Ambos superaram as provas cegas, as batalhas e o tira-teimas, os três grandes desafios antes das galas em directo. Jéssica Cipriano conseguiu chegar até à semi-final do concurso televisivo da RTP, que decorreu no passado domingo, dia 20 de Julho, enquanto João Parreira (Jay C) se despediu há duas semanas atrás, no dia 6 de Julho. Os dois concorrentes são unânimes ao afirmar que o The Voice é o único programa de talentos em Portugal que respeita verdadeiramente a personalidade dos participantes, evitando criar uma “falsa imagem”.
Jéssica Cipriano: “Adoro o barulho do público”
Tem 21 anos e é natural de Lisboa, mas já se considera caldense, embora viva apenas há três anos nas Caldas da Rainha. Foi em pequena que Jéssica se apaixonou pela cidade quando vinha visitar os seus avós e brincar com alguns amigos, que hoje afirma serem dos que mais a apoiam.
Jéssica (ou Jessie para os amigos), não tem memória de quando começou a cantar, mas recorda-se que foi aos 14 anos que, pela primeira vez, revelou a sua voz a um público, num karaoke. A jovem contou à Gazeta das Caldas como “estava cheia de medo, muito nervosa, mas que depois de cantar essa vez não quis outra coisa”.
Actualmente, Jéssica Cipriano pertence a uma banda e dois acústicos, identificando-se muito com o género pop rock. Dentro deste estilo, a sua grande inspiração é a cantora irreverente e mundialmente reconhecida Pink. “A minha referência é sem dúvida a Pink, ela é todo o meu mundo. Tal como ela, sonho em cantar em todo o lado, para toda a gente, mas sem ser vista como uma diva. Não quero ser aquele tipo de cantora que só quer ser bonita e sensual, mas principalmente que conquista as pessoas pela música que faz”, acrescentou Jéssica.
Quando terminou o ensino secundário, optou por estudar teatro na ESAD, admitindo, no entanto, que deveria ter envergado pela área das ciências, em particular Biologia, por sempre se ter identificado com a disciplina. Arrependimentos à parte, Jéssica reconhece que o teatro, por se tratar de uma arte performativa, a ajudou bastante na postura e atitude em palco, pois antes “parecia um robot e não tinha presença”. Mas não é no teatro nem na Biologia que a caldense vê o seu futuro. “A única coisa que sei fazer na vida é cantar, não tenho jeito para mais nada. Às vezes sentimos que nascemos para ter uma certa vocação e a minha é a música… Se não fizer isto não estou feliz!”, contou.
No The Voice Portugal teve um percurso atribulado. Nas provas cegas, quando interpretava “Girl on Fire”, de Alicia Keys, virou-se apenas uma cadeira nos últimos minutos, a do mentor Anselmo Ralph. Neste momento, Jéssica temeu que o cenário de há três anos se voltasse a repetir, quando não conseguiu passar esta fase na Voz de Portugal 2011.
Mais tarde, nas batalhas em que competia com a participante Leonor Andrade, valeu-lhe o mentor Mickael Carreira, que carregou no botão vermelho e assegurou a sua continuidade no concurso. Apesar de o tira-teimas ter decorrido sem grandes sobressaltos, nas galas, Jéssica Cipriano nunca conseguiu passagem directa através da votação do público. E embora Mickael Carreira a tenha salvo por duas vezes, permitindo que chegasse até à meia-final do concurso, este domingo a percentagem do mentor, juntamente com a do público, não foram suficientes para levar a jovem até à grande final. Nas suas últimas palavras, acompanhadas de algumas lágrimas “de alegria”, Jéssica confessou que não poderia estar mais tranquila na sua despedida, não só por tudo o que o experienciou no The Voice, mas também por todas as amizades que leva consigo.
João Parreira: “A música é o meu ar, é o meu oxigénio”
João Parreira, de nome artístico Jay C, pertence há seis anos à banda caldense de baile Bico d’Obra e decidiu inscrever-se no The Voice Portugal 2014 depois de vários anos de jejum em concursos. A sua estreia em televisão deu-se bastante cedo, aos 10 anos, na RTP com “Os Principais”, seguindo-se os programas “Big Show Sic”, “Cantigas da Rua” e “Reis da Música Nacional”, entre outros.
“Ases do Tejo” foi o primeiro grupo musical ao qual pertenceu, entrando depois no mundo dos karaokes e na banda Splash, antes dos Bico d’Obra.
Como músico, defende que a versatilidade é a característica chave para se conseguir vencer no mundo da música em Portugal. “É preciso saber cantar um pouco de tudo e não ser esquisito”, explicou. Talvez por esta razão, o jovem de 29 anos tenha dificuldade em escolher apenas um género musical com o qual se identifique, destacando, no entanto, o R&B.
Acabou por abandonar a escola aos 17 anos para se dedicar exclusivamente à música e, desde então, tem conseguido viver apenas desta atividade, investindo no seu próprio material de karaoke e, mais recentemente, na montagem de um pequeno estúdio em casa, investimentos que saíram do seu próprio bolso e que são fruto de vários anos de trabalho. Por isso, além de cantor e DJ, João Parreira é também produtor, que tem como sonho o lançamento de um CD.
“Tenho temas originais gravados em estúdio, mas que ainda não lancei cá para fora porque acho que ainda não é o momento… Quero um álbum todo produzido por mim, desde a primeira batida até à última voz”, disse à Gazeta das Caldas.
Ao contrário de Jéssica, o percurso de Jay C no The Voice Portugal foi menos sofrido. No entanto, o concorrente acabou por abandonar o programa mais cedo. Na sua primeira gala, e em espanhol com o tema “Perdóname” – interpretado originalmente por Pablo Alborán com Carminho – João viu-se obrigado a dizer adeus ao concurso, já que o seu mentor Anselmo Ralph optou por salvar outra participante, Rita Seidi. Mas nem por isso o cantor pensa em baixar os braços, até porque a experiência no The Voice foi muito gratificante e uma verdadeira escola de música.
Jay C chama ainda atenção para o facto de que “ir a um concurso de televisão não chega para conseguir vingar no mundo da música… É preciso continuar a trabalhar diariamente por nós próprios…”.
Beatriz Raposo
mbraposo@gazetadascaldas.pt