Depois do vinho dos naufrágios, empresa penichense amadureceu bebidas espirituosas em ânforas no fundo do mar, nas Berlengas
Underwater Wine & Tails é o nome do projeto da Justdive – Blue Academy, uma escola de mergulho em Peniche.
Iniciou-se, conforme a Gazeta das Caldas contou então, com o envelhecimento de vinhos associados aos naufrágios, em 2022.
O projeto pretende aliar ao envelhecimento subaquático a História local. Depois dos navios Vapor do Trigo, Primavera e Eldorado, que eram contados nas garrafas de vinho tinto, branco e licoroso, respetivamente, a empresa decidiu amadurecer outras três bebidas no fundo do mar: o gin, a ginja e um licor. Mas decidiram fazê-lo, uma vez mais, contando uma história. Neste caso, dos Fornos Romanos do Morraçal da Ajuda, um sítio arqueológico em Peniche, que tem vindo a atestar a importância daquele ponto e desta região no Império Romano. Assim surgiu a ideia de colocar as garrafas dentro de recriações das antigas ânforas, que eram utilizadas para transportar bens, como vinho, azeite ou conservas de peixe.
“Recriámos os modelos das ânforas Lambóglia, Greco-Itálica Hispânica e Maná”, explica Pedro Ramalhete, CEO da Justdive.
Os fornos do Morraçal da Ajuda são datados de cerca de 2000 anos. Para o vinho licoroso Estelas usaram a Lambóglia, para a ginja Berlenga as Mañá e para o Gin Farilhões, neste caso com uma marca própria, utilizaram as Greco-Itálicas Hispânicas.
O “envelhecimento aquático não só enriquece o perfil gustativo”, introduzindo notas adicionais de sabor, “como também resulta num aspeto visual singular, adornado com incrustações naturais formadas ao longo do tempo na superfície da ânfora”, explicam.
O processo de colocação das bebidas no fundo do mar, nas Berlengas, é feito com recurso a embarcações da empresa e, depois, de forma manual pelos mergulhadores, que as levam para o meio subaquático.
Depois, ao longo de 12 meses, é preciso vigiar frequentemente as bebidas e perceber se não houve perdas de líquido.
Ao fim de um ano os mergulhadores fazem a recuperação das garrafas e das ânforas, novamente de forma manual, embora também tenham balões elevatórios. “São lotes de pequenas quantidades”, até porque, nota, “é um produto exclusivo”.
Pedro Ramalhete frisa que “tudo o que se faz dentro de água tem a sua complexidade, porque o meio aquático não é o nosso ambiente por natureza”. Mas “as principais dificuldades são que nem sempre temos as condições marítimo-meteorológicas para poder fazer as visitas regulares”.
O objetivo é dar continuidade ao projeto, promovendo o património cultural e histórico da região, bem como os produtos endógenos. “Provavelmente com produtos diferentes para contarmos histórias diferentes, porque temos muita história para contar, haja bebida!”, exclama.
A Justdive, que conta com seis trabalhadores, tem como principal atividade a formação. “Somos atualmente a única escola de mergulho profissional em Portugal e este ano formámos cerca de 80 mergulhadores profissionais”, que é um novo máximo anual para a empresa. “Fizemos também formação para 20 novos nadadores-salvadores para a região”, explicou, esclarecendo que se deveu à “grande necessidade e procura que existe no verão”.
Em termos de mergulho recreativo foram mais de 200 certificações em 2024, até porque, indica, “Peniche é, em Portugal Continental, a melhor zona para fazer mergulho recreativo”. Os naufrágios continuam a ser um grande atrativo.
“Na náutica de recreio, foi o ano em que mais formação demos, ultrapassando o ano passado, que era o recorde”, refere, salientando que “estamos no top3 nacional de escolas náuticas”.
Para o próximo ano, pretendem “obter certificação internacional para o mergulho profissional que nos vai distinguir a nível nacional e da Península Ibérica e isto é muito importante porque existe uma economia associada ao mergulho profissional muito grande”, conta.
O crescimento das wind farms, da apanha de limos e da aquacultura na região necessitarão de novos profissionais e “a Justdive quer estar preparada para dar esta resposta”. ■