A Câmara das Caldas pediu ao caldense Nelson Oliveira, engenheiro civil com uma pós-graduação em Engenharia Ferroviária, um estudo de sustentabilidade da Linha do Oeste assente num aumento das ligações a Coimbra em detrimento da Figueira da Foz.
O relatório, orçado em três mil euros e que deverá ser entregue dentro de quatro semanas, será depois enviado ao secretário de Estado das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, Sérgio Monteiro, numa tentativa de alterar a vontade do governo em encerrar a linha do Oeste aos passageiros entre Caldas da Rainha e a Figueira da Foz.
“Estamos muito preocupados com o encerramento da Linha do Oeste, não só pelos prejuízos que traz para a população mas também aos circuitos turísticos, sobretudo de norte para sul”, disse o presidente da Câmara, Fernando Costa.
O autarca garante que esta iniciativa não pretende ser uma “fuga para a frente ou um aproveitamento” por parte da Câmara das Caldas, mas sim o entendimento de que o estudo terá que ser apresentado em menos de um mês para ter soluções até ao final do ano.
“Queremos dizer ao senhor secretário de Estado que a linha não deve fechar”, disse o presidente da Câmara, defendendo que é possível a CP fazer melhor sem gastar mais dinheiro, alterando os horários dos comboios.
Fernando Costa teve na passada sexta-feira uma reunião com o secretário de Estado dos Transportes, Sérgio Monteiro, ao qual referiu que a linha do Oeste deveria ter ligações directas a Coimbra, possibilitando assim acessos rápidos ao norte do país e a Espanha.
“Aceitamos alterações que envolvam diminuição de custos, mas é primordial manter a linha a funcionar com passageiros pois sua suspensão, ainda que temporária, será fatal”, considera o autarca que, em último caso, admite a concessão a privados.
Fernando Costa já abordou, inclusivamente, uma empresa privada que já trabalha no campo da ferrovia e que mostrou disponibilidade para estudar a hipótese, mas considera que deverá ser o governo a desenvolver os contactos com os privados.
Gazeta das Caldas apurou que tanto o grupo Barraqueiro (detentora da empresa Fertagus que explora os comboios suburbanos entre Lisboa e Setúbal pela ponte 25 de Abril), como o grupo francês Transdev (que tem a exploração do Metro do Porto) se mostraram interessados numa eventual concessão ferroviária da linha do Oeste.
“Percebo muito pouco e não tenho qualquer vontade de assumir um protagonismo em termos de comboios, mas entendo que a primeira solução é manter a linha do Oeste a funcionar sob administração da CP”, afirmou Fernando Costa, justificando que a colaboração da autarquia vai no sentido de apresentar propostas que sirvam melhor os passageiros porque é uma área onde “julgamos que a CP não tem estado bem”.
Distrital do PSD promove encontro em Leiria
A distrital de Leiria do PSD vai realizar na próxima terça-feira, 15 de Novembro, pelas 18h00, na NERLEI, em Leiria, um encontro com diversas entidades do distrito de Leiria e da região Oeste para debater a sustentabilidade da Linha do Oeste e apresentar propostas ao governo no sentido da sua continuidade.
De acordo com Fernando Costa, são convidados a participar as Câmaras, comunidades intermunicipais, partidos políticos, associações industriais e pólos de turismo.
O autarca justifica esta iniciativa da distrital social-democrata com o facto de ser esta, devido aos bons resultados eleitorais obtidos, a que tem “mais obrigações” e espera que todas as outras forças compareçam e se batam por soluções para a manutenção da linha férrea do Oeste.
Assunção Cristas não comenta
Gazeta das Caldas tentou obter um comentário da ministra do Ambiente, Assunção Cristas, sobre o encerramento da Linha do Oeste ao transporte de passageiros, mas esta mostrou-se indisponível para responder (perdendo assim a oportunidade de explicar porque motivo assinou uma petição em defesa daquela infra-estrutura e agora aceita o seu encerramento).
Na conversa que teve com os jornalistas, após a apresentação da primeira fase das dragagens na Lagoa de Óbidos, que decorreu na Foz do Arelho no passado dia 8 de Novembro, a governante disse que só responderia a perguntas sobre a Lagoa.
Assunção Cristas também não respondeu às questões colocadas por uma jornalista sobre a demissão dos gestores da Companhia das Lezírias, que tinha ocorrido nessa mesma manhã.
Bilheteira das Caldas tem mais receita na venda de bilhetes para norte
As receitas da bilheteira das Caldas da Rainha poderão cair para menos de metade se se concretizar o fecho de passageiros no troço norte da linha do Oeste.
Apesar de haver mais passageiros a viajar para sul das Caldas, estes efectuam trajectos mais cursos, normalmente para Bombarral e Torres Vedras, dado que muito poucos se aventuram a ir para Lisboa de comboio.
Já para norte, a minoria que apanha o comboio fá-lo para Leiria, Figueira da Foz ou Coimbra, o que dá distâncias maiores por viagem, logo maior receita.
A CP estima em 1,8 milhões de euros os prejuízos anuais no troço Caldas da Rainha – Figueira da Foz, o que representa menos de 1% dos seus resultado líquidos negativos em 2010 (195 milhões de euros).
Para reforçar a ideia de que é anti-económica a decisão de acabar com o serviço de passageiros há ainda os custos da Refer, a empresa gestora da infra-estrutura que trata da manutenção da via e da sua exploração e segurança. Entre Caldas e Figueira da Foz esses custos foram no ano passado de cerca de 4 milhões de euros. Um valor que, mesmo sem passageiros, não deverá baixar significativamente porque continuarão a circular comboios de mercadorias.