Estreia do caldense na elite do futebol nacional ocorreu no Estádio D. Afonso Henriques, ao minuto 70’ e foi o cumprir de um sonho. Já esta semana foi aposta do treinador do Estoril para o onze titular no empate em casa, frente ao Gil Vicente
O jovem caldense Pedro Carvalho concretizou um sonho no dia 18 de agosto, no Estádio D. Afonso Henriques, em Guimarães, ao estrear-se na Primeira Liga de futebol. Aos 70’ do jogo entre o Vitória Sport Clube e o Estoril Praia, a perder por 1-0, o treinador dos canarinhos retirou Wagner Pina e Alejandro Marqués e lançou o caldense e André Lacximicant para o campo. Foram os primeiros minutos de Pedro Carvalho na elite do futebol nacional, sendo titular este fim de semana, em casa, frente ao Gil Vicente, cumprindo mais 68 minutos.
Mas se o momento da estreia na primeira liga foi o cumprir de um sonho, há muito trabalho e sacrifício nesta história. Há 14 anos, em 2010, o jovem caldense, então com apenas sete anos, jogava na Escola Academia Sporting do Nadadouro quando deu nas vistas e foi contratado pelo Sporting Clube de Portugal. Nessa fase continuava a morar nas Caldas e treinava três vezes por semana em Lisboa e uma na cidade termal, com os mais velhos do Caldas Sport Clube. Ao fim de semana ia jogar com os leões. Das Caldas diz que guarda “boas memórias”.
Em 2017 deixou de morar nas Caldas, tinha então 13 anos e dá-se a transição da Cidade Universitária para a Academia de Alcochete. A Pedro Carvalho foi oferecida a opção de ser residente na academia, mas como era muito novo e a família tinha a possibilidade de viver em Lisboa, optou por essa via. A base familiar, frisa, foi importante. De leão ao peito, Pedro Carvalho fez nove épocas, quase dez anos e muitos jogos. Partilhou o campo e o balneário com alguns dos craques da atualidade, mas acabou por decidir sair para o Belenenses com 16 anos. “Ao início custa a mudança, mas foi bom. Gostei muito de estar no Belenenses, as coisas correram bem e, olhando para trás, não mudava nada”, afirma. No Belenenses fez três anos de formação e, no primeiro ano de sénior, ficou na equipa A com quem treinava diariamente, mas era mais utilizado na equipa B, então na 3ª Divisão Distrital. “Era uma realidade muito diferente”, realça. Nessa equipa foi sempre opção e destacou-se com nove golos, várias assistências e boas exibições. Pela equipa A entrou em apenas dois jogos, mas no ano seguinte fez a pré-época e mostrou valor para integrar o plantel então na 2ª Liga. “Depois tive a minha oportunidade e agarrei-a”, diz. A oportunidade surgiu aos 82’ do jogo da quarta jornada, com o Tondela, em casa. Entrou e convenceu. Agarrou a titularidade e fez uma grande época, com 29 jogos, 3 golos e duas assistências. “As coisas correram muito bem a nível individual, apesar de coletivamente ter sido uma época que não foi conseguida”, analisa. O primeiro golo surgiu à sétima jornada, frente ao Marítimo. “Pela importância de ter sido o primeiro, no Estádio do Restelo, a maneira como foi, foi muito importante e não me vou esquecer: entrei do banco, perto do final do jogo e é um lance que não estava à espera, mas mostrou-me o que eu podia dar, as coisas despoletaram a partir daí, foi muito especial, apesar de termos perdido”, conta.
Depois, com o AVS SAD, voltou a marcar, empatando o jogo, mas a equipa acabou a sofrer nova derrota. À terceira, frente ao Lank, “teve mais importância no desfecho, porque tínhamos um jogador a menos e também entrei do banco”, recorda. Fez o golo do empate, evitando a derrota dos azuis, já depois dos 90’ e recebendo o prémio de homem do jogo (também frente ao Penafiel, em vitória em casa, foi o homem do jogo). A época não correu de feição aos azuis do Restelo, que acabaram por descer novamente à Liga 3, mas Pedro Carvalho chamou a atenção do Estoril Praia, que acabou por contratá-lo neste defeso, abrindo-lhe as portas da elite do futebol nacional.
Pedimos a este caldense que se descrevesse como jogador e Pedro lembra que fez a sua formação a médio centro. “Só comecei a jogar a lateral há cerca de um ano e meio e então tenho várias características ofensivas, chego muito à frente à zona de finalização”, esclarece. “Sou um jogador com uma boa condição física, consigo ir muitas vezes para a frente e voltar para trás, que também é uma característica quase obrigatória nos laterais dos dias de hoje” e “sou um jogador rápido e acho que tenho uma boa leitura de jogo também por ter feito a formação a médio”.
Entre os craques com quem jogou (e são já vários, como Carlos Forbs, Joelson Fernandes, ou, atualmente, Rafik Guitane, João Carvalho, Xeka e Hélder Costa) recorda, por exemplo, na formação, Renato Veiga, “um grande amigo a quem felizmente as coisas estão a correr bem, foi para o Chelsea este ano, ele é da minha geração”. Já no Belenenses encontrou jogadores com grande experiência, como Tiago Ilori e Zequinha e agora na defesa do Estoril tem como companheiro, entre outros, Eliaquim Mangala. “A experiência, nesta altura em que somos novos, marca-nos mais, pela forma como falam connosco”, frisa o jovem.
Crente nas suas qualidades e capacidade de trabalho, Pedro Carvalho está a desfrutar da oportunidade – para a qual tanto trabalhou – de viver o sonho de ser futebolista e de jogar na Primeira Liga de futebol, sempre de olhos postos em palcos maiores. ■
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