastoril Português” ou da “Farsa de Inês Pereira”.
José Carlos Faria revelou-se “feliz” por esta mostra poder ser apresentada no Museu do Hospital, nas proximidades da Igreja do Pópulo onde foi estreado o Auto de Gil Vicente, em 1504, perante a Rainha D. Leonor, mecenas das artes e apoiante do desenvolvimento cultural.
Dora Mendes, responsável do Museu, recordou que a Rainha mandava colocar livros religiosos e romances cavaleirescos nas mesas de cabeceira dos doentes – para que lessem ou lhes fossem lidos – enquanto decorria o processo de cura no Hospital Termal. “É uma honra poder celebrar Gil Vicente e a ação mecenática da Rainha”, referiu a responsável.
Ambos recordaram que o “Auto de S. Martinho” foi representado durante a Procissão do Corpo de Deus, em 1504. A própria Rainha encomendou este auto a Gil Vicente que inclusivamente refere que a peça teatral é breve “porque não houve tempo para mais”,
A exposição “Hum Gil” vai estar patente no Museu do Hospital e das Caldas até ao final de outubro, e pode ser visitada de terça-feira a sábado, entre as 10h00 e as 16h00. ■