Camilo Castelo Branco (1825-1890) foi poeta, tradutor, dramaturgo, cronista, biógrafo, investigador e crítico literário além de jornalista mas a sua personalidade afirmou-se de modo incomparável na novelística e na polémica.
Calisto Elói, deputado por Caçarelhos, anjo na sua terra, acaba em demónio na vida parlamentar de Lisboa que o promove a barão: «Eu tenho o desgosto de ter nascido num país em que o mestre-escola ganha cento e noventa réis por dia e as cantarinas, segundo me dizem, ganham quarenta moedas por noite».
Calisto Elói descobre um Parlamento onde tudo é especial, insólito e diferente: «os representantes da Nação, conquanto jurassem fidelidade à religião, eram aliás ateus; jurando fidelidade ao rei, injuriavam-no nas gazetas; jurando fidelidade à Nação, avexavam-na de tributos e alguns a queriam fundir na Espanha».
Embora casado, Calisto descobre em Lisboa o amor: «Somos todos de quebradiço barro; somos uns pucarinhos de Estremoz nas mãos infantis das mulheres. O tributo é fatal: quem o não pagou aos vinte anos, há-de pagá-lo aos quarenta e mais tarde, quando Deus quer… Deus ou o Demónio que eu não sei ao justo quem fiscaliza estes mal-aventurados sucessos de amor, que a história conta e a humanidade experimenta cada dia». No fim da história Calisto e a amada Ifigénia salvam-se com dois bebés (Mem e Egas) enquanto sua mulher Teodora e o primo Lopo se salvam com a sua criança Barnabé: «O amor é tão engenhoso como a natureza».
(Editora: Círculo de Leitores, Capa: José Antunes, Sobrecapa: Édouard Manet)
José do Carmo Francisco