Dezembro é o mês do Natal e do meu aniversário, duas ocasiões festivas para mim, principalmente quando era criança e adolescente (anos 60 e 70 do século XX). Nesse tempo, adorava o mês de dezembro.
No meu aniversário, havia jantar festivo. O núcleo familiar, já de si numeroso, era um pouco mais alargado porque somávamos, quase sistematicamente, treze pessoas, o que determinava a recusa da minha avó materna em sentar-se à mesa. Segundo ela, se assim fosse, uma de duas pessoas morreria: a mais velha ou a mais nova. Como a mais velha era ela, apressava-se a esclarecer que não era por si, mas pelo meu irmão mais novo, que não se sentava.
Todos vestíamos a nossa melhor roupa, preceito extensivo à criada (assim designada na época), que nesse dia usava farda preta e avental plissado de cambraia. O menu incluía peixe, carne, sobremesas variadas e vinho de melhor qualidade para os adultos e, champanhe para o brinde, claro. Eram usados os melhores conjuntos de pratos, copos, taças, talheres, toalhas, saídos expressamente dos armários para essa ocasião.
Ritual equivalente acontecia no jantar do dia 25 de dezembro. Ao contrário da maioria dos lares portugueses, como vim a perceber mais tarde, em minha casa o dia 24 era significativo apenas por duas razões: confeção das filhozes e preparação da chaminé. O presépio tinha sido armado dois ou três dias antes. Após o jantar, cada um de nós punha o respetivo sapato na chaminé para que, durante a noite, junto dele fossem depositados os presentes que, naquele tempo, eram oferecidos pelo Menino Jesus. Confesso que nunca acreditei no Pai Natal, visto só o ter conhecido em adulta.
Deitávamo-nos em polvorosa, num frenesim para que fosse manhã e, logo cedo, nos puséssemos em fila, do mais novo ao mais velho, para descobrirmos entusiasmados aquele monte de presentes que preenchia a chaminé. A seguir, abríamo-los e brincávamos o mais que podíamos, tomávamos o pequeno-almoço, e saíamos para assistirmos à missa do meio-dia. Por isso, o almoço não era a refeição principal, mas sim o jantar, preparado com mais vagar.
Desde então, nunca me conformei com a abertura das prendas a 24 de dezembro, tal como nunca me habituei à usurpação do papel do Menino Jesus pelo Pai Natal. Aliás, a antecipação é cada vez maior e mais generalizada, na medida em que as decorações natalícias antecedem tanto o Natal que quando este chega, finalmente, parece que já está completamente ultrapassado. ■