Foi um sucesso a iniciativa de uma escola de Torres Vedras em organizar uma viagem cultural de comboio entre aquela cidade e as Caldas da Rainha. No passado dia 5 de Maio foram cerca de 500 pessoas que desembarcaram nas Caldas, após uma viagem em que ouviram histórias e poesia sobre carris. Nas Caldas ficaram a conhecer uma cidade desconhecida para a maioria.
Tudo começou às 10h00 na estação de Torres com a inauguração de “Ler nas Entrelinhas”, uma exposição de fotografia associada ao Plano Nacional de Leitura. Às 11h46 partiu o comboio para as Caldas numa viagem que durou 33 minutos. À chegada era grande a azáfama na estação para organizar os 489 viajantes, entre jovens estudantes e adultos. Durante a viagem contaram-se histórias e leram-se poesias, ofereceram-se livros e realizaram-se diários gráficos, fotografias e reportagens. A viagem foi animada por músicos da Escola de Jazz de Torres Vedras e dos grupos Rimbombar e Som da Malta.
Ao longo do percurso foram também entoadas canções populares pelo Clube Sénior de Dois Portos e de Sobreiro Curvo.
Já na estação caldense foi inaugurada a segunda edição da exposição do concurso de fotografia “Ando a Ler – Ler nas Entrelinhas” e ouviram-se os discursos dos vereadores da Educação e da Cultura das Caldas da Rainha e de Torres Vedras, respectivamente. Também usaram da palavra os representantes da ministra da Educação, do Plano Nacional da Leitura, da CP e da Refer. A presidente do PH, Isabel Xavier, deu a conhecer à comitiva a importância que o comboio teve no desenvolvimento da então vila das Caldas desde os finais do séc. XIX.
O almoço-convivio decorreu no Parque D. Carlos I e foram efectuadas visitas ao património da cidade.
Por fim, pelas 17h40, o Comboio de Leituras, regressou a Torres Vedras. Em rigor, não se tratou de uma comboio especial, tendo a ida e a volta decorrido em composições do horário normal, apenas reforçadas no número de carruagens para fazer face a este inusitado número de passageiros.
“Esta iniciativa deu um acréscimo de confiança à capacidade de organização das escolas e dos jovens”, disse Noémia Santos, a professora de Torres Vedras que teve a ideia de organizar a viagem, tendo referido que para alguns alunos esta foi a primeira vez que andaram de comboio. A docente disse que as Caldas “foi uma surpresa” para muito jovens e adultos participantes “que não conheciam os espaços e a história da localidade”.
CP e Refer disponíveis para mais iniciativas
Noémia Santos disse ainda que, na sequência desta iniciativa, a Refer comprometeu-se “em dar um novo arranjo à estação de Torres Vedras que está mesmo a precisar de uma intervenção”. Por outro lado, tanto a CP como a Refer mostraram-se disponíveis para realizar mais iniciativas deste tipo.
“Há interesse em que esta ligação entre as duas cidades não se perca”, comentou a organizadora. Esta viagem cultural veio ainda provar que mesmo em momentos de crise, “instituições e empresas podem unir-se para realizar iniciativas”, rematou.
Para Maria João Veiga, autora do livro “24 – Hora a Hora”, a iniciativa não poderia ter corrido melhor. “O que mais gostei foi da viagem de comboio e da possibilidade de confraternizar com pessoas que, como eu, lêem, escrevem e vivem nesta região”.
Sérgio Silva, Ana Milagres e Ana Pinheiro, com idades entre os 15 e os 17 anos, gostaram sobretudo de visitar o Museu de José Malhoa e acharam interessante uma viagem de comboio com propósitos culturais.
Por seu lado Catarina Luís, de 15 anos, achou muito divertido andar de barco no lago do Parque. Do Museu de José Malhoa apreciou a obra cerâmica em tamanho natural “A Paixão de Cristo”, de Bordalo Pinheiro. Todos gostariam de repetir a experiência.
“Linha do Oeste tem de ser refundada”
A Linha do Oeste tem que ser toda repensada, não basta uma actualização, tem que ser refundada, caso contrário, não vale a pena investir um euro que seja”. Palavras de Carlos Miguel, presidente da Câmara de Torres Vedras – que estava nas Caldas naquele dia a participar numa reunião na OesteCim – e que preferiu regressar a casa de comboio, acompanhando a comitiva cultural.
Ao falar na “refundação” deste corredor ferroviário, o autarca defende que a linha do Oeste deveria passar a ter um novo troço entre a Malveira e Lisboa por forma a encurtar o caminho entre a região e a capital e a servir também a população de Loures.
Segundo Carlos Miguel, a linha do Oeste foi posta no Plano de Acção do Oeste “por iniciativa dos dois presidentes da Câmara de Torres Vedras e das Caldas”, acrescentando que os restantes autarcas oestinos “quase se alhearam desta questão que é fundamental para nós não só para as pessoas como para o transporte de mercadorias desta região”.
O autarca mostrou-se ainda satisfeito por, na última reunião com o ministro das Obras Públicas, António Mendonça, “termos percebido que o governante partilha desta opinião”.
Segundo o edil, a empresa de transporte rodoviário Barraqueiro de Torres Vedras “enviava autocarros de sete em sete minutos para Lisboa e agora mudou e há transporte rodoviário de cinco em cinco minutos, o que quer dizer que há uma forte clientela”. Na sua opinião, se a CP tivesse um serviço idêntico “era óbvio que as pessoas poderiam aderir”. Como só existe um comboio de manhã, à hora de ponta, para Lisboa, “é óbvio que ninguém se ajusta a tal”.
No seu discurso de boas-vindas, o vereador da Educação, Tinta Ferreira também se referiu à importância da revitalização da linha do Oeste, tendo afirmado que “há mais de 300 pessoas nas Caldas que viajam diariamente para Lisboa de autocarro e ainda falta contabilizar aquelas que vão todos os dias na sua viatura própria”. A maioria destas pessoas escolheria certamente o comboio se houvesse horários compatíveis. O autarca tem a certeza de que se a oferta fosse de qualidade, o comboio captaria as preferências pois é um meio de transporte “mais tranquilo, ecológico e que permitiria às pessoas fazer a sua vida de uma forma mais eficaz”.