O exemplo das pequenas cidades alemãs poderá ajudar o comércio caldense?

1
558
- publicidade -

notícias das CaldasA crise económica que se vem avolumando nos últimos anos no mundo ocidental e desenvolvido, e que tem tido uma expressão mais drástica nos últimos meses no nosso país, atingindo todos os sectores económicos e que se está a repercutir em todos os sectores sociais, incluindo o da actividade pública, antes sempre protegida, merece uma reflexão forte.
Ainda há dias no semanário Expresso dava-se grande destaque a esta crise, referindo-se que o número de encerramentos de espaços comerciais ou de lojas, no país é muito elevado, devendo atingir alguns milhares este ano.
Sendo Caldas da Rainha um meio comercial privilegiado, ostentando ainda para mais o título de “capital do comércio tradicional”, como o mesmo jornal referia também numa sua edição, e queixando-se a grande maioria destes comerciantes sobre a actual situação, ousamos fazer uma pequena reflexão sobre as novas tendências que estão a verificar-se internacionalmente.

Uma das tendências mais recentes que chegaram a Portugal e às Caldas da Rainha, neste caso mais recentemente, decorre da abertura dos centros comerciais, que dado o seu dinamismo e períodos de abertura, tem feito uma concorrência forte ao comércio tradicional, mas que este tem tentado resistir com novas ofertas e outros estímulos aos clientes.
Mas a crise económica que se precipitou no mundo ocidental e com especial realce para os países europeus da orla mediterrânica, vai obrigar a novas apostas, que podem e devem implicar uma redefinição de prioridades e, eventualmente, mesmo uma revolução na forma de funcionamento deste sector económico.
Provavelmente a experiência que está a ocorrer na Alemanha, inspirada no que se passa especialmente nos Estados Unidos da América, para permitir a pequenas cidades que têm elementos turísticos de atracção, podia servir para a cidade das Caldas.
Recorde-se, contudo, que esta estratégia só poderia resultar se a cidade estivesse à cabeça deste novo movimento e se se colocasse entre os inovadores primeiros do lançamento desta iniciativa. Para que tal aconteça terá de existir em Portugal alguma organização que dê cobertura a esta experiência comercial. Sabemos que mais dia menos dia este movimento vai chegar a Portugal e quem estiver na dianteira beneficiará primordialmente.

- publicidade -

MAS ENTÃO DE QUE SE TRATA?

Mas então do que se trata? Quisemos criar este suspense para permitir ao leitor fazer também um esforço de criatividade e de inovação em ternos organizacionais.
Então o que os alemães têm estado a criar em pequenas (para a dimensão do país) cidades são os Designer Outlets, ou seja, espaços de outlet (venda de produtos de marca de colecções mais antigas a preços mais convidativos com descontos entre os 30 e 60%).
Não se trata de criar novos Camperas ou Freeports como há no Carregado ou em Alcochete, n meio de um espaço inóspito, mas sim transformar os actuais espaços comerciais existentes em cidade turísticas que tenham outros atractivos para que o consumidor-visitante junte dois prazeres.
Esta ideia, para concretizar-se, obrigará a um esforço gigantesco, mas parece-nos que será uma forma de vivificar o comércio caldense e dar-lhe uma nova força para se afirmar neste século XXI. Caso outros se antecipem, será mais uma oportunidade perdida.
Caldas da Rainha já tem alguns atractivos que trazem à cidade, desde há muitos anos muitas pessoas, nomeadamente a sua praça da fruta e dos legumes, o seu parque, e com menos impacto os seus museus. Ultimamente, e depois da crise que viveu, a própria Fábrica de Faianças Bordalo Pinheiro criou também o seu outlet.
A própria praça da fruta não será um pequeno e pouco definido outlet em que o produtor (na maioria dos casos) vende directamente ao consumidor a preços mais razoáveis que noutros locais do país?
Recentemente pudemos verificar este fenómeno na Alemanha em duas pequenas cidades que têm há muito, ou que criaram recentemente, atracções turísticas e que para reforçarem a vinda dos visitantes, criaram no seu centro estes espaços de outlet.
Falamos por exemplo, de Mettlach (12 mil habitantes), na região do Saahr, perto da fronteira com o Luxemburgo, França e Bélgica, onde se situa o célebre grupo cerâmico Villeroy & Boch e que tem aí o seu museu que é uma atracção muito forte dos consumidores daqueles países.
Mas também em 2000 o grupo automóvel VW criou um centro de atracções da sua cidade natal, de Wolfsburg (que tem 121 mil habitantes e fica perto de Hannover), numa região que não tinha nenhuma atracção turística até então e que hoje atrai diariamente milhares de pessoas. Juntamente com este parque de atracções em que o visitante pode conhecer toda a história do automóvel, as novidades e inovações, e fazer as mais variadas experiências, junta-se um Designer Outlet onde se pode ainda fazer compras de produtos de marca com reduções muito razoáveis, como já vimos.

UMA TENDÊNCIA QUE CHEGARÁ A PORTUGAL

Perante estas duas experiências, uma pesquisa na internet leva-se a concluir que esta tendência comercial foi lançada na Alemanha em Setembro de 2005, na cidade de Inglostadt, situada nos arredores de Munique, nas margens do rio Danúbio e perto da sede fabril da BMW. Outra experiência referida foi a criação em 2003 também de um outlet na cidade de Wertheim, situada junto a Wurtburg, entre Frankfurt e Nuremberga, que também reúne mais de 85 lojas de produtos de qualidade em formato outlet.
Entre as marcas presentes estão as conhecidas Calvin Klein, Gant, Tommy Hifiger, Lacoste, Champiuon, Adidas, Nike, Rosenthal, Puma, Villeroy & Boch, Timberland, a que se juntam cafés, restaurantes, cervejarias e hotéis, dando uma verdadeira vida citadina. No caso de Metllach, os outlets estão no próprio tecido urbano.
Mas este movimento tem-se alargado a inúmeras pequenas cidades alemãs como Maasmechein, Lauscha (junto a uma fábrica de vidro colorido), Fursterberg e Meissen (junto a fábricas de cerâmica), Seiffen e Giengen an der Brenz (junto a fábricas de brinquedos) e Rudesheim (numa zona de vinhos e aguardentes).
É evidente que esta ideia, a ser levada em conta, obrigará a quebrar muitos tabus, mas poderá ser uma grande aposta para as Caldas da Rainha desde que esteja na dianteira.
Para muitos dos comerciantes existentes, que teriam de alterar o seu modo de comercializar, também pode ser um risco difícil de tomar.
Nas Caldas da rainha já existem algumas experiências no comércio de outlets que têm tido dificuldades em se fazer reconhecer, mas se isto for feito de forma prá-activa, com força de marketing e mostrando aos consumidores que poderão utilizar produtos de alta gama por preços razoáveis, poderia ser uma boa aposta.
A alternativa para alguns será esperar que a crise passe, sofrendo as inclemências do mercado e sem verem uma luz definida ao fundo do túnel.
Muito provavelmente o que aqui escrevemos terá muito pouco eco, mas daqui a algum tempo veremos este movimento proliferar no nosso país e Caldas da Rainha, se se mantiver na sua habitual letargia, vê passar o futuro ao lado.

J.L.A.S.

- publicidade -

1 COMENTÁRIO