Luís Rodriguez, um caldense à procura de singrar no competitivo mundo da Fórmula 1

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Luís Rodriguez candidatou-se a um estágio na equipa que tem dominado a Fórmula 1 nos últimos quatro anos e está integrado na equipa de desenvolvimento dos novos motores para a época 2026
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Jovem de 26 anos, estudante de mestrado em Engenharia Eletrotécnica no Técnico, iniciou em agosto um estágio de um ano no departamento de desenvolvimento de motores da Red Bull Racing

Max Verstappen pode sagrar-se este fim de semana tetracampeão do mundo de Fórmula 1 ao serviço da Red Bull Racing e há um caldense em particular que pode vibrar especialmente com a conquista do piloto neerlandês. Luís Rodriguez, de 26 anos, está a realizar um estágio de um ano na sede da equipa austríaca, em Milton Keynes, Inglaterra, na unidade de motores.
Luís Rodriguez não está envolvido diretamente no desenvolvimento do carro deste ano, que pode dar a Max Verstappen, já este domingo em Las Vegas, o quarto título de campeão do mundo consecutivo, mas não deixa de ter um papel importante do seio da equipa de Fórmula 1 da célebre fabricante de bebidas energéticas.
Para quem não está tão familiarizado com a competição rainha do automobilismo mundial, em 2026 haverá um novo regulamento para as unidades motrizes e a Red Bull, que atualmente é cliente da Honda, decidiu criar a sua própria divisão de motores, a Red Bull Powertrains, em parceria com a Ford. A nova companhia tem como missão fornecer motores competitivos já para a temporada de 2026. Ou seja, dentro de pouco mais de um ano e dois meses, as equipas de desenvolvimento têm a missão de colocar nas pistas um motor capaz de ombrear com os maiores construtores mundiais de automóveis.
Foi por iniciativa própria que Luís Rodriguez decidiu tentar a sorte. Todos os anos, a Red Bull Racing abre vagas de estágio para diversas áreas, procura que aumentou com a criação desta nova unidade.
“Eu estou a um ano de acabar o mestrado no Instituto Superior Técnico, em Engenharia Eletrotécnica. Estive dois anos num projeto, lá no Técnico, que se chama Fórmula Student, no qual construímos um carro e competimos contra outras universidades do mundo inteiro. Gostei imenso e aprendi imenso”, conta o caldense à Gazeta das Caldas.
Essa experiência despertou-lhe a vontade de continuar esse trajeto a nível profissional. “Quando vi a possibilidade de fazer estágio na Red Bull Racing, foi algo que fez muito sentido para mim e candidatei-me”, acrescenta.
Estavam disponíveis vagas para várias posições. Para maximizar as chances, Luís Rodriguez candidatou-se para todas as que estavam relacionadas com a sua área de formação e de ação na equipa de Fórmula Student. As boas notícias chegaram: foi chamado para entrevista e acabou por ser um dos escolhidos para realizar um ano de estágio.

O jovem caldense integrou as equipas FTS11 e FTS12 do Técnico na Formula Student como chefe de departamento de eletrónica & software, no primeiro ano, e o de powertrains (unidades motrizes), no segundo

Motores totalmente novos
As unidades motrizes em que a equipa está a trabalhar têm várias alterações em relação às atuais, mas a principal é a disponibilização de maior potência a partir das baterias e motores elétricos. “Foi aumentada a potência para o dobro, o que significa que a parte elétrica será responsável por quase metade da potência do motor, pelo que há muito trabalho, a nível eletrónico, no desenvolvimento destas unidades de potência da Fórmula 1”.
Apesar de gostar desta parte de desenvolvimento – “se tiver oportunidade, gostava de trabalhar aí”, assume -, Luís Rodriguez está atualmente integrado na equipa de testes.
“A equipa de desenvolvimento determina que parâmetros pretende testar e nós tratamos de fazer com que o teste aconteça e que sejam gerados os dados pretendidos. A criação da célula de teste tem muita eletrotécnica, instrumentação e a parte mecânica. A minha equipa está ligada à instrumentação e à parte elétrica de gestão dessas células”, conta.
Ao fim de três meses em Milton Keynes, Luís Rodriguez está muito satisfeito com a experiência. “A fábrica é ótima, tem tudo, basicamente!”, exclama. O complexo é constituído por três edifícios principais. Além da Red Bull Powertrains, acolhe a Red Bull Technology, onde se desenvolve tudo o que está relacionado com o chassis dos carros, e há ainda outro edifício dedicado a marketing e operações.
“É muito giro, parece um campus universitário. Por vezes, temos que ir a um sítio ou outro, para uma reunião, ou porque é preciso ir buscar alguma coisa, então estamos sempre às voltas e, de repente, estamos na parte do desenvolvimento do chassis e vê-se passar a parte de uma asa, ou o chassis do carro”, conta.
Ver caras conhecidas também é habitual. “Logo no primeiro dia em que cheguei, tínhamos um encontro de boas-vindas. Estávamos todos à espera na receção e, de repente, estaciona mesmo à porta um carro e vemos o Christian Horner, CEO da Red Bull Racing. Ele saiu e disse: “olá, bom dia” e então percebi que aquilo estava mesmo a acontecer”, recorda. “Também é habitual cruzarmo-nos com engenheiros que estamos habituados a ver na televisão, no pitwall das corridas de F1, ou os mecânicos. Também já vi os pilotos, porque eles às vezes vão lá, para fazer simulador, ou porque têm ações de marketing”, acrescenta.
Mas estar naquele meio tem, sobretudo, uma grande responsabilidade. “Trabalhamos com instrumentos de alta qualidade, que temos que tratar sempre com muito cuidado, e a exigência é elevada”, refere.
Além disso, o trabalho que ali se faz tem muitas vezes um impacto que é rapidamente mensurável, porque se reflete diretamente no desempenho do carro na pista a cada 15 dias. “No nosso caso não é tanto assim, porque estamos a trabalhar para o carro de 2026, mas mesmo assim também é um bocadinho…”, pelo que há uma motivação extra. É que, se em janeiro de 2026, quando a unidade motriz casar com o chassis para ser ligado pela primeira vez e começar a rodar nos testes de pista, os motores não estiverem prontos e competitivos, “não vamos arranjar outro”. Então, a cada etapa, “quando o carro andar, quando acabar a temporada e talvez até mesmo quando ganhar, haverá um sentimento especial por fazer parte”, nota.

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Um sonho de criança
Luís Rodriguez vê Fórmula 1 desde criança e diz que esse mundo sempre o fascinou. “Sempre gostei muito da parte técnica, perceber como as pessoas faziam aquelas máquinas. Sempre tive vontade de poder entrar nesse mundo e tive esta sorte”, conta, pelo que, se tiver oportunidade, é nesta área que quer continuar, se possível diretamente ligado ao desenvolvimento dinâmico do carro.
Na Fórmula 1, nunca teve uma equipa preferida, até agora. “Eu sempre acompanhei muito o Fernando Alonso, como piloto, e ainda gosto muito dele. Nas últimas temporadas, se calhar já tinha um pouco mais de afinidade com o Max, porque veio mudar uma realidade em que o Lewis Hamilton estava sempre a ganhar. Agora sim, há um clubismo, claro pela Red Bull!”
No complexo de Milton Keynes, Luís Rodriguez diz que já conheceu vários portugueses, de vários pontos do país e diz que jovens que, como ele, alimentam o sonho de entrar no mundo da Fórmula 1, ou do desporto motorizado, devem apostar nisso. “Em Inglaterra há cursos feitos diretamente para chegar à Fórmula 1. Em Portugal não temos isso, mas temos boas oportunidades. Antes era um nicho, porque era algo muito focado só na dinâmica do carro, na mecânica. Agora é algo muito mais amplo, há muita coisa a acontecer no carro e são precisos muitos engenheiros que percebam de sistemas específicos, por isso, se é disto que gostam, acreditem”, conclui. ■

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