Os cursos EFA são uma verdadeira nova oportunidade

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“Se quiseres um ano de prosperidade, semeia cereais.
Se quiseres dez anos de prosperidade, planta árvores.
Se quiseres cem anos de prosperidade, educa os homens.”
Provérbio chinês: guanzi (c. 645 A.C.)

Os cursos EFA (Educação e Formação de Adultos) surgiram em Portugal em 2000 com o objetivo de promover a aprendizagem ao longo da vida e melhorar a empregabilidade da população ativa. Desde 2005, estes cursos passaram a integrar a Iniciativa Novas Oportunidades que tinha como objetivo, entre outros, promover uma melhor adequação da educação e formação de adultos às expetativas e condições de participação da população ativa.
Assim, os cursos EFA enquadram-se nas grandes linhas orientadoras da aprendizagem ao longo da vida seguidas na Europa e têm como principais objetivos aumentar a competitividade, promover a empregabilidade, reforçar a coesão social e elevar os níveis de educação e qualificação da população.
Partindo destes pressupostos, no âmbito de uma tese de doutoramento da Universidade de Granada, foi realizado um estudo pela autora para verificar o impacto que os cursos EFA de nível B3, isto é, com equivalência ao 9º ano de escolaridade, tiveram na introdução de mudanças significativas nos projetos de vida dos adultos a vários níveis: pessoal, social e profissional. Outro objetivo do estudo era aferir se os adultos que frequentaram estes cursos adquiriram competências que lhes permitam enfrentar os desafios da nova sociedade e do mercado de trabalho, tal como preconizado pelas políticas europeias relativamente à educação de adultos.
Sendo a investigadora formadora no Cencal, a investigação era um estudo de caso, cuja população era composta por 59 adultos que frequentaram com sucesso um curso EFA B3 no Cencal, entre 2006 e 2012.
O Cencal iniciou a sua atividade em 1981 com o objetivo de ministrar formação profissional e dar apoio técnico ao sector da cerâmica. Com a entrada de Portugal na CEE e com o acesso ao Fundo Social Europeu, a atividade formativa do Cencal quadruplicou, tendo sido introduzidos alguns aspetos inovadores. A partir desta altura, o sistema de formação evoluiu para um sistema mais escolar, surgindo o primeiro curso no sistema aprendizagem, na área da cerâmica, tendo este tipo de formação assumido particular relevância a partir de 2003.
A partir de 2006, o Cencal começou a desenvolver cursos EFA, ministrando o primeiro curso de nível B3, e a partir de 2008 houve um incremento de cursos EFA, de nível básico e secundário, tanto em horário laboral como em horário pós-laboral.
Ao longo dos tempos, o Cencal tem vindo a adaptar-se à realidade, sendo flexível e reajustando-se às novas formações que vão surgindo e aos novos públicos, embora a atividade do Centro esteja condicionada pelos recursos físicos e materiais.
Para a realização deste estudo foi utilizada uma metodologia mista. Assim, foram realizadas cinco entrevistas: uma ao Diretor do Departamento de Formação do Cencal, duas a dois empresários/tutores que acompanharam os formandos ao longo da sua formação em contexto de trabalho e duas a dois formadores de Linguagem e Comunicação. Também se realizaram inquéritos aos formandos que frequentaram os cursos EFA B3 e, de modo a complementar os dados obtidos no inquérito e a compreender melhor os resultados, foram realizados dois grupos de discussão com formandos. Com estas entrevistas pretendíamos ficar a conhecer a opinião dos vários entrevistados sobre as questões colocadas, tentando compreender as diferentes perspetivas.
Depois de analisados os resultados, pode-se concluir que além do aumento da certificação, o curso EFA B3 também teve implicações na vida profissional de mais de metade dos formandos, destacando-se: a inserção no mercado de trabalho, a progressão na carreira profissional e mudanças no seu local de trabalho, algumas reorientações profissionais, merecendo destaque a criação do próprio emprego, a descoberta de uma nova vocação e a mudança de profissão.
Não esquecendo que a maioria dos formandos estava desempregada antes de frequentar o curso EFA, e tendo em conta a conjuntura atual, é de salientar que neste momento mais de metade dos adultos encontra-se a trabalhar, a maioria por conta de outrem, sentindo-se mais motivados e com uma melhor preparação para a vida profissional, pois consideram que adquiriram muitas competências ao longo do curso. Este facto leva-nos a concluir que o facto de os adultos obterem a escolaridade obrigatória os ajudou a integrarem-se no mercado de trabalho. A maioria dos adultos tem vocação para a área profissional do curso e motivação para a formação e para a aprendizagem, ou seja, para a aquisição de conhecimentos e competências, principalmente se lhes reconhecerem utilidade para o seu dia-a-dia pessoal e profissional.
As competências pessoais e sociais que os adultos adquiriram e desenvolveram tiveram um impacto muito positivo na vida profissional dos adultos que se tornaram mais pró-ativos na procura de emprego e reorientaram e (re)definiram os seus objetivos profissionais. Alguns destes formandos criaram o seu próprio emprego, outros descobriram a vocação para uma nova profissão e outros ainda mudaram de profissão, ou seja, o curso contribuiu para o aumento da empregabilidade. O aumento de conhecimentos e competências, assim como o aumento da motivação para a aprendizagem e para enfrentarem o mercado de trabalho, levaram a que os adultos valorizassem mais o seu percurso profissional e investissem em formação, de modo a estarem mais e melhor preparados para as oportunidades de emprego.
À guisa de conclusão, podemos referir que os cursos EFA foram muito importantes para os adultos, pois permitiram-lhes obter certificação ao nível da escolaridade obrigatória, adquirir novas competências e conhecimentos teóricos e práticos e, como consequência, ingressar no mercado de trabalho, melhorar a sua qualidade de vida, aumentar a autoestima e a sua valorização pessoal e profissional. O curso permitiu-lhes ainda abrir os horizontes e criar novos projetos para o futuro, tanto a nível pessoal como a nível profissional.
Todos os que colaboraram neste estudo consideram a formação uma mais-valia, sendo a mesma muito importante para a aquisição e o aperfeiçoamento de competências (transversais e técnicas), tendo consciência que a formação é um investimento no futuro. A escolaridade obrigatória, assim como o real aumento de conhecimentos e competências, permite aos adultos candidatarem-se a novos empregos, melhorando desta forma o seu nível de vida. No caso destes formandos, o curso EFA foi uma verdadeira nova oportunidade.

anaPor: Ana Raimundo, Formadora de Linguagem e Comunicação no Cencal