Foi finalmente formalizada a obra de modernização da Linha do Oeste, com o lançamento do concurso público para a empreitada referente ao troço entre Meleças e Torres Vedras que teve lugar na OesteCIM na passada terça-feira, 23 de Julho. Esta é a primeira parte de uma obra que inclui a electrificação da linha até às Caldas da Rainha. Para essa segunda fase, o governo prevê lançar o concurso até Outubro.
Durante os 24 meses de execução da obra, a circulação só será interrompida entre a Malveira e Torres Vedras, durante quatro meses, devido à intervenção no túnel da Sapataria.
A empreitada de modernização do troço entre Meleças e Torres Vedras foi publicada em Diário da República na passada terça-feira, 23 de Julho. No mesmo dia, o projecto foi apresentado aos autarcas da OesteCIM nas instalações desta entidade.
Esta empreitada, para um troço de 43 quilómetros, tem um orçamento de 68,5 milhões de euros. Em conferência de imprensa, o secretário de Estado das Infraestruturas, Jorge Delgado, disse que o prazo deste processo concursal deverá ser de um ano, ao fim do qual deverão arrancar, efectivamente, os trabalhos no terreno. A execução será de dois anos e a expectativa é que os comboios eléctricos comecem a circular no terceiro trimestre de 2022.
Jorge Delgado informou também que o concurso público para a empreitada referente ao troço entre Torres Vedras e Caldas da Rainha será lançado em Setembro ou Outubro deste ano. Esta segunda empreitada terá um orçamento de 30 milhões de euros e deverá terminar na mesma altura da primeira empreitada, ou seja, até Setembro de 2022.
O governante afirmou que os trabalhos foram divididos em duas empreitadas “por questões de natureza técnica”, mas que o projecto “está desenhado como um único, financiado na totalidade”. Isso deve-se ao facto de a primeira empreitada ser de maior complexidade e de valor mais elevado que a segunda. No entanto, garantiu que ambas ficarão concluídas em simultâneo.
Jorge Delgado disse que esta intervenção vai aumentar “a eficiência e competitividade” da linha do Oeste, conferindo-lhe maior capacidade de transporte de passageiros e mercadorias. Vai ainda diminuir o tempo de percurso, aumentar a fiabilidade da operação e o conforto e segurança. O secretário de Estado disse mesmo que a expectativa actual é a da duplicação do número de passageiros (uma meta que até nem é ambiciosa tendo em conta a fraca procura que esta linha regista).
Quanto ao troço a norte das Caldas da Rainha, Jorge Delgado escusou-se a fazer previsões. O secretário de Estado disse apenas que o Plano Nacional de Investimento 2030 contempla 4 mil milhões de euros para a ferrovia e que o assunto está de momento em discussão parlamentar.
CIRCULAÇÃO NÃO SERÁ AFECTADA
Durante a execução dos trabalhos, a Linha do Oeste continuará em operação. Carlos Fernandes, da Infraestruturas de Portugal, referiu que os trabalhos serão realizados maioritariamente durante o período nocturno, de modo a não afectar o serviço da CP.
Apenas no troço entre Malveira e Torres Vedras haverá um corte efectivo, o que está previsto acontecer entre Novembro de 2021 e Março de 2022. Esse corte servirá para realizar uma intervenção no túnel da Sapataria. Por se tratar de uma estrutura antiga, o túnel não tem altura suficiente para acolher a catenária, pelo que o piso terá que ser rebaixado. Nesse período, será feito transbordo rodoviário entre aquelas duas estações.
Jorge Delgado adiantou que as novas composições que irão ficar afectas à Linha do Oeste depois de electrificada (e cujo concurso público decorre a cargo da CP) deverão chegar na mesma altura da conclusão das obras.
Dessas novas composições dependerá o tempo da viagem entre as Caldas da Rainha e Lisboa. As expectativas mais pessimistas apontam que a viagem entre o Rossio (ou Entrecampos) e as Caldas passe a demorar uma hora e meia, podendo, no entanto, ser ainda menor.
Nos anos 80 a ligação entre Caldas e Lisboa era, já nessa altura, de uma hora e meia, com comboios que só paravam nas estações principais. Hoje, a CP só tem serviço regional com paragem em todas as estações e apeadeiros, o que faz com que uma viagem para a capital demore entre duas horas a 2 horas e 53 minutos.
Questionado sobre se iria haver Intercidades na linha do Oeste, o secretário de Estado das Infraestruturas respondeu que “o plano de operação da CP ainda não existe”, mas que há necessidade de “maior eficácia na ligação entre os principais pólos geradores de procura, com uma ligação a Lisboa mais rápida”.
POTENCIAR O TURISMO
Pedro Folgado, presidente da OesteCIM, disse que este acto “já deveria ter sido tomado há mais tempo, mas vale mais tarde do que nunca”. O autarca realça que a modernização da ferrovia será muito importante para a competitividade da região e também para a sustentabilidade ambiental pois a electrificação da linha permitirá diminuir a pegada carbónica da região.
A maior eficácia do transporte ferroviário beneficiará os oestinos, mas também poderá beneficiar o turismo, acredita Pedro Folgado, opinião com a qual comunga Tinta Ferreira, presidente da Câmara das Caldas da Rainha. Também Carlos Fernandes, da Infraestruturas de Portugal, lembrou que a Linha de Sintra serve na ordem dos dois milhões de turistas por ano, o que pode ser uma mais-valia para os concelhos do Oeste.
Tinta Ferreira adiantou que os municípios servidos pela ferrovia estão a trabalhar em conjunto de modo a que seja aumentada a oferta de estacionamento nas zonas das estações de caminhos de ferro, quer em espaços da IP, quer em espaços municipais, para dar resposta ao presumível aumento de procura.
Outra questão para a qual estão a ser estudadas parcerias, no caso entre a IP e as autarquias, é a salvaguarda do património da Linha do Oeste que ficará sem utilização. O secretário de Estado da Infraestruturas, Jorge Delgado disse que a IP já está a articular com os municípios de modo a que esses espaços possam vir a ser utilizados para outros fins, mediante concessão.
Passes na comunidade intermunicipal custam 30 euros
Na edição do passado dia 28 de Junho Gazeta das Caldas anunciou que a introdução do plano de redução de tarifas da OesteCIM na ferrovia iria fazer diminuir os preços dos passes para 30 euros dentro do mesmo concelho e para 40 euros dentro dos espaço da comunidade intermunicipal. Pedro Folgado, presidente da OesteCIM, explicou que aquele sistema era de difícil implementação, pelo que foi acordado com a CP a adopção de um preço único de 30 euros para todo o território intermunicipal.
Na linha férrea, a região Oeste tem extremos entre a Martingança (concelho de Alcobaça) e Pêro Negro (Sobral de Monte Agraço), pelo que ao longo destes 95 quilómetros os passes serão sempre de 30 euros. Antes, havia passes que chegavam aos 200 euros.
Além desta medida, foi aprovada uma redução de 30% nos passes para deslocações inter-regionais.