Abordei na última crónica, há três semanas, a questão das ARUs – Áreas de Reabilitação Urbana, em que assinalei alguns dos benefícios ficais de que podem usufruir os proprietários que pretendam reabilitar os edifícios nelas inseridos e das intervenções no espaço público, da responsabilidade do Município, tendo referido que elas devem ir no sentido de adequar o espaço urbano às evoluções da vida humana, no que respeita à sofisticação e conforto, à mobilidade, ou à sustentabilidade ambiental.
Entre outras preocupações a que me referi e que existem, no centro das necessidades / comodidades fundamentais, com vista ao repovoamento dos centros desertificados, está a eterna questão do automóvel, circulação / estacionamento.
Se é uma realidade que o espaço urbano deve ser cada vez mais devolvido ao peão, como condição para uma melhor qualidade de vida e melhor qualidade ambiental, também é uma verdade que estamos a tratar de um meio de transporte, do qual não é possível abdicar. É preciso encontrar formas de equilibrar o uso do automóvel, a uma menor dependência dos habitantes.
O estacionamento, é uma necessidade, por vezes mais óbvia do que a questão da circulação propriamente dita e é preciso encontrar soluções corretas que cumpram e solucionem estas equações.
Não é possível por exemplo, transformar um “largo”, um local de convívio muitas vezes com uma “história” associada, em parque de estacionamento, como sucedeu por exemplo no Largo João de Deus, no centro histórico da cidade.
Ou, se queremos e devemos ir ao encontro das necessidades da histórica e icónica Praça da Fruta e do comércio tradicional, que obviamente necessitam que os seus clientes tenham condições tão próximas quanto possível dos cómodos e competitivos centros comerciais, não podemos acreditar que um estacionamento a 300 metros é uma solução, porque na verdade, nunca foi nem será.
Evidentemente que todos sabemos, que o estacionamento no centro da cidade, naquela zona vital do comércio e da Praça, em boa verdade não existe e o que existe é uma anarquia generalizada, onde ninguém sabe bem, onde e a que horas pode estacionar, sem transgredir. E claro que foi uma lacuna da dita e suposta “regeneração urbana”, o facto de não ter atendido e resolvido esta questão elementar e que um dia vai forçosamente ter que ser resolvida, ou definitivamente matamos não só a Praça, como o centro da cidade, enquanto área comercial e vivencial de excelência. Podíamos falar da proposta em que fui interveniente e apresentei publicamente, que permitia a continuação da circulação, mas por via subterrânea, criava dois pisos para 250 lugares de estacionamento, e um piso de arrumos para vendedores da Praça.
Solucionava o apoio fundamental à actividade do comércio e da própria Praça, dotando a área de características concorrenciais com os centros comerciais, contribuía decisivamente para o repovoamento do centro da cidade, em galopante desertificação e em que os antigos edifícios não têm solução para o automóvel e era ainda local de estacionamento indicado para o futuro e tão esperado complexo termal. Cumpria ainda a modernização do espaço público, devolvendo-o aos peões. Obviamente, por estas razões, este é um projecto adormecido, mas longe de estar esquecido, porque não é uma obra de fachada, mas uma inevitabilidade.
É preciso que em futuras intervenções, tenhamos em atenção esta questão do estacionamento, fundamental na vida das pessoas e quando falamos de espaço urbano, é sempre e primordialmente de pessoas que estamos a falar. Ou devia ser.
E nem só de parques subterrâneos se trata. Existem soluções à superfície, que não são uma invenção modernista, são soluções testadas e que resolvem problemas. Estamos a falar dos tão apregoados parquímetros, há muito prometidos e eternamente adiados, ou dos “silos” automóveis, que têm essa faculdade de permitirem as mais diversas localizações e dimensões.


































