Vou ali já venho… – Doçaria das Caldas – cavacas, trouxas e beijinhos

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Dizem que a cidade é um Centro Comercial a Céu Aberto. Dizem! Se ainda houvesse pregões ouvir-se-ia:
“Quem quer cavacas, trouxas, beijinhos? Quem quer? Quem quer?
Olha as lindas Cavacas! Trouxas!
Trouxas!”
Mas o negócio em geral está pela hora da morte, ainda que Caldas tenha muito para oferecer! Em época de turismo é o que se queira! Doces não faltam!
Faltam planos de atracção turística, falta urbanidade, falta planeamento – de forma a que o centro histórico da cidade não fique convertido num estaleiro de obras em pleno Verão. Em boa verdade as obras têm um timing e é preciso engalanar o caminho para as mesas de voto!
Falta limpeza das ruas! Faltam campanhas cívicas!
Mas doces não faltam!…
Trouxas também não faltam! É o que por aí há mais!
E também não falta quem adoce a pílula dizendo que tudo vai bem quando tudo vai mal. Da Saúde, ao comércio tradicional e à cultura!
E às vezes até se canta a canção do bandido acompanhada de cavaquinho!
A doçaria das Caldas tem realmente uns nomes muito sugestivos para os tempos que correm. Confesso que não sei quem baptizou estes doces, mas contaram-me que foi o desemprego dumas doceiras da Corte, dispensadas em tempos de crise (parece que já houve outras crises antes desta, mas esta é que nos deixa realmente encavacados!), naturais de S. Gregório, que inventaram tais doces no séc. XIX  e os vieram mercar para o largo do Hospital Termal. Um largo lindo, nobre, por essa época, pois que por essa altura ainda não circulavam viaturas sem cavalos nem tinham sido inventados os pinos de cimento. Aqueles elegantíssimos pinos que lá estão, rígidos, de faces quadrangulares… Quem terá sido o grande criador desses pinos? Pobre criatura a quem não fizeram a devida homenagem e agora, para mais, tão malevolamente desrespeitam, derrubando sucessivamente a sua digna criação! E para além de serem derrubados  não são mostrados em toda a sua plenitude estética, dado ficarem escondidos pelos carros amontoados no centro do Largo!
Em boa verdade os automobilistas desrespeitam sinais de trânsito, o que é estranho numa cidade habituada a rigores, dizem! Mas não será possível fazer algo para evitar a demolição acidental de mais pinos? Sei lá! Por exemplo, poderiam ao menos estilizá-los ainda mais, torná-los mais das Caldas, com menos arestas e mais fálicos, colocar-lhes umas bolsas escrotais nas bases, tornando-os assim mais respeitados pelos e pelas automobilistas?
Mas voltando às cavacas, a desordenação da cidade deixa qualquer um encavacado, seja residente seja visitante! Não se trata de puxar o assunto para artes circenses ou para falar de palhaços. É para falar de cavacas, que, pelos vistos, dizem os pasteleiros da cidade, levam muita farinha, muita manteiga e muito açúcar.
Há caldenses que dizem que com eles ninguém faz farinha. Mas há sempre artistas nos lugares de decisão que não dão cavaco às tropas.
Bem podíamos desenvolver o Turismo de forma harmoniosa, enquadrando-o na Região. Com tantas praias e costas bonitas que temos! Mas há costas e costas e nos últimos 30 anos tem dado à costa muita desorganização urbanística.
Bem podíamos ter uma cidade bonita, respeitando o património e a mancha verde, recuperando o parque e criando espaços propícios a uma amena cavaqueira. Onde se poderia discutir, por exemplo, o Termal. O assunto do Termal continua marinado, pelos vistos agora adocicado na calda de açúcar duma comissão camarária. O Termal e os seus achaques. Parece que os aquíferos ou os furos estão doentes. Têm uma úlcera, talvez, porque os técnicos da Comissão de acompanhamento só falam em fazer uma endoscopia…
Valham-nos as cavacas, as trouxas de ovos e os beijinhos!
Com papas e bolos se enganam os tolos.
Ora chupa que é cana doce!
Vou ali já venho!

Leonor Tornada
leonor.tornada@gmail.com

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