O mundo anda estranho e tormentoso. A coisa não é de agora, mas nos últimos anos tem crescido uma sensação de perplexidade a cada novo acto do teatro da política internacional.
Confesso alguma dificuldade em escrever sobre as figuras sinistras dos nossos tempos. É um desconforto que me ataca as entranhas cada vez que tento o exercício de reflectir sobre Erdoan, Putin, José Eduardo dos Santos ou Trump. Nem vale a pena trazer aqui a Correia do Norte, que mais parece uma história de ficção científica que se passa noutro planeta. Ou a Síria, onde a confusão e a desinformação é tal que não é possível saber quem mente mais, já que a verdade há muito se ausentou dessas paragens. Com os acontecimentos mais recentes, em que a América volta a uma postura mais interventiva, e ainda não se percebe se é um episódio pontual um uma alteração estratégica de fundo, o mundo não ficou mais tranquilo. Antes pelo contrário. A intensificação dos conflitos no Médio Oriente, com o encarniçamento da ditadura Turca e a abertura de um novo conflito na Coreia, pode mudar drasticamente o “xadrez” mundial e os periclitantes equilíbrios em que temos vivido.
Por cá a nossa Geringonça tem-se aguentado mais e melhor do que qualquer analista se atrevia a vaticinar. Este acordo parlamentar de esquerda, que tem suportado um governo do PS, tem avançado entre algumas contradições e afinações pontuais, não deixando de ser um exemplo de capacidade política e sobretudo de capacidade negocial dos três partidos que suportam o governo na Assembleia da República. Ao contrário do que também previam os analistas “encartados” que vimos a perorar regularmente nos ecrans domésticos, o acordo das esquerdas não se esgotou assim tão depressa. Há ainda muita coisa a fazer à esquerda, assim o PS queira continuar a governar nesse sentido, ao mesmo tempo que lá vai pondo as contas em ordem, como Bruxelas quer, para desgosto e muito evidente inveja da direita, que não teve essa capacidade. Uma política e um programa de esquerda tem muito ainda a caminhar até equilibrar um país que viveu décadas sobre uma ideologia hegemónica de pensamento único e orientado para a teologia do mercado. Procurar o equilíbrio entre um mercado saudável e a satisfação de necessidades sociais da população, que não podem depender da lei da oferta e procura, é um exercício delicado, mas é o exercício que vale a pena para quem quer fazer política à esquerda, com um sentido de serviço público pelo todo social. A nossa Geringonça veio recentemente marcar a inversão da tendência de crescimento da extrema direita na Europa e o desanuviamento que se sentiu na atmosfera política nacional têm contribuído para provar que há sempre alternativas por muito que nos queiram impor uma solução única com muita “catequese” mediática. Esta alteração, esta nova política, só se deu devido ao crescimento eleitoral da esquerda.
Em breve chegarão as eleições autárquicas e começa agora a fase de constituição de listas e apresentação de candidatos a todos os órgãos. Estas eleições são uma clara conquista do nosso 25 de Abril. Esta democracia de proximidade, com a eleição das Câmaras e Assembleias Municipais e das Assembleias de Freguesias é o momento de maior aproximação dos cidadãos à política. Essa proximidade é ainda maior por os candidatos emergirem directamente dos pequenos meios e das populações que os elegem. Uma forte participação em todas as listas partidárias será um forte sinal da saúde da nossa democracia. O BE gostaria de fazer listas a todas as freguesias das Caldas da Rainha. Para isso é preciso que apareçam mais pessoas disponíveis para participarem numa dinâmica de mudança. Se queremos mudar o mundo, o melhor é começarmos pela nossa freguesia.