Platão dizia que o preço pago pelos homens bons, pela sua indiferença face aos assuntos públicos, é serem governados por homens maus. Aprendemos com os antigos, e a experiência confirma-o, que o bem é definitivamente superior ao mal, mas que este se instala quando o primeiro vacila, recua, se abstém ou desiste. É, por isso, dever de todos aqueles que querem o bem comum, fazerem ouvir a sua voz e defenderem o espaço de influência ao seu alcance. Quem não o fizer, é cúmplice do mal e, pelas suas consequências, deverá assumir plenas responsabilidades, sem desculpas ou falsas incriminações. No momento crítico que atravessamos, em que está em perigo o património deste país secular e o futuro dos nossos descendentes, o leitor sabe bem do que estou a falar.
Em annus horribilis de inevitável bancarrota e austeridade, o milagre está menos na intervenção do FEEF/FMI do que na nossa mudança de atitude face aos assuntos públicos. O bem comum conquista-se com a assunção das nossas responsabilidades, seja em que situação for. As particularidades de cada circunstância devem ser tidas em conta apenas para escolher a táctica mais eficaz, nunca para pôr em causa os princípios éticos e o dever de praticar o bem. Não se tolera, assim, o espectáculo indecente, despudorado e infantilista a que se tem assistido, de mentira, deturpação e desculpabilização a rodos, por parte de quem assumiu a altíssima responsabilidade de nos governar. Nem a bajulação e o oportunismo obscenos daqueles que têm sido cúmplices, por acção, omissão ou (im)puro silêncio, de todos os desmandos do poder. Evidentemente que, assim, as coisas vão acabar pior do que já estão, sendo de lamentar que o azar dos pecadores arraste os justos na sua descida aos infernos.
Face ao abuso do poder, sequestrado por gente de fraco carácter que mais merece o veredicto judicial do que o resultado eleitoral, resta-nos resistir. Para pior já basta assim e a ilusão não enche barrigas, caminhando-se “de vitória em vitória” até à derrota final. Que sorte madrasta a nossa, violentados e espoliados por um poder sem escrúpulos, maquiavélico e esquizofrénico! Muitos perderam definitivamente a confiança e a esperança na classe política, agarrando-se assustados a um pretenso salvador da pátria que, qual lobo mau disfarçado de avózinha, se prepara para a refeição final. Sejamos racionais, estejamos alerta, mantenhamos a confiança, sejamos exigentes e responsabilizemos quem escolhemos. Isto significa assumirmos plenamente as nossas próprias responsabilidades, tanto as que nos levaram a fazer más opções no passado, como as que nos levarão a decidir num futuro próximo, da melhor forma que soubermos e pudermos, mesmo cheios de dúvidas e incertezas.