O escritor-compositor do Oeste que arrecada prémios literários

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João Pedro Oliveira é filho e neto de caldenses mas sempre viveu em Alcobaça | DR

Foi com “Igualdo” que João Pedro Oliveira ganhou a 2ª edição do “Prémio Literário Albertino dos Santos Matias: melhor conto 2020”, concurso promovido pela Fundação Lapa do Lobo, que fica em Nelas (Covilhã). O texto vencedor dedica-se ao mito do “homem duplicado”. João Pedro Oliveira nasceu nas Caldas em 1989, mas sempre viveu em Alcobaça, até aos 18 anos.
“Nunca vivi nas Caldas, mas o meu pai é caldense e vinha muito à cidade durante a infância para ver os meus avós”, disse o autor à Gazeta das Caldas, explicando que sempre quis ser escritor e é com frequência que envia os seus textos para concursos literários.

João Pedro Oliveira é filho e neto de caldenses mas sempre viveu em Alcobaça | DR

Além do prémio da Fundação Lapa do Lobo, já este ano o alcobacense também foi distinguido com o prémio literário Dr. João Isabel, que é promovido pela Câmara Municipal de Manteigas. Mais uma vez destacou-se na área do conto, intitulado “Uma Folha em Branco”. Em 2019, o alcobacense recebeu uma menção honrosa no 4º prémio da UCCLA (União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa), tendo então participado na colectânea de contos “Alexandria”. O autor tem também participado noutras antologias, editadas em Portugal e no Brasil.
João Pedro Oliveira estudou Cinema no Instituto Politécnico de Lisboa e Línguas, Literaturas e Culturas pela Universidade de Lisboa. Depois tirou mestrado em Linguística pela Universidade de Lisboa, onde fez uma tese sobre humor e literatura em crioulo de Macau.

APRENDER LÍNGUAS NOS PAÍSES DE ORIGEM

Agora João Pedro Oliveira encontra-se a tirar doutoramento em Estudos de Cultura na Universidade Católica de Lisboa, onde irá “estudar a tradição dos épicos indianos, o Ramayaa e o Mahabharata”, acrescentou o autor que se interessa por estudar línguas estrangeiras e sempre que possível, no país de origem. “Estudei Hindi na Índia durante um ano e fiz cursos curtos de Persa no Irão e de Russo na Rússia”, contou o alcobacense que há dois anos que frequenta aulas de Arménio Oriental e de Turco. O seu objectivo não é ser 100% fluente a todas, “mas ter um conhecimento pelo menos intermediário que me permita viajar, comunicar e ter uma noção da diversidade de experiência humana”.
Neste momento, tem um projecto de investigação com o professor Luís Filipe Thomaz, fundador do antigo curso de Estudos Orientais da Universidade Católica de Lisboa e está a redigir um glossário de termos comuns, topónimos e antropónimos asiáticos utilizados em documentos históricos portugueses. Trabalha também como professor de português na embaixada da Indonésia.
Como se interessa por história antiga e tradições colectivas, muitas vezes toma textos antigos como obras de referência, sejam os épicos indianos, os textos da Bíblia, os épicos gregos, os quatro romances clássicos chineses, poesia haiku japonesa, ou as Mil e uma Noites.
Por causa do seu trabalho aprecia os textos dos Descobrimentos portugueses, tais como Fernão Mendes Pinto ou Tomé Pires.
Também aprecia autores do modernismo e dos inícios do século XX na Europa e como tal refere James Joyce em inglês, Thomas Mann em alemão, Marcel Proust em francês. Referiu também Gabriel Garcia Marquez em espanhol, Dostoievski em russo e o Italo Calvino em italiano.

Em Portugal, José Saramago é a principal referência. Entre os autores da nova geração, aprecia Afonso Cruz “pelo seu gosto por diferentes artes e por viagens e culturas estrangeiras”. Há outro autor com que se identifica: Gonçalo M. Tavares, que é, na sua opinião, “mais inovador e intrigante”.
Além da escrita, João Pedro Oliveira interessa-se igualmente por artes plásticas e música. Gosta de “escrever letras, compor, tocar e cantar” e, no futuro, gostaria de compor e escrever para outros intérpretes. Aprecia as músicas tradicionais do mundo enquanto que em língua portuguesa, nomeia Fausto Bordalo Dias, Chico Buarque e Cesária Évora.
Ultimamente, no pouco tempo livre que lhe resta, o alcobacense tem recolhido, arranjado, traduzido e praticado um conjunto de músicas de vários países do mundo, tendo em mente uma espécie de concerto-aula onde faz uma viagem musical pelo mundo e explica detalhes interessantes sobre os artistas e culturas e línguas dos países de onde advêm. “Espero um dia poder apresentar esse projecto ao público”, contou o autor que vai continuar a dedicar-se às línguas, à escrita e à música. João Paulo Oliveira possui várias obras em gaveta que gostaria de editar: colectâneas de contos ou micro-contos, um romance, uma peça de teatro, um livro infantil ilustrado e um livro de cartoons humorísticos, ambos desenhados pelo próprio autor.