Quando, em 2008 e após décadas sem uma sala de espectáculos condigna, o Município de Caldas da Rainha viu inaugurado o Centro Cultural e de Congressos (CCC), considerei a sua construção uma extravagante desconformidade em face da inexistência de vida cultural na cidade.
Pensava eu – até certo ponto penso ainda – que a construção de infraestruturas deve visar a satisfação de necessidades concretas do público e dos agentes culturais, pelo que, sem uma vida cultural digna de nota, era despropositada, ou pelo menos extemporânea, a construção de uma sala de espectáculos de dimensão semelhante à do CCC.
Por preconceito ou falha de julgamento, resolvi ignorar que a existência de uma infraestrutura de qualidade pode, em si mesma, representar um factor de criação e dinamização de hábitos culturais, sobretudo se a sua administração formular uma programação consistente e portadora de sentido e, que, não ignorando as especificidades do público a que se destina, consiga ir abrindo novos horizontes e acrescentando valor ao ambiente cultural da comunidade e criando públicos para novas, ou eruditas, formas de expressão cultural.
Olhando para trás e analisando o que ocorreu nos últimos onze anos, considero justo admitir que o CCC dinamizou a vida cultural da cidade, permitindo a quem já tinha hábitos culturais a fruição de espectáculos de qualidade, sem o incómodo de longas viagens e os correlativos inconvenientes de tempo e dinheiro, e a quem não tinha de os ir adquirindo, paulatina, mas lentamente, como sempre ocorre no que à mudança de hábitos culturais diz respeito.
É justo também admitir que esta dinamização não se verificou no imediato, antes veio a acentuar-se ao longo do tempo, contando para isso com algumas iniciativas de reconhecível mérito, como seja o festival Caldas Nice Jazz ou as parcerias com Orquestras Sinfónicas de relevo no panorama nacional e que vêm permitindo aos caldenses beneficiarem de espectáculos de elevada qualidade a preços módicos.
Tudo ponderado, todavia, o CCC está ainda muito aquém daquilo que poderia ser, sobretudo num momento em que os Caldenses já se habituaram a ter uma sala condigna na cidade, o momento económico é de algum crescimento e a região beneficia de um volume não despiciendo de turistas e residentes estrangeiros, naquilo a que se poderia chamar em linguagem económica: uma conjuntura favorável ao desenvolvimento.
Não ignoro que a dinamização de uma estrutura desta dimensão e com estas características, quando inserida numa comunidade relativamente pequena e com hábitos culturais erráticos e pouco consolidados, não é tarefa fácil, o que, de algum modo, vai ao encontro da minha suspeita inicial de que o projecto padecia de uma ambição desmedida em face da realidade.
No entanto, o sucesso parcial que já logrou atingir, parece confirmar que o CCC pode e deve ir mais longe na ambição de se tornar num polo dinamizador da cultura e das artes, no município de Caldas da Rainha e de toda a região oeste.
Assim, e porque as conjunturas favoráveis, por norma, não duram muito e são sistematicamente seguidas de perto por conjunturas adversas, seria importante que a administração do CCC soubesse aproveitar o momento para, numa dupla perspectiva de aprofundamento do caminho percorrido e de maior viabilização económica desta infraestrutura, evoluir de uma programação de valor, mas algo vacilante e circunscrita em termos estéticos, para uma programação consistente, porventura mais abrangente quanto a públicos e sensibilidades, ancorada numa estratégia cultural e na ampla divulgação de espectáculos, em prol da consolidação de Caldas como cidade de cultura e artes.
Conceição Henriques
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