Trump e as palhinhas

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Joana Louro - médica
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Confesso que já há algum tempo deixei de ver noticias na televisão. Adaptei-me a outro tipo de consumo informativo, que se ajusta mais ao que procuro e cansa-me menos a paciência. Mas, um destes dias, liguei a televisão em vez do spotify enquanto preparava o jantar. E sem me dar conta estou presa à noticia de mais uma ordem executiva (OE) da administração Trump. No último mês estas OE’s têm sido vomitadas a um ritmo frenético sempre sob os holofotes da imprensa. Passou apenas um mês, mas parece que passaram anos da presidência de Trump. A quantidade de imbecilidade, maldade e ignorância tem sido tanta que custa acreditar que estão mesmo a acontecer.
A noticia em causa era Trump a assinar a ordem para o regresso das palhinhas de plástico, inserida na sua politica de “Volta ao plástico”. Ou melhor era Trump a beber por uma palhinha de plástico, a falar como um energúmeno e a dizer uma enormidade de disparates. A minha alma estava parva. Estupefacta! Inacreditável! Nuno Markl traduziu em palavras o que me invadia a cabeça: “O planeta nas mãos de uma criança mimada e ignorante de 80 anos que fala como se fosse um tontinho”
Mas esta OE – muito televisiva por certo – só de rever este ser anormal a beber por uma palhinha – levou-me a outra, alguns dia antes, menos cinematográfica, que porventura pode não ter merecido o devido destaque. Refiro-me à decisão potencialmente catastrófica de retirar os EUA da Organização Mundial da Saúde (OMS). O verdadeiro impacto desta decisão ainda é desconhecido. Mas demonstra desde logo um profundo desprezo pela ciência, pelo conhecimento e pela saúde. Mais grave ainda, revela desprezo e falta de empatia pelos mais desfavorecidos, abandona a solidariedade entre os povos o poder da interajuda.
A OMS foi criada em 1948 com o propósito de “unir nações, parceiros e pessoas na promoção da saúde, manter o mundo seguro, e servir os mais vulneráveis”. É ao trabalho da OMS que se deve a erradicação da varíola, a única doença infeciosa até hoje erradicada do planeta e á (quase) eliminação da poliomielite. O trabalho contra a malária é outra das suas bandeiras. A OMS coordena a resposta internacional de emergência a epidemias como as de Ébola, Zika, mpox, cólera ou sarampo, apoia a implementação de sistemas de monitorização e tratamento de doenças como a tuberculose ou o VIH, e promove programas de vacinação infantil contra doenças como a difteria, tétano, tosse convulsa e sarampo. A verdade é que a decisão de Trump compromete toda a investigação científica americana na área da saúde, muita da qual depende de dados partilhados entre os Estados-membros da OMS. Neles se incluem, por exemplo, amostras de agentes infeciosos ou dados de sequenciação genética, necessários à criação ou atualização de medicamentos e vacinas.
Um verdadeiro líder saberia que a ciência promove a compreensão do mundo, mas também a união das pessoas. Não podemos esquecer nunca que a saúde é um bem social, um motor da economia e um caminho para o desenvolvimento. Cuidar não é um ato de fraqueza, mas de força. Mas isto Trump nunca irá perceber.

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