A Fábrica das Cavacas das Caldas está a construir uma nova unidade fabril na zona industrial do Casal de Santa Cecília, perto da Matoeira (Salir de Matos), num investimento de um milhão de euros que a vai fundir com a Confeitaria Monteverde. As empresas que funcionam no Imaginário e em Turquel e estão registadas em nome da Eduardo Loureiro Unipessoal, Lda. têm visto a sua facturação conjunta crescer na ordem dos 20% nos últimos dois anos e nas novas instalações vão poder aumentar a capacidade de produção para apostar na exportação. As cavacas e os beijinhos das Caldas e as tradicionais bolachas de baunilha são os produtos mais icónicos destas empresas que marcam presença nas grandes superfícies comerciais com uma vasta gama de produtos de bolos secos tradicionais.

Trata-se de um pavilhão com 2 mil metros quadrados de área coberta onde se passará a produzir todos os produtos que actualmente são feitos nas instalações da Cruz Armada (perto do Imaginário) e em Turquel.
“Vamos poder criar sinergias entre as duas equipas e isso vai permitir à administração estar mais próxima das duas produções e, principalmente, modernizar muito e aumentar a capacidade de produção”, disse à Gazeta das Caldas o diretor comercial e de marketing, Bruno Pinelas.
A nova fábrica representa um investimento de um milhão de euros, que pelo menos nesta fase não terá apoios comunitários. A empresa candidatou-se ao programa Portugal 2020, não obteve ainda aprovação do projecto, mas decidiu avançar de imediato dada a necessidade de aumentar a produção, uma vez que a capacidade actual está esgotada.
A Fábrica das Cavacas das Caldas e a Confeitaria Monteverde em conjunto têm tido um comportamento muito positivo nos últimos anos, após a entrada nos canais da grande distribuição. Os seus produtos estão em quase todos os grandes super e hipermercados nacionais, com as suas marcas próprias e em marcas brancas. Em 2016 o volume de negócios atingiu os 1,25 milhões de euros e o ritmo de crescimento mantém-se estável na ordem dos 20% ao ano nos últimos dois exercícios fiscais.
Além do crescimento no mercado interno, a Eduardo Loureiro Unipessoal, Lda. iniciou a aposta na exportação há quatro anos, através do chamado mercado da saudade (países onde há emigrantes portugueses). Em 2016 estas vendas representaram 7% do volume de negócios, mas com um ritmo de crescimento acentuado desde 2014. As exportações sobem para 20% da facturação incluindo as indirectas, ou seja, as vendas a intermediários nacionais que têm como destino a exportação. Os principais destinos destes produtos são Canadá, Estados Unidos da América, França, Suíça, Inglaterra e Angola.
É principalmente para continuar a crescer nas vendas para o estrangeiro que a empresa precisa de aumentar e melhorar a eficiência dos processos de produção. “O nosso produto é muito específico e torna-se difícil competir com o preço de outros mercados, como Itália e Espanha, que têm processos mecanizados, e por isso precisamos de ter preço e capacidade de resposta, que é o que a nova unidade vai trazer”, sustenta Bruno Pinelas. O objectivo é continuar a ter bolos tradicionais, com uma componente artesanal forte, defendendo a qualidade que permitiu implementar as marcas, mas mecanizar todos os processos possíveis para baixar o preço final e aumentar o ritmo de produção.
“Temos ido à procura de mais mercados, investimos na presença em feiras nacionais e estrangeiras e isso é que tem feito aumentar as vendas”, acrescenta.
A nova fábrica deverá iniciar a actividade em Setembro ou Outubro deste ano com os cerca de 35 trabalhadores que o grupo tem actualmente. No entanto, é de prever que este número aumente caso a procura assim o exija.
As novas instalações vão incluir uma loja de fábrica para venda directa ao público.
UMA HISTÓRIA COM 50 ANOS
A Eduardo Loureiro, Unipessoal Lda. existe desde 1982, mas a raiz da Fábrica das Cavacas das Caldas foi criada há 50 anos, em 1967. Foram os primeiros sogros de Eduardo Loureiro que iniciaram o negócio. Faziam as cavacas das Caldas, os beijinhos, suspiros e as tradicionais broas.
“Comecei quando casei, em 1982. Trabalhava com os meus pais em agricultura, comércio, pecuária, mas quando casei mudei de vida e comecei a trabalhar com os meus sogros”, conta Eduardo Loureiro.
Foi com eles que aprendeu a arte de fazer as cavacas das Caldas. “É um processo que nem todos lá chegam, não é difícil de aprender, mas também não é fácil”, adverte. O segredo, esse, está nas mãos. “É o amassar, o saber dar a volta às massas”, sustenta.
Antes era tudo feito à mão, hoje as quantidades não o permitem, mas parte do processo, a principal, continua a ser artesanal. “As cavacas são tendidas à mão, vão para os fornos, no fim de cozidas levam a calda de açúcar”. Dito assim até parece fácil, mas não é. Eduardo Loureiro adianta que, ao contrário do que as pessoas pensam, as cavacas não são cozidas em formas, mas em tabuleiros, ganham aquela estrutura em forma de concha durante a cozedura. Se a amassadura não for feita correctamente, é um lote desperdiçado.
Depois de iniciar a actividade de doceiro, Eduardo Loureiro abraçou também a de empresário. Foi adicionando produtos à gama que existia e em 1995 iniciou a construção da fábrica das cavacas na Cruz Armada (Imaginário) que ainda está em funcionamento.
“Hoje não se conseguia só com as cavacas e os beijinhos – ou crescíamos, ou tínhamos de parar”, refere o doceiro. “Quando tínhamos a pastelaria Java [na Rua da Liberdade] chegávamos a vender 100 quilos de cavacas e outros 100 quilos de beijinhos num dia, hoje vende-se 10 quilos”, acrescenta.
Com uma gama de produtos mais extensa, que inclui cerca de 40 referências sobretudo em bolachas, bolos e biscoitos secos tradicionais, o negócio que era praticamente a nível local, passou a regional, depois a nacional e hoje chega além fronteiras.
“Estamos sempre a inovar para ter coisas novas e diferentes, sem nunca fugir à doçaria regional. Temos que o fazer porque o mercado exige bastante, há muita concorrência que não é só directa, há muitos tipos de bolos e quando se compra uns não se compra outros”, realça Eduardo Loureiro.
Foi nesse sentido de expansão do negócio que em 2011 o empresário adquiriu a Confeitaria Monteverde, de Turquel. Esta empresa estava no mesmo ramo, mas tinha como especialidade as bolachas de baunilha. Decidiram apostar em exclusivo nesse produto, com a Bolachas da Avó Elvira para a gama premium e o fabrico para outras marcas.
MAIS TURISMO PRECISA-SE
Eduardo Loureiro chegou a ter venda directa na Pastelaria Java. O empresário lembra que nessa altura se vendia muito mais cavacas localmente, porque também havia muito mais turismo, que era encaminhado para a zona do Hospital Termal.
“Aquela zona enchia-se de autocarros, aquelas casas ali eram privilegiadas, mas tudo nos arredores até à Praça da Fruta funcionava bem”, recorda. “Hoje não há um local de referência para encaminhar o turismo e isso é importante para promover os doces regionais”, sublinha. A venda de cavacas é forte sobretudo ao fim-de-semana e durante o Verão.
O empresário diz que “é uma grande responsabilidade” defender um produto que está tão ligado à imagem das Caldas da Rainha.
Foi nesse sentido que aceitou em 2005 o desafio de fazer perto de 50 mil cavacas que constituíram uma pirâmide para o Guinness, promovida pela ACCCRO. Uma iniciativa que se revelou positiva pela divulgação que proporcionou.
No entanto, não são as cavacas o artigo mais vendido, mas sim os beijinhos. “Em algumas regiões pedem-nos que lhes chamemos cavaquinhas, mas não é a mesma coisa pois as massas são diferentes, apesar das pessoas pensarem que são iguais”, diz Bruno Pinelas. E são, por norma, estes os produtos incluídos não só pelo município, mas também por várias empresas e instituições do concelho em kits promocionais, uma atenção que é encarada como forma “de respeito e carinho pelo nosso produto”, conclui.