Poucos portugueses devem conhecer a expressão Urban Sketchers, que significa as pessoas cuja grande paixão é desenhar e que transportam essa paixão para o seu quotidiano e para a sua vida, desenhando especialmente aquilo que observam.
Óbidos e a iniciativa Latitudes – Literatura e Viajantes serviram para juntar um grupo de Urban Sketchers portugueses com alguns convidados catalães a fim de darem largas à sua imaginação e criatividade, fixando recantos e aspectos da vila histórica.
O lançamento desta realização mostra como é possível, de uma forma simples, criar uma nova oportunidade para captar criativos e, de forma indirecta, fazer a promoção da própria vila com os trabalhos dos visitantes.
Ou seja, cada Urban Sketcher transforma-se num promotor qualificado da paisagem, ou das vistas que desenha, valorizando-as e captando a atenção de novos visitantes.
Este foi um dos objectivos que Óbidos Cidade Criativa da Unesco atingiu de uma forma eficaz. Por isso estão de parabéns o livreiro José Pinho (uma das principais cabeça da Óbidos Vila Literária) e o caldense Nelson Paciência (presidente do Urban Sketchers Portugal) que por iniciativa própria se juntou ao Festival Latitudes, e que de forma genuína enriqueceu de sobremaneira o acontecimento.
Era uma vez uma empresa que prestava um serviço público universal, estava presente em praticamente todas as freguesias do país, empregava milhares de pessoas que tinham um contrato de trabalho estável e, com mais ou menos queixas, distribuía o correio aos portugueses, nas suas casas e nas empresas. Mais: era um empresa que dava lucros. E era do Estado.
Um governo de má memória, com horror a tudo o que fosse empresa pública, resolveu privatizá-la. O argumento fazia parte do catálogo de certezas desse governo: os privados gerem melhor do que o público e sem a protecção do Estado a empresa gerará mais riqueza.
Três anos depois os portugueses já viram a diferença. A empresa estará mais rentável e cria mais valor para os seus accionistas. Mas o Estado perdeu dividendos anuais e o serviço está à vista de todos que piorou.
Zé Povinho recorda-se que a distribuição do correio era diária, feita por carteiros ajuramentados em quem se podia confiar. Agora a distribuição não é diária (excepto nos segmentos em que a empresa se faz pagar mais caro) e só de vez em quando é que as cartas – distribuídas por tarefeiros contratados a prazo – aparecem na caixa do correio.
No caso da Gazeta das Caldas, aumentou desmesuradamente o número de reclamações de assinantes que não recebem o jornal atempadamente, enquanto as estruturas intermédias dos Correios se mostram incapazes de encontrar uma solução para isso.
A par disto, na estação de correios das Caldas, continua-se a perder horas para se poder ser atendido.
Mais: a privatização incluiu ainda o direito a criar um banco. Um banco ao qual os CTT se dedicam agora com muito amor e carinho, muito mais do que à sua missão de prestar um serviço público universal.
Por tudo isto, Zé Povinho não se admira que os carteiros das Caldas e de Óbidos estejam a fazer uma greve parcial até ao dia 16 de Maio. Eles queixam-se de falta de condições de trabalho e Zé Povinho acha que têm razão. Eles queixam-se de falta de pessoal e Zé Povinho acha que têm razão. Os assinantes da Gazeta queixam-se de atrasos na recepção do jornal e Zé Povinho tem a certeza que eles têm razão.
É pois altura de fazer um balanço e concluir – tristemente – que com a privatização ganharam uns quantos e perdeu a maioria.