O Your Hotel & Spa reabriu no passado dia 12 de Setembro as Termas da Piedade, na Vestiaria (Alcobaça). A exploração das termas tinha cessado há 22 anos devido a alterações nas características das águas termais, ultrapassadas agora com uma nova captação que resultou de um processo de seis anos de investigação e que custou cerca de 500 mil euros.
Os tratamentos termais voltaram no início deste mês às Termas da Piedade, integradas no Your Hotel & Spa, em Alcobaça. A água termal voltou a ser aproveitada colocando fim a um processo de 22 anos após o encerramento motivado pela alteração das características da água, que tornaram a sua utilização insegura.
Nessa altura, em 1997, a impossibilidade de utilizar as águas termais levou a administração da unidade termal a repensar o modelo de negócio. Foi construído o hotel, aberto em 2010, com uma forte componente de spa que até agora funcionou com água mineral, mas já preparado para poder funcionar com as águas termais quando estas voltassem a estar disponíveis.
Depois de um ciclo de prospecção que não teve sucesso, em 2013 iniciou-se um novo ciclo de investimento para ali reactivar o termalismo. Seis anos de investigações, furos e análises liderados por uma equipa da Universidade de Coimbra permitiram encontrar um local viável para a captação da água.
“Por razões de ordem económica apostámos num furo que fica na Mata, a 130 metros daqui. As águas são as mesmas que saíam aqui à superfície – que ainda monitorizamos -, mas por questão de segurança usamos as da nova captação”, disse aos jornalistas o director geral do Your Hotel & Spa, Hugo Gaspar.
Em todo o processo foram investidos cerca de 500 mil euros, incluindo a pesquisa, os estudos, os técnicos especializados, a abertura do furo, as canalizações e os equipamentos necessários.
AUMENTAR TAXA DE OCUPAÇÃO
Actualmente, o hotel tem uma taxa de ocupação anual que ronda os 60% de 62 quartos. Com a reabertura das termas, o objectivo é que essa taxa possa subir para os 70% em dois anos, disse Hugo Gaspar.
“Temos o negócio da área bem-estar bem consolidado. O termalismo permitirá reforçar esse negócio”, refere o director geral do hotel. Hoje o spa tem um cliente tipo entre os 25 e aos 40 anos, Hugo Gaspar refere que o objectivo agora é alargar esse público para a faixa acima dos 50 anos, e também recuperar clientes que vinham às termas com as suas famílias no passado.
A taxa de ocupação poderá ainda subir por via do aumento da estadia média, que hoje está abaixo das duas noites. “Por norma, o cliente termal fica mais tempo”, refere.
Além dos clientes que ficam alojados na unidade, o Your Hotel & Spa espera também vender o termalismo para os locais, que podem aceder às consultas e aos tratamentos.
As águas da Piedade são indicadas para as doenças da pele e dos aparelhos digestivo, musculo-esquelético e reno-urinário. Os tratamentos disponíveis são os banhos, as massagens, os duches vichy e de agulhetas. Para os problemas do foro digestivo, estes incluem a ingestão das águas, a massagem abdominal e o tratamento por lavagem do intestino.
Hugo Gaspar refere que a equipa do hotel já tem formação para a área do termalismo, mas adiantou que a equipa deverá crescer, nomeadamente no marketing e atendimento ao cliente, no spa, na área da nutrição e, mais tarde, na fisioterapia. Ao todo poderão ser criados 10 novos postos de trabalho, incluindo nas restantes áreas do hotel, caso o aumento de afluência o justifique.
REFORÇO DA COESÃO TERRITORIAL
Hugo Oliveira, presente na inauguração como vice-presidente da Câmara das Caldas e da Associação Termas de Portugal, acredita que a reabertura das Termas da Piedade é fundamental para o “reforço da marca territorial das termas nesta região”. O autarca diz que o termalismo também reforça a coesão territorial, nesta fase com as Caldas da Rainha, mas espera que, futuramente, outros concelhos como Óbidos e Batalha possam também juntar-se.
Hugo Oliveira acredita que a região pode tornar-se um cluster no termalismo, o que pode aumentar a sua atractividade como um todo. “O termalismo está ligado a uma ideia romântica, com espaços edílicos como são o Parque D. Carlos I e este espaço aqui [a zona envolvente às Termas da Piedade], mas depois temos a urbanidade das Caldas, a praia, o património histórico e natural”, realça Hugo Oliveira, acrescentando que toda a oferta do Oeste actua como uma mais-valia para a captação turística.
Hugo Gaspar, director geral do Your Hotel & Spa, também acredita que o Oeste tem a ganhar com a criação de um cluster termal. “As nossas termas, as das Caldas da Rainha e de Monte Real têm valências comuns, mas diferenciam-se noutras e isso é bom para atrair público”, considera.
Vítor Leal, presidente da Associação Termas de Portugal, disse que as Termas da Piedade “são uma referência do passado e, pelo que vi, serão uma referência para o futuro pelas instalações e pelo serviço”. O dirigente disse que as termas estão “na moda”, não só na sua vertente terapêutica, como na promoção da saúde e bem-estar, o que tem levado a grandes investimentos no sector em requalificação de equipamentos.
Um local cheio de história
Não é certo quando se iniciou a exploração do termalismo nas Termas da Piedade, mas estudos apontam que nos tempos do Império Romano já aquelas águas serviam para banhos.
Já no século XVI, no reinado do Cardeal-rei D. Henrique I ali se tomavam os “Banhos de Cura” e que terá mandado edificar nos finais desse século uma capela sob a égide da Senhora da Piedade, nome que ficou até à actualidade. Relatos apontam que nessa altura se banhavam naquelas termas cerca de 2000 aquistas por temporada, entre Março e Outubro.
O primeiro estabelecimento termal foi construído pelos monges de Cister. A estrutura rudimentar era constituída por uma casa dotada de umas tinas para banhos de imersão.
Com a extinção das ordens religiosas, passou a ser o município de Alcobaça a deter a concessão das termas, cedendo a sua exploração a particulares, nomeadamente às famílias Sousa Carvalho e Serrazina Lameiras, os actuais proprietários.
Em 1981 as águas da Piedade foram adquiridas pela Sociedade Termas da Piedade, Lda, que ao longo dos anos transformou, melhorou e remodelou a unidade termal.
Em 1997, com o encerramento das termas, a unidade termal sofreu uma profunda remodelação para manter a actividade como uma unidade hoteleira com serviço de spa idealizado para trabalhar com as águas termais.
