Um médico das Caldas na Grande Guerra

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Gazeta das Caldas
Na estação termal de Cauterets – fotografia do álbum “Lourdes – Cauterets – Pau – Bordeaux”.

Entre Janeiro de 1918 e Maio de 1919, Fernando da Silva Correia esteve em França e preocupou-se em seguir um dos conselhos que o seu pai, o Dr. Joaquim Manuel Correia, lhe dirigiu: «aproveita o tempo revisitando terras e hospitais».
O seu interesse pelo termalismo, que viria a colocá-lo como médico no Hospital Rainha D. Leonor e também na direcção do Balneário das Águas Santas, levou-o a visitar a estação termal de Cauterets, junto aos Pirenéus. Esta visita terá despertado um interesse suplementar pelas suas águas, pois já em Portugal, o jovem médico continuou a seguir as suas vicissitudes.
Na edição de 25 de Junho de 1919 d’O Círculo das Caldas, publica a notícia “Tratamento pelas aguas das Caldas nos atacados por gazes asfixiantes” (à qual acedemos a partir de um recorte do jornal). O tenente-médico miliciano (como assina) começa por identificar os vários tipos de gases e quais as suas patologias, dizendo que “O tratamento dos gazeados era perfeitamente subordinado aos sintomas.” Variavam entre “banhos alcalinos, lavando-se as mucosas da bôca, nariz e olhos, com solutos de bicarbonato de sodio”, “inalações calmantes e antisepticas”, “o tratamento desintoxicante e tónico” e a administração de medicamentos.
O objectivo de Fernando da Silva Correia, ao escrever esta notícia, era dar conta do relatório recente do Dr. Armengaud sobre os tratamentos administrados a gaseados em Cauterets, que haviam provocado benefícios nestes antigos combatentes.
“Sabendo-se como se sabe que as indicações das aguas de Cauterets são idênticas ás das Caldas da Rainha, com pequenas restricções, e depois das considerações que atraz se fizeram sobre a natureza não tuberculosa das lesões pareceu-me um dever chamar a atenção dos gazeados do C.E.P., especialmente dos que absorveram o gaz «mostarda», e duma maneira geral, dos que ficaram com perturbações das vias respiratórias apoz inalações de gazes.” Pois “Desde ha muito foi reconhecido pelos clinicos do Hospital D. Leonor que (…) todas as afecções cronicas não tuberculosas, do nariz, ouvidos, faringe traqueia, bronquios e pulmões beneficiam com o tratamento.”
Por isso, “Todos aqueles a quem os gazes deixaram como recordação inflamações do nariz, garganta e bronquios, especificamente os asmáticos, poderão aproveitar com um tratamento cuidado nas Caldas. Para estes últimos estão naturalmente indicadas as inalações na piscina; para os primeiros os duches nasaes; para os outros inalações na sala e na piscina, acompanhando todos os tratamentos por ingestão de agua mineral.
Ahi fica o aviso aos interessados e oxalá que os resultados, confirmando os colhidos em Cauterets, justifiquem uma vez mais o velho renome das aguas das Caldas em afecções cronicas não tuberculosas do aparelho respiratorio.”

Joana Beato Ribeiro