O segundo concerto do Caldas Nice Jazz fora do grande auditório do CCC decorreu mesmo ali ao lado, no palco do café concerto do centro cultural, no dia 8 de Outubro. Directamente do Porto vieram os The Rite of Trio – André Silva, Filipe Louro e Pedro Alves – para apresentar o jambacore, um “género musical” que, pelo menos por enquanto, só a eles pertence.
Sábado à noite e todas as mesas do café concerto do CCC estão ocupadas. A guitarra, o contrabaixo e a bateria em cima do palco denunciam que dentro de breves instantes haverá música ao vivo.
“Serious Business” é o tema que faz as primeiras apresentações entre os The Rite of Trio e o público. [Curiosamente, esta foi também a música que marcou o início da banda, quando André Silva a compôs e apresentou aos amigos Pedro Alves e Filipe Louro. Estava lançada a primeira pedra desta aventura.]
Estranheza é a sensação inicial após ouvir “Serious Business” e a constatação que surge imediatamente a seguir é que os três jovens portuenses tocam um jazz que nada tem que ver com o tradicional.
Então, que género é este? “Jambacore”, respondem os músicos. Mas nós ficamos na mesma. Jambacore?
O dicionário define “jamba” como “cada uma das peças laterais das portas e janelas aparelhadas em torno de colunas”, mas para os The Rite of Trio, “jamba” não significa nada em específico. É apenas uma palavra utilizada entre os três amigos para classificar algumas das suas atitudes e que num sentido mais lato já faz parte do universo da banda. Por outro lado, “core”, musicalmente falando, traduz uma postura mais intensa e agressiva: basta pensarmos nos estilos hardcore ou metalcore.
“Nós também temos essa atitude dentro do jazz”, realçam os The Rite of Trio, acrescentando que “era engraçado que o jambacore, um termo completamente inventado, se começasse a massificar e, às tantas, passasse a ser assumido como um verdadeiro género musical”.
Sobre a estranheza associada às suas músicas – e em geral ao álbum “Getting All The Evil Of The Piston Collar!” (2015) – os jovens acreditam que essa estranheza “acaba por soar bem e tocar as pessoas. Como aconteceu com uma senhora, que no final deste concerto se levantou para aplaudir e nos disse que se arrepiou”.
É que, explica o baterista Pedro Alves, os The Rite Of Trio não são diferentes de forma gratuita, “apenas porque sim”. Por detrás da complexidade da música – que aparentemente até pode ser inacessível – sobra “algo mais profundo”: um lado emocional que é universal e humano. “É precisamente com essa energia que o público se conecta”.
Para o guitarrista André Silva, o segredo da banda reside precisamente no facto da mensagem transmitida ser única e coesa. Como se os The Rite of Trio se assemelhassem a uma figura geométrica completamente estranha, mas simultaneamente muito bem polida.
“NÃO TEMOS NENHUMA FÓRMULA”
Após quatro anos juntos, os três músicos e antigos alunos de Jazz da ESMAE (Escola Superior de Música, Artes e Espectáculos do Porto), dizem convictos que continuam sem saber exactamente que música querem fazer. Mas que, ao mesmo tempo, sabem perfeitamente o estilo que querem pôr de lado, descrevendo-o como o jazz associado ao romantismo da lareira.
“Se virmos as primeiras gravações de ensaios, nada têm que ver com actualidade. Fomos deixando que o processo de errar nos dissesse o que não queríamos fazer”, afirma o contrabaixista Filipe Louro. Pedro Alves assina por baixo, realçando que os The Rite of Trio nunca se vão agarrar a uma fórmula, pois se assim fosse não existia evolução nem factor surpresa. “Nunca saírimos do mesmo sítio”, acrescenta.
A preparar o próximo álbum, a banda pretende continuar a explorar o universo rítmico na tentativa de chegar a novos sons. O que, aliás, já faz parte da sua personalidade. Por exemplo, Pedro Alves utiliza instrumentos improvisados como uma caneca de metal, chapas, uma garrafa de iogurte com arroz, unhas de cabra e folhas de jornal para transmitir novas sonoridades. “No fundo são ‘brinquedos’ que fazem com que não fique apenas preso aos ritmos da bateria”.
Fim-de-semana (em) cheio de jazz
O concerto dos The Rite of Trio inseriu-se na iniciativa Jazz na Cidade. Um dia antes (7 de Outubro) Filipe Melo Trio e o vibrafonista Jordi Rossy inauguraram os concertos do Caldas Nice Jazz no grande auditório. No domingo foi a vez dos 21 jovens que participaram no workshop Big Jazz II subirem ao palco sob a coordenação do maestro Adelino Mota para apresentarem o trabalho realizado ao longo de quatro fins-de-semana.
Há mais jazz nos próximos dias, com Shiwa a actuar amanhã, às 21h30, no bar Cocos Beach Club (Foz do Arelho), e os B.A.S.S. Project a darem música aos Capristanos, no dia 18 de Outubro (18h00). O programa continua com Catarina Rodrigues Trio no restaurante Fruta da Casa (20 de Outubro, às 21h30), a Orquestra “Ligeiríssima” de Óbidos na Praça da Fruta (22 de Outubro, às 11h00) e Bossa & Outras Novas no hotel Sana Silver Coast (23 de Outubro, às16h00). Todos estes concertos têm entrada gratuita.
Mais jazz além do festival
À parte do Caldas Nice Jazz, o projecto “Mais Jazz Café” organiza no próximo domingo (como já vem sendo hábito) um concerto no Hotel Sana entre as 16h00 e as 19h00.
Os músicos Sylvia Nazário e Cláudio Kumar são os convidados desta edição, que conta ainda com Lucas Wiessing no saxofone e Dirk van Eck na percussão. Simultaneamente ao espectáculo será apresentada uma exposição da artista Alcida Morais.