O fim-de-semana em que Óbidos se rende às artes de rua

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Gazeta das Caldas
O palhaço, equilibrista e manipulador de objectos Daniel Gonçalves actuou na praça de Santa Maria

Ilusionistas, acrobatas, palhaços, comediantes, malabaristas, músicos e bailarinos arrancaram gargalhadas e fortes aplausos às centenas de pessoas, na sua esmagadora maioria famílias, que assistiram aos espectáculos do Óbidos Buskers Festival. O evento, que decorreu este fim-de-semana na vila, pretendeu nesta terceira edição mostrar como, através do bom humor e da arte, se podem passar mensagens importantes, algumas relacionadas com a crise dos migrantes ou os problemas do envelhecimento.

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O artista português Rui Macedo levou muita gente ao miradouro do jogo da Bola

Um pequeno palco móvel esperava os espectadores que, à hora marcada, iam chegando à praça de Santa Maria para ver “Kumulunimbu”, da companhia catalã Ortiga. A peça retrata uma história de amizade entre uma rapariga e uma nuvem, fala sobre bravura, injustiça, migrações e a permanente esperança da protagonista. O espectáculo, que cativou o público de Óbidos, mistura as marionetas e o humor dos actores, que interagiram (e até molharam) os pequenos espectadores que preenchiam as primeiras filas.
Momentos antes, no Miradouro do Jogo da Bola, junto à cerca do castelo, a artista alemã Jolanda Löllmann, da companhia DirtzTheatre, convidava o público a “vivenciar” com ela as diferentes percepções do corpo ao envelhecer. A temática foi tratada através da dança e das máscaras que a própria artista constrói.
As migrações e o envelhecimento foram dois dos temas tratados pelos artistas que participaram no festival.
Francesco Cerutti, director artístico do festival, explicou à Gazeta das Caldas que este ano a organização apostou em marionetas e máscaras. “Além do espectáculo em si, pretendemos também mostrar a força dos artistas de rua que podem levar mensagens fortes a todos os lugares com facilidade e bom humor”, disse o artista italiano, que reside actualmente na Usseira.

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A companhia catalã Ortiga apresentou um espectáculo sobre a temática das migrações

Por diversos espaços públicos, como a Porta da Vila, os miradouros do Jogo da Bola e da Pousada do Castelo, e a Praça de Santa Maria, passaram também músicos, como o multi-instrumentista Rodrik e o guitarrista Rodolfo Embaló, assim como o palhaço, equilibrista e manipulador de objectos Daniel Gonçalves. O também português Rui Macedo, que reside há seis anos na Catalunha, apresentou-se como El Gran Mago Baldiri.

O divertido espectáculo fala de um solitário alfaiate que tenta realizar o sonho de ser um grande mágico.
Ao final da tarde de sábado o DJ Gabi Von Dub animou o “sunset Espaço Ó”. De acordo com Francesco Cerutti, na próxima edição pretendem introduzir mais música e ritmos nos espectáculos durante os dois dias e permitir mais convívios ao final da tarde.
O responsável considera que Óbidos é um bom local para receber o festival, desde logo pelo cenário natural que oferece para os espectáculos, mas também porque recebe muita gente ao longo do ano. “É sempre bom dar um input descentralizado das grandes cidades, mostrar que também nas vilas mais pequenas há muita actividade”, diz Francesco Cerutti.
A organização começou de maneira informal há três anos e agora constituiu-se como associação – Associação Cultural Improvise & Organize – com vários elementos que trabalham por todo o país. Este Verão também realizaram festivais em Aveiro, Águeda, Porto. Também promovem residências artistas e deram formação.
Francesco Cerutti, que foi o criador deste festival, destaca que Portugal está no bom caminho no que respeita às artes de rua, com um interesse maior por parte das pessoas e do próprio Estado, que abriu uma linha de financiamento para as artes de rua e circo contemporâneo. Também abriram duas escolas de circo contemporâneo no Norte do país e nos últimos três anos surgiram vários festivais e actividades ligadas a estas manifestações artísticas em espaço público.