Quando ouvimos falar no “melhor do mundo”, muitos portugueses pensam logo no Cristiano Ronaldo. Entre os mais entusiastas da política caseira, há até quem diga que o melhor do mundo é o Centeno… Enfim, uma vez que ontem foi o dia 1 de junho, convém recordar a velhinha frase que nos ensina que o melhor do mundo são mesmo as crianças.
A nossa sociedade, organizada num Estado de Direito, tem a obrigação de garantir a efetiva proteção dos seus elementos mais vulneráveis. Entre esses elementos estão as crianças. Assim, a obrigação de protegermos as nossas crianças não é apenas moral ou religiosa, mas é, para além do mais, uma obrigação jurídica.
Muito já se evoluiu neste campo. A própria Declaração Universal dos Direitos da Criança impõe ao legislador que, sempre que elabora legislação nova, tenha em conta o superior interesse da criança.
Tive o privilégio de presidir à Comissão de Proteção de Crianças e Jovens das Caldas da Rainha entre 2007 e 2013. Nesses anos confirmei a qualidade humana e técnica das pessoas que dão muito de si, muito mais do que profissionalmente lhes seria exigido, para que os direitos das nossas crianças sejam salvaguardados. Verifiquei nesse tempo que, apesar das Caldas da Rainha não ser um concelho problema, não deixa de ser um concelho com problemas. Aprendi também que é possível conjugar os esforços das várias entidades e instituições para criar redes, de preferência multidisciplinares, para encontrar melhores soluções para os problemas que se vão encontrando.
Não basta, porém, solucionar os problemas que vão aparecendo. É preciso trabalhar preventivamente para garantir que a comunidade, como um todo, esteja preparada para evitar novos casos de crianças em perigo. A CPCJ das Caldas da Rainha deu vários passos nessa direção. A título de exemplo lembre-se o pequeno filme chamado “Os Príncipes”, gravado com o objetivo de divulgar a existência da CPCJ e de promover os direitos das crianças; bem como os protocolos celebrados com variadíssimas coletividades recreativas, culturais e desportivas no sentido de integrarem crianças em perigo. O sentimento de pertença a um grupo que pratica um desporto, que toca ou dança uma música ou que faz uma qualquer atividade saudável continua a ser uma das melhores formas de afastar as crianças do mundo da delinquência.
É muito bom vermos a quantidade de eventos dirigidos a crianças por ocasião do Dia Mundial da Criança. Importa, no entanto, prolongar esse espírito ao longo de todo o ano para que as Caldas da Rainha se tornem, cada vez mais, numa cidade amiga das crianças.
Falta dar, definitivamente, esse passo civilizacional de percebermos que as crianças não são propriedade dos seus pais. As crianças, até por serem cada vez mais raras, são algo precioso de toda a comunidade. Como se diz numa tribo da Amazónia, a aldeia é dos adultos, pois são eles que têm força para a proteger; a floresta é dos velhos, pois são eles que têm a sabedoria para a manter; o Mundo… esse é das crianças pois são elas que terão de viver nele no futuro.
Por tudo isto, se é certo que o melhor do mundo são as crianças, não podem os adultos esquecer que, para as crianças, o melhor do mundo têm de ser os adultos. Cabe-nos a todos manter essa crença como válida e não desiludirmos as crianças.