
Ana Maria Pacheco, presidente da Federação das Associações Empresariais da Região Oeste (FAERO), considera que o Congresso Empresarial do Oeste pode ser um momento importante para alinhar a estratégia das empresas e entidades públicas com vista ao próximo quadro comunitário. Mesmo que do evento não saiam medidas concretas, este vai permitir o estreitar de laços entre empresários e os diversos sectores de actividade.
Segundo a dirigente, que é também presidente da AIRO, não estão previstas reivindicações de mais investimentos públicos, embora adiante que é fundamental que alguns projectos que já existem, como as áreas empresariais, saiam em definitivo da gaveta de modo a atrair investimento de que a região necessita.
Há 11 anos que não existia um congresso para discutir uma estratégia para o Oeste. No início deste milénio os diversos agentes da região reuniram por três vezes, entre 2000 e 2007, mas nunca com o propósito principal de discutir estratégias para o meio empresarial. Ana Maria Pacheco, presidente da FAERO, acredita que a fragmentação que existia entre as diversas associações empresariais não era positiva e dificultava a organização de eventos desta natureza. “Estas coisas dão muito trabalho e há sempre o receio de como vão decorrer”, disse a empresária e dirigente associativa em entrevista à Gazeta das Caldas.
No entanto, a criação da FAERO, há cerca de dois anos, permitiu congregar esforços e vontades entre os diversos sectores de actividade e as empresas dos vários concelhos do Oeste.
“É importante haver uma só voz pela actividade económica da região, como há uma única voz para o território, a OesteCIM”, acrescentou.
A AIRO (Caldas da Rainha), a ACIRO (Torres Vedras) e a ACSIA (Alcobaça) foram as primeiras a congregar-se na FAERO. “Apesar de sermos associações independentes umas das outras, ganhamos em conjunto um leque de oferta maior e temos uma representatividade que não tínhamos individualmente”, sublinha Ana Maria Pacheco.
Esta nova cumplicidade no meio empresarial do Oeste abriu a porta à discussão de estratégias entre e dentro dos diversos sectores com vista ao futuro.
“É o primeiro congresso empresarial do Oeste em que as empresas e os empresários vão estar em peso a conversar, a dar-se a conhecer e a perceber como se avança, respeitando as diferenças uns dos outros e apoiando-se para, em colaboração, podermos potenciar mais o Oeste”, afirma Ana Maria Pacheco.
A empresária acredita que um evento deste género poderia ter conduzido a um melhor aproveitamento do actual quadro comunitário, que termina em 2020. Essa é, precisamente uma das ideias-chave deste congresso: afinar estratégias para o próximo quadro comunitário.
A elaboração dos painéis teve isso em linha de conta, focando-se nos oito eixos em que o próximo quadro comunitário assenta, que são a inovação, o conhecimento, a sustentabilidade demográfica e também a ambiental, a energia, as alterações climáticas, a agricultura e a economia do mar. “Se começarmos a reflectir já nestes temas, vamos poder preparar as empresas para o que aí vem na indústria, no comércio e nos serviços nos próximos 10 anos”, disse Ana Maria Pacheco.
E que papel pode ter o Oeste na estratégia nacional para 2030?
Fernando Vargas, director da FAERO em representação da Bombarral Sustentável, acredita que nalguns sectores a região vai ter um papel preponderante, como são os casos da fruta e do vinho. “Os nossos empresários podem dar uma opinião muito concreta do que é necessário do quadro comunitário em relação às suas actividades”, considera.
O empresário na área dos serviços de consultadoria acrescenta que os governantes não têm noção do que se está a passar no terreno, pelo que a ideia do congresso também passou por chamar as entidades públicas para ouvirem as necessidades das empresas e dos diversos sectores, porque todos vão estar presentes.
ALERTAR O PODER POLÍTICO
O objectivo principal não será reivindicar investimentos públicos, embora tal possa surgir, observam os dirigentes da FAERO. A prioridade será alertar o poder político local e nacional para a necessidade de aproveitar aquilo que já está previsto no papel, como áreas industriais e empresariais, mas que não estão ainda postas em prática. Nesse sentido será importante a presença do ministro do Ambiente. “As actividades marítimo-turísticas, a pressão na orla costeira com os resorts, ou os bivalves na Lagoa de Óbidos são questões importantes e que estão em cima da mesa”, disse Ana Maria Pacheco.
Depois existem outros investimentos públicos relacionados com a actividade empresarial que já estão previstos e que devem ser discutidos, “como a ferrovia, ou o centro de conhecimento que vai avançar em Peniche para a indústria do mar a nível de I&D”, acrescentou.
Nesta definição de estratégias entre sector público e privado, mas a nível local, Ana Maria Pacheco considera que a OesteCIM tem um papel importante a desempenhar, e que é mais fácil quando há apenas uma entidade à qual o sector empresarial se pode dirigir do que 12 municípios por si só. “É importante haver um diálogo constante entre a actividade económica e o território, porque uma coisa sem a outra não faz sentido e há uma dinâmica que se gera e facilita os processos”, afirmou.
DIVERSIDADE É VANTAGEM
O Oeste tem uma actividade económica diversificada, com culturas agrícolas e frutícolas variadas, diversos ramos de indústria, como a cutelaria, a transformação alimentar, o calçado, a cutelaria, a extracção e transformação pedreira, a cerâmica, os moldes, entre outras. A estes juntam-se actividades como o turismo e a pesca.
Para os dirigentes da FAERO, esta é uma vantagem competitiva, até porque grande parte dos diferentes tipos de indústria estão concentrados em pólos industriais, “o que os torna mais competitivos”, realça Fernando Vargas. E o facto de a região não ter apenas uma actividade empresarial forte torna-a menos vulnerável a conjunturas económicas desfavoráveis ou a dificuldades de uma empresa com maior influência na cadeia de valor.
“Poucas regiões têm características para ter desde o sector primário a empresas tecnológicas e indústria de ponta”, realça Ana Maria Pacheco. Esta realidade pode trazer desafios ao poder político e às associações empresariais ao nível dos recursos humanos, do mercado de trabalho e da competitividade do território, mas torna a região “mais dinâmica e competitiva”, acrescenta.
Ana Maria Pacheco afirma que hoje o Oeste até tem menos indústria do que já teve, mas não tem dúvidas que a que existe é mais forte e está preparada para o futuro, com uma aposta forte na tecnologia e na investigação e desenvolvimento.
Se a diversidade poderia ser sinónimo de fraccionamento entre os diversos sectores empresariais, Ana Maria Pacheco diz que a criação da FAERO, assim como a organização do congresso empresarial, é um sintoma claro de que o tempo do cada um por si acabou.
O congresso, acredita a dirigente da FAERO, poderá ser um multiplicador destas vontades todas de trabalho em equipa entre os diversos sectores, o que é importante para o desenvolvimento de uma região que se quer afirmar pela excelência. Para isso é necessário continuar a atrair e fixar pessoas, tanto para os recursos humanos das empresas, como empresários com vontade de investir.
Ana Maria Pacheco acredita que o congresso será um momento importante para a afirmação do Oeste enquanto região, e até podem dali sair conclusões mais importantes para o imediato. “Tudo depende de nós”, concluiu, apelando a uma participação forte no próximo dia 3 de Outubro.
O Congresso Empresarial do Oeste vai decorrer esta quarta-feira, 3 de Outubro, no grande auditório do CCC, entre as 9h00 e as 19h00. As entradas são gratuitas, mas é aconselhada inscrição. À hora do fecho desta edição havia cerca de 360 pessoas inscritas.