CP retira automotoras espanholas e baixa o nível de serviço na linha do Oeste

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Noticias das Caldas
Fila de espera na estação das Caldas numa sexta-feira à tarde. Agora que a procura estava a aumentar, a CP degrada o serviço. | C.C.
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A CP vai desviar para a linha do Douro as automotoras que asseguram a ligação Caldas da Rainha – Coimbra e substituí-las por material mais velho. O objectivo é responder à forte procura na linha do Douro e às pressões dos operadores turísticos daquela região para a CP melhorar o serviço.
No Oeste a empresa mantém os mesmos horários, mas os inter-regionais para Coimbra e linha do Norte passam a ser feitos por automotoras UDD, que datam dos anos 70 do século passado, tendo sido modernizadas em 1999.
Em 2016 a CP transportou 485 mil passageiros na linha do Oeste, um crescimento na ordem de 1% face a 2015, ano em que se registou um crescimento de 6% face a 2014.


Já não eram novas. Foram construídas entre 1981 e 1984 e vieram de Espanha, onde até já estavam fora de serviço quando foram alugadas pela CP. Mas era o material melhorzinho que circulava na linha do Oeste, até a transportadora pública o desviar para a linha do Douro, fazendo assim um downgrade na ligação Caldas da Rainha – Coimbra.
As automotoras 592 (também designadas por “camelos” devido às “bossas” que parecem ter no seu tecto motivadas pela instalação de aparelhos de ar condicionado) vieram há dois anos para o Oeste e asseguravam com algum êxito a ligação à linha do Norte, precisamente aquela que mais tem crescido nos últimos anos.
A CP justifica a sua transferência para a linha do Douro da seguinte maneira: “na sequência da assinatura pública do protocolo de cooperação entre a CP e três operadores de cruzeiros fluviais turísticos do Douro, a empresa tem que garantir, no âmbito da programação da sua oferta de Verão para 2017, a realização de comboios diários, dedicados e exclusivos para os clientes destes operadores turísticos”.
Ou seja, quem se queixou e reivindicou, levou a melhor. No Oeste, os autarcas e as restantes forças vivas locais parecem satisfeitas apenas pelo facto da linha não ter fechado (como chegou a estar previsto em 2011) e desinteressaram-se dela. Nem o facto de ter sido prometida a modernização de metade da linha e o projecto ainda não ter avançado parece provocar quaisquer reacções.
A CP diz ainda que esta realocação do seu material circulante lhe permite poupar um milhão de euros por ano porque não tem que fazer marchas em vazio entre Caldas e Coimbra (ver Gazeta das Caldas de 20/12/2016, “Os Comboios Fantasma da linha do Oeste”) e que o serviço fica assegurado com as automotoras UDD que assim substituem as espanholas. Estas, são, porém, mais velhas pois datam dos anos 70 do século passado, embora tenham sido modernizadas em 1999.
Quase 20 anos depois dessa modernização, estas unidades motoras têm tendência a avariar e por isso é habitual serem substituídas pelas ainda mais velhas automotoras Allan (construídas na Holanda nos anos 50 do século passado e modernizadas há cerca de 20 anos), que também continuam a arrastar-se pela linha do Oeste.
Segundo a CP, a procura da linha do Oeste no ano passado foi da ordem de 485.000 passageiros, um crescimento da ordem de 1% face a 2015, ano em que se registou um crescimento de 6% face a 2014.

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De fora da rede Intercidades

Apesar de ligar Lisboa a Coimbra pelo litoral, atravessando concelhos e cidades com bastante população e uma actividade económica dinâmica,  a linha do Oeste não tem sido vista pela CP nem pelos sucessivos governos como digna de possuir uma oferta Intercidades. Pelo contrário, a abordagem é sempre regional, com automotoras a “passar a ferro” para trás e para a frente, parando em todas as estações e apeadeiros, respondendo a uma procura local.
Uma abordagem de longa distância, para a qual existem os comboios Intercidades, tem estado ausente destas políticas de vistas curtas dos decisores.
Para isso tem contribuído a ausência de modernização da infraestrutura. Não ser uma linha electrificada tem servido de desculpa à CP para não encontrar soluções de transporte de longa distância, escusando-se a empresa a ligar verdadeiramente o Oeste a Lisboa e também ao Centro e Norte do país (através de Alfarelos e Coimbra).
Mas eis que está prometida (mais uma vez) a almejada electrificação da linha do Oeste.
Seria de esperar que a futura oferta viesse a contemplar comboios a sério.
Mas não. Vejamos a resposta que o gabinete do Ministério do Planeamento e das Infraestruturas deu ao PCP quando, há um ano, este partido fez perguntas ao governo sobre ferrovia:
“A electrificação da Rede Complementar, designadamente a conclusão da electrificação da linha do Algarve, Oeste, Douro e Minho, possibilitará à CP rentabilizar o parque de material eléctrico sem recorrer à compra de novo material, estruturando o seu serviço através da extensão da Rede Inter Cidades a Lagos, Vila Real de Santo António, Marco de Canavezes e Régua, Viana do Castelo e Valença e estender a rede Urbana até Torres Vedras”.
Sim, leu bem. Caldas da Rainha e a linha do Oeste ficam de fora da rede Intercidades.

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