
Prestes a iniciar a 10ª temporada no principal escalão, hoje a equipa caldense está consolidada nesse patamar, mas teve que fazer
todo um percurso para aí chegar desde que Júlio Reis lançou o projecto, em 1991. A equipa de 2008/09, em que brilhava um conjunto de atletas da região, foi determinante em todo o processo, com a primeira subida ao principal escalão que mobilizou a comunidade.
O Sporting Clube das Caldas disputa na temporada que se aproxima, pela décima vez consecutiva, o campeonato da 1ª Divisão nacional de voleibol. A subida foi alcançada na temporada 2010/11 e foi o culminar de uma longa caminhada, assente em equipas construídas muito à base de jogadores da região e tendo como timoneiro o técnico Júlio Reis, grande mentor de todo o projecto.
Se o derradeiro passo rumo à afirmação entre a elite do voleibol português se deu nessa temporada 2010/11, o primeiro grande momento neste trabalho de consolidação do voleibol do Sp. Caldas foi dado duas épocas antes, em 2008/9, com a primeira subida à 1ª Divisão nacional.
Numa modalidade fortemente centralizada no norte do país, acima do distrito de Aveiro, um pequeno clube, de uma pequena cidade do Oeste, teve que trabalhar como uma formiguinha o seu caminho ascendente.
Fora dessa grande área formadora, o Benfica, com a sua forte capacidade de investimento, e as equipas dos Açores, financiadas principalmente por apoios do governo regional, eram excepções.
Os parcos recursos à disposição do Sp. Caldas obrigavam a uma aposta fortemente sustentada na formação de atletas.
Foi assim que os caldenses foram subindo rumo ao topo, recrutando fora apenas o indispensável para garantir os resultados.
O clube chegava à temporada de 2008/9 em excelente posição para garantir a tão almejada subida. Uma equipa recheada de talentos locais. João Santos, Ricardo Riachos, Carlos Julião, Hugo Maria e Binho eram algumas das referências locais de uma equipa que teve uma caminhada triunfal. Além destes, jovens como Emanuel Silva, Pedro Antunes, Manuel Maria e Carlos Libório, que com idade de júnior se apresentava como uma promessa para o futuro do clube, completavam um plantel de forte componente local, o que tinha benefícios claros também no forma como a comunidade acompanhava, apoiava e empurrava a equipa da bancada.
Luís Godinho, distribuidor promissor, e o brasileiro Wander Coutinho eram os reforços externos de uma equipa muito forte e determinada, que fazia do pequeno pavilhão Raul Jardim Graça o seu castelo, onde era verdadeiramente imbatível.
O próprio pavilhão, construído para servir a escola básica da Encosta do Sol, era tido como uma “arma” forte dos caldenses. O tecto baixo e as menores dimensões do recinto de jogo jogavam a favor da equipa caldense.
Numa modalidade em que apenas uma equipa sobe à 1ª Divisão, mesmo após um registo feito de muitas vitórias e de um grande domínio durante a época regular, tudo acaba por se decidir numa final de um play-off no qual a força mental ganha grande importância.
Na final os caldenses tiveram pela frente a Académica de São Mamede, em encontros todos eles decididos a 3-2 para os caldenses, que demonstram que, além da qualidade, o conjunto caldense tinha também essa vontade inabalável de chegar à 1ª Divisão.
O impacto dessa conquista revelou-se pela recepção que a equipa teve na Câmara das Caldas, naquele 3 de Maio de 2009, e pelo cortejo a que teve direito pelas ruas da cidade.
Naquela primeira subida a equipa não conseguiu manter-se, acusando a obrigatoriedade de mudar de pavilhão e a diferença competitiva. Contudo, toda aquela experiência foi uma grande aprendizagem, da qual clube e equipa souberam beber para, no rescaldo dessa primeira tentativa, lançar uma nova ofensiva que levou à derradeira afirmação do voleibol do Sp. Caldas e das Caldas da Rainha no panorama do voleibol português.
Treinadores caldenses mostram que os santos da casa também fazem milagres
Diz o povo que “santos da casa não fazem milagres”, mas a sabedoria popular não se aplica aos treinadores que têm conduzido o Sporting das Caldas no seu percurso no voleibol sénior nacional.
Júlio Reis é um nome incontornável em todo o projecto da modalidade do clube leonino. Se é verdade que o técnico não é caldense de naturalidade, abraçou a cidade há 25 anos, quando veio exercer a sua profissão de professor de educação física.
Natural de Espinho, terra de grandes pergaminhos na modalidade, trouxe consigo a paixão e começou a trabalhá-la no início da década de 1990.
Os méritos de Júlio Reis no desenvolvimento do voleibol caldense vão além do que a vista alcança. Quando iniciou essa “tarefa”, o Sp. Caldas nem sequer tinha voleibol em actividade, apesar de já o ter tido no passado.
O trabalho de Júlio Reis começou, então, do zero. Na escola foi recrutrando jovens para a modalidade, lançando o projecto de formação que redundou no chegada de vários jovens às selecções nacionais e recheando o clube de talento.
Pelas mãos de Júlio Reis, a equipa cresceu, chegou às competições nacionais, subiu à primeira divisão e por aí se consolidou.
A temporada 2015/16, sob o comendo de Júlio Reis, a melhor do clube, com presença na Final Four da Taça de Portugal e e o segundo lugar na Taça FPV, equivalente ao quinto lugar. A ligação terminou no final da época 2016/17 e para o seu lugar a escolha foi Luís Binho, antigo atleta, que ficou um ano e levou a equipa a um sexto lugar que abriu as portas às compateições europeias.
O também caldense Frederico Casimiro assumiu o comando desde então e, apesar das dificuldades financeiras do clube, a nível desportivo os resultados continuaram a aparecer, com destaque para a presença em duas eliminatórias da Taça CEV em 2018/19.