A ansiedade é uma emoção. É diferente de stress, é diferente de depressão. Importa reconhecer a sua importância e entender os factos que lhes estão associados. Depois deste artigo, ficará com uma noção (possivelmente) mais clara da sua importância e, sobretudo, do impacto no dia-a-dia. As emoções não se controlam, aceitam-se (reconhecem-se) e gerem-se. E elas são a base para a gestão de qualquer ambiente, nomeadamente no trabalho.
OS DADOS
As perturbações da Ansiedade são as que mais se destacam e as que mais cresceram, nos últimos anos, em Portugal, de forma semelhante à evolução das Perturbações Depressivas. Relativamente ao tratamento das perturbações da ansiedade em particular, importa fazer referência a resultados do último Estudo Epidemiológico da Saúde Mental em Portugal (coordenado pelo Prof. Caldas Almeida), o qual revela que, numa amostra de 8325 indivíduos (aleatória e representativa da população nacional), mais de um quinto das pessoas entrevistadas (22.9 % da amostra) apresenta uma perturbação psiquiátrica nos 12 meses anteriores ao estudo.
Isto significa que Portugal tem, em conjunto com a Irlanda do Norte, a mais elevada prevalência de doenças psiquiátricas na Europa. Além disso, ainda de acordo com o mesmo estudo, a população portuguesa encontra-se entre as mais altas da Europa, em todos os grupos de perturbações. Em concordância com o PNSM, onde Portugal mais se destaca dos outros países europeus é no grupo das perturbações de ansiedade (Wang et al., 2011). De acordo com os resultados do Estudo, o grupo das perturbações de ansiedade é o que apresenta uma prevalência mais elevada (16.5%), seguido do grupo das perturbações do humor, com uma prevalência de 7.9%.
A EXPERIÊNCIA (TESTEMUNHOS REAIS)
Estava no trabalho, não que houvesse algo particularmente preocupante naquele dia… De repente, como se do nada… aquele mal estar… e uma dor forte no peito. Achava que não conseguia respirar! Não sou nada destas coisas, ainda por cima faço desporto com regularidade… mas confesso que tive medo, muito medo… Tive que ir para o Hospital.
Miguel, 43 anos, Novembro 2017, Diretor de Sistemas Informação
De repente, comecei a ficar nervoso, o coração a bater, fiquei com falta de ar e pensei, vou morrer! Foi aterrador! […] eu sei que sofro por antecipação… e tenho um bocado a mania de imaginar o pior cenário a acontecer no futuro. No trabalho é onde mais se manifesta… é onde passo mais tempo…
João, 40 anos, Agosto 2017, Técnico Superior
A AÇÃO
Havendo poucas diretrizes de ação para este tema, é no Programa Nacional para a Saúde Mental (2017) que encontramos estabelecido como objetivo o aumento em 30% de ações de promoção da saúde mental e de prevenção das doenças mentais (até 2020), nomeadamente em contexto laboral, especificamente de prevenção da doença mental. Neste contexto, o destaque para a caracterização de Riscos Psicossociais Associados ao Trabalho, levantamento de índices de bem-estar no trabalho, exercício de lideranças saudáveis e não-tóxicas, entre outros. É também neste contexto (laboral) que, até ao momento, foram realizadas menos ações da especialidade – quer preventivas, quer interventivas. Prevê-se, por isso, uma maior sensibilização das empresas face aos factos, que decorrem naturalmente da própria evolução social e económica presente. Essa sensibilização é necessária, não apenas no sentido em que proporciona um maior entendimento dos casos, mas porque o investimento na saúde e bem-estar dos colaboradores é sinónimo de desenvolvimento humano e de sustentabilidade. Não se trata de encontrar vítimas, trata-se antes de formar agentes-chave nas organizações que promovam a saúde mental e a qualidade de vida, que saibam reconhecer sinais e levantar informações sólidas, que se envolvam na implementação de planos eficazes e fundamentados, que promovam continuamente essa medida de referência da e para a organização.
Mara Castro Correia
Especialista em Psicologia do Trabalho e das Organizações
maracastrocorreia@gmail.com