A primeira sidra cem por cento portuguesa é feita no Bombarral

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Dos seus pomares no Bombarral, Nuno Clímaco e Liliana Nobrega desenvolveram durante dois anos uma sidra que agora chegou ao mercado | Joel Ribeiro

Nuno Clímaco e Liliana Nobrega lançaram no mês de Julho a Sidrada, a primeira sidra cem por cento portuguesa que é feita no Bombarral. A bebida foi criada para adicionar valor à fruta “feia” e sem calibre que os próprios produziam e que era vendida a baixo preço para a indústria da transformação. Nesta primeira campanha foram produzidos 500 litros de sidra e espumante de sidra, que serão vendidos em lojas de produtos regionais e gourmet da região. Na próxima campanha a produção vai quadruplicar e a distribuição será alargada ao território nacional.

 

A ideia surgiu há perto de três anos. Nuno Clímaco e Liliana Nobrega, produtores de maçã e Pêra Rocha no Bombarral, queriam aumentar o rendimento obtido através das maçãs com pouco calibre ou pouca coloração para ir para o mercado e que estavam a ser vendidas para a indústria da transformação a um preço baixo.
A criação de uma sidra (bebida de baixo teor alcoólico à base de maçã) era uma hipótese, que ganhou força com o crescimento que estava a ter no mercado nacional, e também pelo desenvolvimento que já tem em países como Espanha, França e Inglaterra.
Durante dois anos os dois sócios amadureceram a ideia. Fizeram diversas experiências com diferentes tipos de maçã e de fermentações. Também fizeram um curso de produção de sidra com uma formadora da Galiza – região de Espanha onde a bebida tem muita tradição – e procuraram mais conhecimento em literatura especializada.
O produto final chegou este ano. A Sidrada, a Sidra do Oeste é, no entanto, muito diferente das sidras comerciais que se encontram no mercado nacional, logo por se tratar da única feita totalmente com variedades nacionais e com maçãs exclusivamente bombarralenses. Depois, a Sidrada é também a única feita a 100% com sumo de maçã, enquanto “as sidras comerciais têm apenas cerca de 20%”, explica Nuno Clímaco. “A nossa sidra é mais saudável, tem menos açúcar, menos gás e mais sumo de maçã. Além disso é um produto nacional, do Oeste, zona muito ligada à produção de fruta, o que também desperta nas pessoas a vontade de provar”, acrescenta.
A fruta é triturada e depois prensada para a extração do sumo, que depois é sujeito a uma fermentação e conservada em barricas antes de ser engarrafada. Nesta primeira campanha foram produzidos 500 litros, dois terços dos quais resultaram em duas variedades de sidra: uma feita apenas com maçã Gala e outra com Gala, Granny Smith e Reineta. São vendidas em garrafas de 0,33 litros a um preço unitário de 3 euros, ou 8 euros em packs de três.
O restante terço, com base numa sidra de maçã Gala, foi transformado em espumante. “Sofreu uma segunda fermentação para ganhar gás de forma natural em garrafa”, refere Nuno Clímaco, que destaca a importância neste processo do enólogo José Gaspar, especialista em espumantes. Da equipa que produz a Sidrada faz ainda parte José Clímaco, pai de Nuno Clímaco, que é engenheiro agrónomo. O espumante é comercializado em garrafas de 0,75 litros nas variedades de bruto e meio-seco, com um preço de 8 euros por unidade, ou 15 euros em packs de duas.
Em fase adiantada de desenvolvimento está ainda um vinagre de sidra, “que tem muitas características benéficas para a saúde”, realça Nuno Clímaco. Este produto já foi dado a conhecer ao público recentemente na Frutos, nas Caldas da Rainha, e deverá chegar ao mercado a tempo do Natal.
Apesar de ser produzida com fruta que não serve para o consumidor final, Nuno Clímaco realça que a sidra é feita com fruta selecionada, que tem que preencher requisitos – não pode ter toques nem qualquer tipo de podridão – para resultar “num produto final de boa qualidade”.

MERCADO ALVO É O GOURMET

As novas bebidas foram apresentadas no Festival do Vinho e da Pêra Rocha do Bombarral e promovidas na Frutos das Caldas da Rainha. Neste último certame saíram galardoados com o primeiro lugar entre as bebidas à base de fruta, com a sidra de três variedades de maçã, e com uma menção honrosa, com o espumante.
Ao fim de um mês no mercado, Nuno Clímaco diz que a aceitação tem sido bastante boa. “As pessoas salientam o forte sabor a maçã, que a distingue das outras sidras”, conta.
Até agora as vendas têm sido feitas através do site próprio (sidrada.webnode.pt). Os empresários vão agora iniciar contactos com o mercado de distribuição para terem pontos de venda nas principais localidades da região Oeste. Estes serão restaurantes, lojas de produtos regionais e gourmet, e também pastelarias e cafés mais direccionados para produtos regionais. “A produção não é ainda muito grande, por isso temos que analisar onde faz mais sentido estar nesta fase”, afirma Nuno Clímaco.
Os pontos de venda têm que estar bem definidos para atacar o mercado no período do Natal, “altura de escoamento por excelência de produtos regionais”, sublinha. Nessa altura serão criados packs e existe também a possibilidade de criar cabazes em associação com outros produtos regionais.
Para a campanha de 2018 Nuno Clímaco estima que a produção suba para os 2.000 litros, utilizando cerca de 4% das 130 toneladas de fruta que colheu recentemente. O fruticultor tem ao todo 4,5 hectares de macieira.
O aumento da produção “ainda não dará para muito, mas queremos dar passos seguros para consolidar o projecto”, afirma Nuno Clímaco. A estratégia passará então por alargar a rede de revenda a pontos turísticos estratégicos numa escala nacional.
A expansão do mercado poderá também passar pelo surgimento de mais sidreiros “que percebam que esta ideia faz sentido e que se crie uma rede nacional, como existe noutros países e com a cervejaria artesanal”, diz Nuno Clímaco, que vai também agora perceber se existem apoios para acelerar o desenvolvimento da Sidrada.
Sem referir números, o sidreiro diz que o investimento “foi muito residual”, uma vez que todo o processo é artesanal, incluindo o engarrafamento e rotulagem. Apenas o desenvolvimento da imagem e o registo da marca envolveu custos.
Entretanto, Nuno Clímaco e Liliana Nobrega vão iniciar também experiências para desenvolver uma bebida idêntica à base de Pêra Rocha – que também produz. A bebida poderá ser somente à base deste fruto ou uma mistura de perada e sidra.