PAÇOS DO CONCELHO – Cidade ecuménica

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Celebrou-se ontem o 13 de outubro, a última das aparições de Fátima. A visão que os pastorinhos tiveram da Senhora de Fátima, que tornou aquela localidade no destino de milhões de peregrinos ao longo dos anos, representa, principalmente para os cristãos mas também para quem professa outras religiões, a Paz e a reconciliação através duma figura maternal.
Há cerca de duas semanas morreu Shimon Peres, um dos fundadores do Estado de Israel, tendo o seu desaparecimento sido lamentado por todo o povo judaico mas também por inúmeras personalidades de outras religiões, como o Papa Francisco ou o Presidente da Autoridade Palestiniana.
Este é, pois, o momento certo para se voltar a acreditar no ecumenismo, a união das várias religiões.

No mundo de hoje, como acontece há séculos, ainda se mata em nome de Deus. O fenómeno do terrorismo é hoje, na cabeça de muitos, indissociável da questão religiosa. Cabe aos povos mais tolerantes e que melhor incluem a diversidade, a tarefa de demonstrar que a religião, seja ela qual for, é sinónimo de amor ao próximo e não de ódio.
Com o orgulho de termos o português António Guterres a caminho de promover consensos no lugar máximo da diplomacia mundial, fica lançado o desafio: fazer das Caldas da Rainha uma cidade ecuménica. Afirmar Caldas como uma cidade que promove a inclusão religiosa. Enquanto uns constroem muros, nós devíamos construir, simbolicamente, um espaço ecuménico, em que cristãos, judeus e muçulmanos pudessem celebrar os seus cultos religiosos. Um edifício inovador que constituísse, desde logo, a superação do desafio para os arquitetos, que teriam de inventar um espaço que permitisse a celebração, conjunta, das três religiões monoteístas. No mundo moderno, a atratividade das cidades faz-se, também, pela diferenciação do que oferecem. Passariam as Caldas a ser um destino de peregrinação, não de uma determinada religião, o que pode conduzir ao afastamento entre pessoas, mas antes das religiões, o que provoca a união, a tolerância e a inclusão da diversidade.
A laicidade do nosso poder político não pode representar o seu alheamento da religiosidade da comunidade que serve. Um Estado laico, como o nosso, não pode é professar oficialmente uma religião em detrimento das restantes. Um espaço ecuménico como o que agora se propõe é, assim, a afirmação da laicidade do nosso poder político. Não se pretende, como é óbvio, impor ao erário público os custos com semelhante obra mas poderia a nossa autarquia, com a capacidade negocial que se lhe reconhece, ser a entidade que promovesse o encontro de vontades dos representantes das religiões envolvidas e das entidades que se dispusessem a financiar este projeto para, desse modo, ficarem associadas à tolerância, à paz e à responsabilidade social.
Fugindo agora para assuntos mais terrenos, poderão os leitores perguntar se, estando esta crónica a promover a união de religiões diferentes, não estará também a abrir a porta à união de partidos tão diferentes como os que estão na oposição nas Caldas da Rainha. Será este um desafio à geringonça local? É indiferente. Por esta altura, já perceberam os envolvidos que o sucesso, ainda que passageiro, da geringonça de António Costa foi ter apanhado os eleitores de surpresa. Se as pessoas soubessem que o partido em que estavam a votar, fosse o PS, o PCP ou o Bloco, se iria juntar aos restantes para viabilizar um governo que não ganhou eleições, certamente que os resultados seriam ainda piores. Nas Caldas, uma anunciada união dos partidos minoritários, da esquerda à direita, dificilmente conseguiria derrubar o centro, representado pelo PSD. Ainda assim a tentação deve ser grande. A grande questão passa por saber quem encabeçaria a tal geringonça local. Mas essa é uma outra história que deverá ficar para crónicas futuras.

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