Crónica do Québec (Canadá) – A «Liberté 55»

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O título desta crónica, em Português e como facilmente compreenderão significa, Liberdade 55.
No Québec, a expressão Liberté 55 era slogan publicitário corrente, que nos entrava e continua a entrar ainda que em menor escala, em casa, através das companhias de seguros e outros conselheiros financeiros, nem todos muito honestos, sobretudo até finais de 2007.  Isto é, antes da actual crise financeira começar a dar os primeiros sinais no ano seguinte de 2008.

Respondia-se assim, à ambição de todos os trabalhadores poderem começar a gozar uma merecida reforma a partir dos  55 anos. Na altura parecia fácil a concretização de tal objectivo, e sobretudo, para nós portugueses que conheciamos todos, variadíssimos casos de amigos e familiares que se reformavam, ou aposentavam em Portugal pouco depois dos 45 anos. Afinal, o direito à reforma ainda nem tem sequer um século de existência e é normal que as pessoas após determinado número de anos de trabalho ininterrupto achem que o Estado ou alguém que o substitua lhes pague durante todos os anos que lhes restam de vida , uma existência desafogada e sem outra preocupação que não seja, viver.
Mas a evolução demográfica no século XXI não é a mesma da dos inícios do século XX. Dentro de 40 anos a percentagem de pessoas com mais de 65 anos atingirá 27% na América do Norte, e na Europa pior ainda, será de 34%. O Québec estará mais perto das percentagens europeias que das norte americanas. Nas próximas décadas (as décadas dos nossos filhos afinal) a percentagem de pessoas ditas, idosas, aumentará de forma exponencial, e a nosssa sociedade tornar-se-á numa sociedade de cabelos brancos.
Para fazer face a esta situação, as autoridades canadianas (em Portugal, como de costume,  daqui a alguns anos….) discutem permanentemente o tema, trabalho após a reforma. É que, apenas nos sete anos entre 1998 e 2005 e no Québec, a percentagem de homens entre 65 e 74 anos que ocupam um trabalho remunerado passou oficialmente de 14% para 23%. Segundo alguns, se a estes juntarmos todos aqueles que trabalham, como sói dizer-se, «por debaixo da mesa», esta percentagem ultrapassaria largamente os 40%. No caso das mulheres de 65 a 74 anos, e durante o mesmo período, a percentagem daquelas que ocupam oficialmente um posto de trabalho remunerado passou de 7% para 10%.
Resumindo, o slogan publicitário «Liberté 55», sob a forma de reforma completa e definitiva, apenas beneficia uma ínfima parte da população. Trata-se de uma situação positiva ou negativa? Há diversas opiniões sobre isto.
No entanto, uma coisa parece certa: contrariamente à opinião popular, deixar de trabalhar não é prejudicial à saúde.
No entanto aqui, a maioria das pessoas tem uma visão flexível da reforma. Normalmente procura-se uma diminuição progressiva e calculada do tempo dedicado, ou passado no trabalho. Quer isto dizer, ter o controlo sobre o tempo que dedicamos ao trabalho, o que afinal, ainda escapa à grande maioria das pessoas. Segundo o investigador inglês, Michael Marmont, o maior ou menor controlo que os indivíduos exercem sobre o seu trabalho é um factor determinante da sua longevidade e do seu estado de saúde. Quanto maior fôr o controlo (logo menor o stress) que exercemos sobre o nosso trabalho, maior longevidade e com melhor saúde viveremos.
Considerando que a maioria das pessoas que trabalham após a idade de reforma, aumentando assim os seus rendimentos,  o fazem por necessidade, a população canadiana procura actualmente um compromisso entre trabalho e reforma pura e simples. Se a isto juntarmos o facto de que a maioria das pessoas que trabalham depois da idade de reforma retiram algum  prazer da sua actividade e que todo o saber acumulado por longos anos de vida activa  não deverá de forma alguma ser pura e simplesmente abandonado, constituindo um activo que as sociedades desenvolvidas não podem desprezar.  O que deveremos conseguir é que nesta última fase activa da vida de cada um, deverá ser o trabalho a adaptar-se às pessoas e não o inverso, isto é, serem as pessoas a adaptar-se ao trabalho.

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