Britânicos no Oeste queixam-se da desvalorização da libra face ao euro

0
1298

A queda nas taxas de câmbio entre a libra e o euro (desvalorizando a libra) são a primeira consequência que os cidadãos britânicos que vivem no Oeste se queixaram depois do Brexit. Nesta comunidade, que é cada vez maior, há optimistas e pessimistas em relação à saída. Há quem seja a favor e quem seja contra, quem admita pedir nacionalidade portuguesa e quem nem sequer coloque essa hipótese. Mas a maioria está preocupada e ansiosa por perceber o que vai mudar nas suas vidas a partir de Abril de 2019.

 

- publicidade -

“Acho que o Brexit é bom para o Reino Unido e para a Europa” começa por afirmar John McKnight, inglês de 46 anos, reformado, que vive há três anos no concelho das Caldas. As maiores preocupações para John são a manutenção dos direitos actuais. Por agora, a saída sentiu-se na desvalorização da moeda: “a taxa de câmbio entre a libra britânica e o euro não é tão boa como já foi”.
John vê o futuro da Inglaterra na Europa, mas fora da União Europeia, de forma “positiva”. Defende que “se houver boa vontade e liderança em ambos os lados vai correr tudo bem”, esclarecendo que se a UE conceder os direitos europeus aos britânicos espalhados pela Europa então o governo britânico fará o mesmo aos europeus que vivem no Reino Unido, “mas a UE ainda não quer falar disso”.
Até porque “é do interesse de todos os países que aconteça uma boa saída”, visto que “o Reino Unido não pode mover-se pelo Atlântico e por isso fará sempre parte da Europa”.
No caso de não haver boa vontade, perspectiva o aumento das taxas para os produtos britânicos e, consequentemente, o aumento das taxas aos produtos europeus no Reino Unido.
John não pretende pedir nacionalidade portuguesa e acredita que “tendo a relação mais longa entre dois países do mundo, devemos sobreviver a isto e sair do Brexit ainda mais fortes”.
Já Jane Callaghan, de 62 anos, que vive há um ano e meio no Olho Marinho, considera o Brexit “um desastre” e aponta a desvalorização da libra como o primeiro factor negativo. “A minha pensão agora vale menos”, afirmou.
Esta professora de línguas, reformada, diz que o Brexit vai fazer com que “negócios saiam do país” e que isso irá levar à “perda de empregos” e à consequente política de baixos salários. Outro dos problemas que vê num futuro fora da UE é a perda de subsídios à agricultura.

 

“Espero que o governo português ajude todos os britânicos que fizeram de Portugal a sua casa”

 

O marido Paul Callaghan acha que o Brexit é “um erro massivo das pessoas britânicas que não estavam bem informadas sobre as consequências”.
Considera que “muitos ignoraram os benefícios de uma sociedade multicultural e com diversidade étnica e usaram o referendo para protestar contra a imigração”.
Relativamente ao futuro, gostava de manter o estatuto e os direitos de cidadão europeu em Portugal, pelo que tanto Paul como Jane planeiam pedir dupla nacionalidade. “Espero que o Governo português ajude todos os britânicos que fizeram de Portugal a sua casa”.

“Os valores do liberalismo estão a ser atacados”

A também professora reformada Sandy Rose (65 anos) caracteriza a decisão de fazer o referendo como “um erro terrível de David Cameron”, afirmando que foi motivado por motivações políticas. “Que confusão que isso causou”, disse.
Nascida no Zimbabwe, mas com cidadania inglesa, Sandy vive há três anos nesta região. Diz que já se sentem mudanças, tanto para os britânicos como para os europeus que vivem no Reino Unido. “As dificuldades económicas vão exacerbar tensões raciais”, alertou.
Também se queixa da desvalorização da libra e revela que tem sofrido com “a ansiedade em relação ao futuro”.
Não vê com bons olhos a saída do Reino Unido e diz que “é difícil ver quaisquer resultados positivos”. Numa análise geral defende que “os valores do liberalismo estão a ser atacados” e espera que “a UE possa preservá-los”.
Relativamente a um possível pedido de nacionalidade portuguesa, não descarta, mas realça que primeiro terá de aprender mais a língua portuguesa.
O casal Culshaw também considera o Brexit um erro. Norma e Wilfrid Culshaw, de Cheshire, são reformados e vivem há nove anos em Portugal: três anos em Tavira, cinco no Valado dos Frades e há um ano no concelho das Caldas.
Norma afirma que a decisão do seu país sair da UE “foi um grande erro de julgamento, pensando pouco no futuro dos jovens” e teme “os efeitos que terá nas gerações mais novas, tanto a nível das taxas de emprego, como das oportunidades de emprego na Europa”. Por outro lado, preocupa-a “o efeito adverso que se pode sentir na economia a longo prazo”.
Wilfrid tem medo das consequências de “uma difícil transição” para os jovens e teme os efeitos do Brexit na viabilidade económica do país e nas trocas internacionais.
As taxas de câmbio também são motivo de queixa, porque desvalorizam as reformas do casal.
Norma, olhando para o futuro, vê que “economicamente não será bom e vão haver relações menos cordiais com a Europa e a segurança nacional também pode ser afectada”. Wilfrid prevê que com a saída da UE, “o Reino Unido pode ficar isolado do resto da Europa, económica, diplomática e culturalmente”. Ainda assim, o casal não pretende pedir nacionalidade portuguesa.

 

“Foi um erro”

A opinião de que o Brexit é um erro é partilhada por Wendy Manning, mediadora imobiliária e editora da revista Hey Portugal, que defende que é “o maior erro que os eleitores britânicos cometeram”.
Com 49 anos, e quase dez em Portugal (primeiro em Alvaiázere e depois no Nadadouro), planeia pedir nacionalidade portuguesa.
Não duvida que “o grande Reino Unido será sempre grande” e que “irá fazer acordos comerciais com nações com as quais não podia e a economia vai recuperar, valorizando a libra, mas isso irá levar algum tempo”.
A sua maior preocupação é a incerteza que se irá criar na economia britânica nos próximos cinco a dez anos. “Como vendo casas para estrangeiros que escolhem Portugal para viver e até ao último ano a maioria eram britânicos, tive que reestruturar o negócio”.

“Não foi um erro”

O galês Paul Flinders não concorda que o Brexit seja um erro. “Foi a melhor coisa que podia ter acontecido, tanto ao Reino Unido como à Europa”, acredita. Com 58 anos, e após se reformar, este antigo director de uma empresa, comprou uma casa nas Cesaredas (Lourinhã), logo depois do referendo e do accionamento do artigo 50.
Consegue perceber porque é que os europeus têm dificuldade em compreender a decisão tomada no referendo, “mas a maioria viu que o Reino Unido estava a cair ano após ano, da saúde às estradas, passando pela educação e apoio à terceira idade”. Além disso, houve uma grande quebra nos salários “porque cidadãos europeus aceitavam trabalhar por preços mais baixos e tinham acesso a vários benefícios”. Paul não culpa os cidadãos, mas sim o sistema. “Agora o Reino Unido depende dos trabalhadores europeus para manter a economia estável”.
Outro dos motivos para a saída é que “muitos vêem uma União liderada pela Alemanha que é ineficaz, irresponsável e pouco credível, que corre para o fundo. O Reino Unido decidiu deixar essa corrida”, argumenta.
“Pessoalmente, o Brexit não serve os meus interesses, mas para o futuro do Reino Unido, dos meus filhos e netos, é essencial deixar a UE”, explicou. Paul vê um futuro onde podem haver alguns altos e baixos, mas crê que “o Reino Unido vai sair disto mais forte” e argumenta que “essa força será a melhor amiga da Europa, mas não da União Europeia”.
Tendo em conta a história comum dos dois países (Portugal e Reino Unido) e ter sido este o sítio que escolheu para viver, antes de pedir nacionalidade portuguesa terá de ter assegurado que “quando o Reino Unido sair da UE posso ir e voltar como hoje”.

- publicidade -