Xereu é a alcunha de João Pereira e também o nome da marca de pranchas de surf de madeira que criou. Atualmente as decorativas são o forte
É numa oficina na Atouguia da Baleia que nascem as pranchas de madeira Xereu. João Pereira criou a marca há cerca de seis anos e deu-lhe como nome a sua própria alcunha de infância, inspirada num peixe.
Foi há praticamente 35 anos, quando contava apenas 13 primaveras, que o surf entrou na sua vida. “Já fazia skate e decidi experimentar, parecia engraçado”, contou. As primeiras ondas foram mesmo em Peniche, seguindo-se os Supertubos. Na altura as coisas não eram como hoje. “Havia muito pouca gente a fazer surf” e o material que utilizavam era… o que houvesse. “Lembro-me de levar a prancha para a escola, para quando tinha uma ou duas horas livres ir surfar, porque a escola é a menos de 500 metros da praia”, recorda.
A vida seguiu. Depois de estudar engenharia industrial em Lisboa, regressou a Peniche para trabalhar na indústria e depois foi novamente para a capital para trabalhar num banco. A certa altura queria comprar uma prancha nova e viu na Internet uma prancha de madeira. Curioso, foi pesquisar técnicas e pessoas que o pudessem ajudar, tendo entrado em contacto com shapers (quem faz as pranchas) da Califórnia, nos Estados Unidos da América, mas também na África do Sul. Um deles convidou-o para um workshop para aprender as técnicas, mas tal não se proporcionou. Mais tarde, já em 2011, surgiu novo convite, mas aí já João Pereira tinha começado a produzir as suas pranchas.Quando mostrou o seu trabalho ao shaper americano este deu-lhe força para continuar e o Xereu foi continuando, com mais dedicação, mas ainda a trabalhar no banco.
“É um sentimento especial estar sentado numa prancha de madeira na água, ou fazer uma onda com uma prancha de madeira, é uma energia e um contacto com a natureza diferentes”, referiu João Pereira, acrescentando que “as pranchas são ocas, pelo que têm uma grande flutuação e não exige tanta remada”. Depois, são personalizadas de acordo com o peso, a altura, o nível de surf e o tipo de ondas de cada cliente.
Ainda assim, este “é um produto difícil de vender, porque as pessoas associam pranchas de madeira a pranchas mais pesadas, mas na verdade só têm mais um ou dois quilos”. Na produção destas pranchas quase todos os materiais são eco-friendly.
Em 2016 decidiu dedicar-se exclusivamente às pranchas de surf. “Decidi dedicar-me a tempo inteiro ao que gosto de fazer”, explicou. Atualmente, além desta vertente é também professor de surf.
Em 2019, surgiu pela primeira vez um pedido diferente: uma prancha de surf decorativa. Daí para cá tem trabalhado para particulares, hotéis, hostels, alojamentos locais, restaurantes e outros estabelecimentos, que lhe pedem destas pranchas apenas para decoração. “Neste momento 90% do meu trabalho é para decoração”, conta. Além das pranchas decorativas, também adaptou o formato deste objeto a elementos utilitários, como mesas e cadeiras, garrafeiras ou cabides. Para surf uma prancha destas custa no mínimo 550€, para decoração os preços começam nos 130€.