“República a Banhos” recria como era hospital termal há cem anos

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O Museu do Hospital e das Caldas acolhe, até 16 de Janeiro, a exposição “República a Banhos” , integrada nas Comemorações do Centenário da República. Esta é a oportunidade para conhecer como seriam algumas das áreas do Hospital há um século atrás já que foi recriado no espaço de exposições temporárias o gabinete do director, uma enfermaria, a zona de portaria/secretaria e uma área de lazer para os aquistas.
Foi também publicado o livro “República a Banhos – O Hospital termal e a I República” que dá a conhecer melhor como se deu a passagem da monarquia para a Republica e que consequências teve naquela instituição.

Na exposição pode visitar-se o gabinete do director do hospital. Era Augusto Cybron que dirigia os destinos do Hospital, desde 1903

“Em vez de uma exposição convencional quisemos inovar algo e decidimos recriar um pouco do quotidiano do Hospital há cem anos atrás”, palavras de Dora Mendes, técnica do Museu do Hospital e das Caldas, enquanto fazia a visita guiada pelo espaço de exposições temporárias, agora “transformado” no Hospital Termal de há 100 anos.
“Não quisemos apresentar apenas documentos, decidimos recriar o ambiente de como seria o hospital na época”, prosseguiu a responsável, dando a conhecer os diferentes núcleos que compõe a mostra. Estes são o gabinete do director do Hospital Termal, uma das enfermarias (Sta. Maria), uma zona de secretaria e portaria e outra de lazer e convívio para os aquistas, onde não falta um piano e  os jornais da época que podem ser consultados. Não faltam também os móveis, mobiliários e objectos da época, que fazem parte da colecção daquele espaço museológico.
Há vários pormenores curiosos para conhecer in loco como os bilhetes que eram usados para os banhos que eram similares aos usados nos comboios e tinham que ser igualmente validados.
Pouco tempo depois de ter sido implantada a República,  o Hospital Real das Caldas  passa a designar-se apenas Hospital das Caldas da Rainha D. Leonor, num homenagem à sua fundadora. Nesta altura foram também destruídas as armas reais que havia nos edifícios que fazem parte do conjunto hospitalar e também foram picadas as coroas que encimavam o cunhal do Paço e as que estavam no portão das cavalariças.
“No quotidiano do hospital notámos que não houve grandes alterações causadas pela implantação da República, os problemas continuaram e já então o hospital se debatia com falta de fundos”, disse Dora Mendes.

A crise das finanças do Hospital também no início do século

Segundo texto de Hugo Araújo,  “Da Corte à República” que integra a publicação “Republica a Banhos – O Hospital termal e a I República” “o facto das conta da instituição, consideradas um encargo para o Estado não gozarem da melhor saúde, favorecia as discussões em torno de algumas ideias como a do arrendamento dos Pavilhões e da exploração do Casino  por particulares, coisa que já vinham sendo discutida desde bem antes de 1910”.
Este autor ainda defende que a então vila, agora com a República perdeu “a firme relação que mantinha com a Coroa e o papel de sala de visitas que desempenhara com os diferentes monarcas, especialmente nos últimos reinados”.
O 5 de Outubro nas Caldas foi um marco simbólico da mudança que “levou a Corte a desaparecer das Caldas e lhe trouxe a então jovem República”. Este então novo regime fez-se sentir ao nível politico e sobretudo em questões burocrática, e menos no quotidiano do cidadão comum.
Augusto Cymbron era o então director do Hospital (desde 1903) e envolveu-se nalgumas polémicas visto que pertencia a um dos movimentos republicanos então formados na cidade. Antes da instauração da República, este responsável organizou uma grande recepção ao Rei D. Manuel II  nas Caldas mas logo a seguir à queda da monarquia, o mesmo apressou-se a  dar apoio ao novo governo, distanciando-se do ex-regime.
Augusto Cymbron acabou por ser exonerado do cargo em 1913 mas o médico açoriano acabaria por ser reconduzido como director do Hospital Rainha D. Leonor  em 1914 e a permanecer no  cargo durante uma década.
Em Setembro de 1911 foi publicado em diário de governo da Republica um relatório de melhorias para o Hospital Termal, tema já então pertinente pois questionava-se como gerir todo o património a cargo do hospital que então  necessitava de sustentabilidade financeira pois já iam bem longe os tempos em que o hospital recebia os foros e as rendas do tempo da rainha fundadora, D. Leonor.
As dificuldades financeiras eram tema e a árdua tarefa da gestão patrimonial já se discutia há 100 anos.  Segundo texto de Tânia Jorge, também incluído em “República a Banhos – O Hospital Termal e a I República”,  “a observação do funcionamento do Hospital afirma que a exploração do balneário em 1910 representava cerca de metade da receita da instituição  e que o parque e o Club não representavam  tanto como se fazia crer “.
A comissão, autora do relatório, defendia por isso “o valor  do estabelecimento termal assentava na qualidade das suas águas termais e não no brilho das suas diversões, o Hospital pode e deve ser sem receio mais hospital do que Club”. Segundo a  investigadora, o relatório aponta como sugestão apostar na melhoria das instalações do balneário e para a  criação de comodidades e assistência clínica de forma a disponibilizar todos os meios de cura.
“República a Banhos”  inclui um programa de visitas guiadas para as escolas com o objectivo de dar a conhecer um  pouco do hospital termal de há um século atrás. As marcações para as actividades educativas podem ser efectuadas por tel. 262 830 300 ou através do e-mail mushospcaldas@sapo.pt

Natacha Narciso
nnarciso@gazetadascaldas.pt