As modernas Ágoras

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Eu adoro supermercados. Aliás qualquer caldense que se preze, pela-se por um supermercado. Não admira que tenhamos oito grandes superfícies como espaços autónomos nas Caldas (contando com um no concelho de Óbidos construído junto à malha urbana da nossa cidade) e estejam dois a serem construídos e um terceiro já em fase de intenção. Temos mais grandes superfícies na nossa cidade que museus e faria todo o sentido unirmo-nos a uma rede de cidades que fazem dos supermercados o seu Forum Cívico, como a Ágora dos antigos gregos.
Um amigo dizia-me há tempos que os nossos supermercados entre as 18h e as 20h eram o maior espaço de socialização da cidade. Era lá que encontrava os seus amigos, distribuídos entre a zona de vinhos e a zona de frescos.
Quando um amigo caldense radicado noutra cidade, vem cá por um ou dois dias e me pergunta onde pode encontrar os amigos, eu recordo-me dessa observação e invariavelmente sugiro-lhe um supermercado.
Devemos muito aos supermercados da cidade. Se não fossem eles, não haveria pontos de encontro, agora que se perdeu o hábito de nos reunirmos com os amigos nas esplanadas e cafés após as compras de final do dia, derivado do fecho das mercearias e minimercados de bairro, dos talhos e das peixarias, das charcutarias e pequenas lojas de confecção, das lojas de electrodomésticos e drogarias, de grande parte do comércio tradicional, enfim.
Felizmente vieram os supermercados para absorver uma parte, pequena é certo, dos desempregados do comércio de rua, patrões inclusive. Não admira que eu goste tanto desta fartura de supermercados. E entendo muito bem esta necessidade de aumentar o seu número. Em qualquer um perco mais tempo na fila de pagamento do que nas compras propriamente ditas. Eu compreendo que os seus proprietários precisem de salvaguardar as suas receitas para manter os postos de trabalho e não contratem mais pessoas para as caixas de saída. É sempre preferível abrir mais um supermercado do outro lado da rua. Aliás a maioria das caixas de saída estão para os supermercados como a segunda e terceira faixa de rodagem na A13. Estão à espera do futuro. É obra já feita. Daí que abrir mais supermercados vai contribuir para eu não esperar tanto tempo para pagar, ou na fila da charcutaria que é um dos maiores momentos de socialização (Deus os tenha!).
Também adoro eucaliptos. Não me entendam mal. Eu gosto mesmo do cheiro e das sombras dos eucaliptos como gosto de todas as árvores. Não gosto de baldios nem de mata rasteira. Gosto de bosques e florestas. O que eu não gosto é de eucaliptos a tomar o lugar dos nossos carvalhos e castanheiros, das nogueiras e pinhais, dos pomares. Eu gosto de maçãs e peras, de cerejas e laranjas, já de pasta de papel não sou grande apreciador.
Qualquer dia terei que comprar também as frutas num supermercado e qualquer dia perderei o hábito de ir à praça. E qualquer dia a praça da fruta terá o mesmo destino do comércio tradicional e quando isso acontecer todos os dias da cidade serão iguais aos sábados e domingos à tarde, com ruas desertas porque o coração da cidade passou da praça para as grandes superfícies da cintura externa. E depois tenho de responder aos turistas, nacionais e estrangeiros, onde estão as pessoas e o que podem encontrar aberto. Eu sugiro-lhes visitarem os museus. E os supermercados.
Animem-se. Vamos ter mais locais de convívio na cidade.

Paulo Caiado

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