Cresci a ouvir falar em família na importância dos bons exemplos. Dá-los, recebe-los de mente aberta e com vontade de os seguir.
Na altura dizia-se “influenciar” os outros.
Vários anos e experiências depois o resultado foi uma entranhada noção da importância dos ambientes envolventes. Para tudo.
Tento sempre passar essa mensagem por achar que é útil e se enquadra na responsabilidade social que defendo, além de, claro, atuar em conformidade.
Assim muito provavelmente se continuar a ler estas minhas crónicas Olhar e Ver vai ser desafiado/a a pensar na importância do “tónus social” e do “ambiente amigo da atividade económica” (já agora… este último muito para além da necessária componente fiscal também passa por pouca burocracia, cumprimento de prazos e atitudes coerentes)
Vem tudo isto a propósito do objetivo desta crónica: chamar a atenção para o mau papel que a repetição exacerbada em todos os canais das mesmas reportagens, com camaras e microfones apontados à porta de Tribunais vários e protestos sobre tudo e nada, desempenham para o ambiente económico e social.
Raramente os bons exemplos são estrelas na nossa comunicação social, pelo menos na atividade económica que cria valor.
E quando não se trata de corrupções ou escândalos ou cenas de Tribunal (que cada órgão de soberania faça o seu papel e em tempo útil é o desejável em democracia e não a exposição publica permanente e minuciosa a que quase somos obrigados a assistir), passa-se à Saúde: doenças e Hospitais
Esta é a alternativa, se não há nenhum “escândalo do dia”, as camaras e microfones dirigem-se para os Hospitais e Serviços de Saúde, arranjam-se noticias de estatísticas duvidosas, inventam-se polémicas quase ridículas, rapidamente aproveitadas pelas corporações respetivas que as multiplicam em circuito fechado.
Mas este cenário não é novo.
No principio do século, concretamente em 2006, porque não conseguia perceber o desanimo instalado no nosso país depois de tanto otimismo com o fantástico êxito da Expo 98, inauguração da Ponte Vasco da Gama e outras realizações de vulto, lancei com outros parceiros do sector audiovisual um projeto de tv por streaming chamado “O Lado Solar”.
Assumíamos como projeto editorial só tratar de boas noticias (bons exemplos…)
Ficámos a uma unha negra de o concretizar.
Na altura falei com conceituados jornalistas amigos que acharam que não era deontológico, e ainda que compreendessem a ideia me explicavam pacientemente que não podíamos escolher as noticias.
Ora bem: passados doze anos em que fui vencida mas não convencida pergunto:
Será que sistematicamente nada se passa de bom perto de nós e no resto do mundo? Essas noticias podem/devem ser omitidas? ignoradas?
A falta de equilíbrio não reflete a realidade e só cria mais egoísmo e isolamento, nada adequado aos tempos que vivemos.
Todas estas interrogações para além do efeito imediato de descrença, desanimo e desconfiança…uma permanente nuvem negra sobre as nossas cabeças, mesmo que esteja sol, nada propicio ao tal ambiente amigo da atividade económica.
A quem interessa isso?
Haverá algum órgão de comunicação que tenha a coragem de ir em sentido contrário quebrando essa atração pelo sangue nas ruas a as florestas a arder?
Até ao “Olhar e Ver” de 26 Março.
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