Quem espera por sapatos de defunto…

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«Quem espera por sapatos de defunto, arrisca-se a morrer descalço», alerta o ditado popular. 
O arranque (algo tétrico?) desta crónica deve-se, em parte, desde logo ao título que surge destacado na primeira página da edição de 17 de Julho deste jornal: «Passos Coelho diz que não sabe quando é que o Hospital Termal passa para a cidade». Lê-se, em seguida, que «não sabe quando haverá uma decisão sobre a cedência do Hospital Termal e do seu património para a autarquia, nem se esta será tomada antes das eleições legislativas». Convenhamos: o assumir da gestão do Hospital Termal pela autarquia (que manifestamente não tem vocação para tal) não significa, em si mesmo, a referida passagem para a cidade dado que, em boa verdade, da cidade sempre ele foi, desde a sua fundação («O Hospital que a Rainha tem nas Caldas») até à sua condição de Património do Estado, atestada pelas placas fixadas nas fachadas dos seus edifícios. Pelo contrário, na conjuntura actual, pode até significar a eventual queda na privatização e a consequente perda de uso público. Ora o 1º Ministro que a 15 de Maio se confessava impreparado para poder abordar a questão candente do Hospital, confirma agora os piores receios, em devido tempo levantados: o governo criou um facto consumado e portanto arrasta consigo a mácula enegrecida (pela incompetência e pelo preconceito ideológico) de tudo ter feito para encerrar, sem fim à vista, o Hospital Termal, não curando de quaisquer alternativas e não sendo pois possível prever quando e como se ultrapassará o impasse e ocorrerá a sua reabertura. Desfazer é fácil, refazer torna-se muito mais complexo… Alguns arautos, plenos de indulgente boa vontade, trombetearam que talvez a transferência de competências ainda pudesse acontecer durante este mês de Julho. Porém, o que se constata é que a inexorável realidade tem vindo a confirmar, cada vez mais e se preciso fosse, a justificação para o voto contra sobre este assunto, exercido pela CDU em sede de Assembleia Municipal.
No Hospital integrado no CHO, também o Ministro da Saúde, numa visita ocultada até à última hora e, tanto quanto se sabe, com doentes retirados de madrugada para dar às instalações um aspecto menos caótico, veio então anunciar verbas não especificadas para obras no Serviço de Urgências, o qual se encontra em indesmentível situação calamitosa. Sobre datas e calendário concreto, nem uma única palavra, o que permite ir alimentando o enleio até Outubro sem que nada efectivamente aconteça.
Quanto à Lagoa, após o arranque tardio dos actuais trabalhos (apenas parciais) de desassoreamento, com mais de quatro dezenas de estudos já efectuados, chega o caldense Secretário de Estado do Ambiente com outro projecto, a realizar em Setembro e apontado para Janeiro, sobre a sempiterna e nunca concretizada segunda fase de intervenção.
Quem quiser apostar dobrado contra singelo em como a maior parte destas perspectivas, entretanto lançadas, não irão lograr materialização, tem boas hipóteses de ganhar. O clima pré-eleitoral explica, evidentemente, muitas daquelas diligências. Vive-se um tempo no qual, invocando o rigor e a responsabilidade, embora se vá prometendo, se promete não prometer, tornando assim óbvios o descompromisso programático perante o escrutínio dos eleitores. O governo, sempre pronto a ajudar a Banca com milhares de milhões de Euros, desculpa-se com a falta de dinheiro, enquanto, a nível local, em pleno marasmo, PSD e CDS, com uma mão trocam enlevadamente alianças e com a outra, atrás das costas, escondem punhais afiados.
Só os incautos se poderão deixar enganar com a esperança vaga de sapatos de defunto. Não tardarão, desesperados, a descobrir-se descalços!…

José Carlos Faria
jcrffaria@gmail.com

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