Vivemos um tempo em que quase tudo se parece jogar nesse submundo das redes sociais. O sucesso é medido pelo número de likes e comentários. E, não por acaso, há políticos (e alguns aqui tão perto) que preferem comunicar através desse espaço “mediático” e falar “diretamente” ao povo, até porque assim se fintam as perguntas incómodas. Se a crítica for verrinosa, nada como ter uma guarda pretoriana para destratar o maldizente.
Vivemos, assim, um tempo em que mais importante do que ser, o fundamental é parecer. E em que para influenciar é preciso ter capacidade de mobilização e liderança. Se isto é bom ou mau para a nossa sociedade, só o tempo o dirá. Mas há dados objetivos que nos devem fazer refletir, sobretudo quando valores como a cidadania e a participação cívica, que foram conquistas que demoraram décadas a garantir, são tão facilmente substituídos por intervenções em caixas de comentários no Facebook ou no Twitter.
Aludimos a esta reflexão a propósito da recente vigília e abraço ao Hospital das Caldas da Rainha, que apenas conseguiu arrastar cerca de uma centena de pessoas. Julgava-se que, pelo menos, matérias essenciais como a prestação de cuidados de saúde fossem capazes de mobilizar as instituições e a sociedade civil, até porque o problema é grave e arrasta-se há demasiado tempo. Acontece que apenas umas dezenas de pessoas, alguns dos quais profissionais de saúde, foram capazes de patentear publicamente a insatisfação com o estado a que chegou o nosso Hospital. Se fossem muitas centenas e houvesse televisão, talvez no Ministério da Saúde alguém hesitasse. Assim, há quem esfregue as mãos de contente. Porque a perceção é (quase) tudo. ■