Rui Jacinto está a meio do seu primeiro mandato como presidente da Junta de Salir de Matos, mas antes foi secretário durante um mandato e meio. Do que prometeu, continua a faltar um pavilhão polidesportivo, que “não tem sido de fácil concretização”.
O autarca assume o objectivo da ascensão a vila, epíteto que a agora aldeia perdeu, na sua opinião, “injustamente”. Para além disso, o envolvimento da juventude nas actividades locais é outro dos grandes objectivos.
Salir de Matos é uma freguesia predominantemente rural, com 2500 hectares e 2700 habitantes que vivem, sobretudo, da agricultura.
GAZETA DAS CALDAS – Quais as promessas eleitorais que já cumpriu desde que tomou posse?
RUI JACINTO –Penso que 70% do que nós prometemos já colocámos em marcha. Em termos de acção social tínhamos como objectivo colaborar com as instituições e temo-lo feito. Colaborámos com a Igreja nas obras, no apoio às candidaturas a programas de financiamento para o Centro Pastoral e sempre que há necessidade da nossa participação temos estado disponíveis. Existe uma boa relação com a Fábrica da Igreja e com o padre. Com a Associação de Solidariedade e Educação de Salir de Matos até estamos a fazer uma obra em conjunto, que é um muro de suporte de terras e divisão, para criar mais segurança para eles e para nós.
Temos tentado identificar e acompanhar famílias carenciados, temos organizado o passeio sénior anual e já fizemos recolha de bens que fizemos chegar a algumas famílias.
Por outro lado, também temos mantido os parques infantis e prevemos até ao final do mandato construir mais um, embora actualmente sejam apenas financiados a 50% pela Câmara quando antes eram-no na totalidade. E temos outros projectos que poderão englobar outro parque.
Desenvolvemos ainda o evento “Conhece Salir de Matos?!” que teve a sua primeira edição e que este ano também já está marcado.
GC – Isso foi na área social. E nas outras?
RJ –Em termos de ambiente e natureza temos a limpeza de ruas, passeios e valetas, em que penso que temos dado boa resposta. Adquirimos uma máquina que ajuda na limpeza e consegue carregar e movimentar terras e entulhos que ficam depositados. Temos tido uma equipa permanente de quatro homens, quase todos provenientes do Centro de Emprego, porque não podemos contratar pessoas e continuamos condicionados por isso.
Este ano começámos a preparar um espaço verde à entrada de Salir de Matos, junto à ponte, e outro na Torre, no Casal Malpique, num espaço ao abandono, que estava a servir praticamente de lixeira. Chegámos a fazer lá estaleiro, fizemos a limpeza do espaço, fizemos reposição de terras e uma plantação de árvores de fruto. Infelizmente, já nos roubaram algumas árvores. Desanima muito…
Na Venda queremos criar um espaço verde, mas não um relvado porque a relva tem muitos custos. Estamos a ir pela plantação de árvores e arranjo do espaço. Se eventualmente produzissem, as pessoas passavam e apanhavam uma laranja ou um punhado de azeitonas para salgar. A Junta não quer fazer exploração daquilo. Na Venda já estamos a pensar colocar árvores menos atractivas como sobreiros e carvalhos.
Temos feito a requalificação e manutenção das nascentes de água, chafarizes e fontanários e alguns até estão prontos para fornecer água aos bombeiros, se necessário.
Na economia e viação temos a manutenção dos caminhos agrícolas que nos dá bastante que fazer, tendo em conta a vasta extensão. Mas é extremamente importante porque na altura das campanhas (tratamentos e apanha) temos de ter os caminhos em condições para as pessoas fazerem o seu trabalho e retirarem dali o seu ganha pão.
Assim, trocámos a carrinha que tínhamos por uma com báscula e, com a máquina que adquirimos, conseguimos fazer algumas reparações. Porque, em termos de reparação, a Câmara tem uma frota que roda pelas Juntas todas (chega a ter uma lista de espera de quatro meses). Por vezes, temos de recorrer a máquinas privadas.
Solicitámos à Câmara a reparação das estradas alcatroadas. Está em andamento um concurso para uma empreitada… Não são todas as que queríamos, mas vamos ter alguns quilómetros. Pedimos que se fizesse uma reparação por zonas. Se uma estrada tem cinco quilómetros mas só tem situações pontuais e o resto do tapete está bom, faz-se intervenções localizadas, que a estrada aguenta mais quatro ou cinco anos.
Já criámos alguns roteiros para caminhadas. Um está no City Guide.
Temos feito o reforço e manutenção da sinalização e colocámos passadeiras.
GC – O que falta ainda fazer?
RJ –Um dos pontos que não temos cumprido é a criação de um espaço polidesportivo. Idealmente, gostávamos que fosse perto da escola. Temos batalhado, mas não tem sido de fácil concretização. A Câmara comprometeu-se a ajudar e esperamos que até ao final do mandato possamos dar início a este projecto.
Em Salir de Matos vamos avançar com a requalificação do chafariz e do lavadouro e zona envolvente. Espero que se consiga fazer o projecto este ano para se concorrer a fundos e depois executar a obra naquela zona central, que precisa de uma “lavagem”.
Outro ponto que temos tido dificuldade é desenvolver actividades juvenis. Já cá estiveram os escuteiros várias vezes. Mas não tem havido a adesão que gostaríamos. Temos participado na escola nalgumas actividades, colaboramos no desenvolvimento das festas e outras actividades que surjam, mas queremos abranger mais e não tem sido fácil. Fora do âmbito escolar não tem sido fácil atrair os jovens.
Outro problema não resolvido são as linhas de água. Temos feito alguns ofícios para o Ministério do Ambiente, contactámos uma empresa (em conjunto com todas as freguesias), que se dispôs a fazer candidaturas a fundos comunitários para essa limpeza, mas que, entretanto, desapareceu. Não sei o que aconteceu. Era um projecto conjunto para limpar as principais linhas de água de todo o concelho.
Queríamos ter feito já este ano o site de divulgação da nossa freguesia. Entrámos em contacto com a ESAD para tentar criar um protocolo, eles sugeriram que fizéssemos um estágio com alguém da área gráfica ou multimédia, mas não conseguiram arranjar ninguém que estivesse disponível para fazer um estágio aqui.
GC – Quais os principais problemas da freguesia?
RJ –A vasta extensão de caminhos rurais que é muito difícil dar resposta. Estimamos que sejam mais de 60 quilómetros de caminhos rurais. E é uma freguesia muito grande, com um orçamento muito pequeno. Se não tivéssemos o pessoal do Centro de Emprego, não seriamos capazes de dar resposta a muitas das solicitações.
GC – Qual o orçamento da sua freguesia?
RJ –O orçamento anda na casa dos 120 mil euros.
GC – Quais são os principais gastos?
RJ –Os caminhos rurais são o que leva mais dinheiro.
GC – Tem algumas receitas extras para além das dotações orçamentais a que tem direito?
RJ –Temos as receitas de secretaria e as rendas de dois espaços que temos aqui arrendados que rendem 350 euros (200 euros de um e 150 de outro).
GC – Quais os principais pedidos dos seus fregueses? Continua a ser o alcatrão?
RJ –Sim, continua a ser. Talvez 90% dos pedidos sejam relacionados com a limpeza das valetas e os buracos para tapar.
GC – O financiamento continua a ser o principal problema?
RJ –Sim. Para uma freguesia que tem 2500 hectares, com 2700 habitantes, temos um orçamento pequenino. Por mais que tentemos, não conseguimos que as coisas se multipliquem. Andamos sempre à procura de soluções mais baratas para dar resposta às necessidades.
“Foram entregues mais competências, mas o orçamento não aumentou”
GC – A delegação de competências é uma boa medida ou é um presente envenenado?
RJ –É uma boa medida, embora para nós seja sempre pouco. Mas de outra forma não seria possível fazer muita coisa. Permite-nos gerir à nossa maneira. É pena é não haver mais.
Reivindicámos junto da Câmara e do Governo que as Juntas tivessem mais autonomia. Mas quando falamos de autonomia, eles às vezes até dão. O problema é que não dão os meios financeiros para desenvolver essas tarefas. Neste momento foram entregues mais algumas competências à Junta, mas o orçamento não aumentou. A única coisa que veio a mais foi que agora passámos a receber 1% do IMI urbano e a totalidade do rústico, que representa pouco mais de 3000 euros.
GC – Como são os transportes para a sede de concelho? Está satisfeito com o serviço?
RJ –É um problema que tenho debatido com a Rodoviária do Tejo. Durante o período normal de aulas há uma oferta relativamente boa, mas durante o período de férias é que é mais complicado. Eu sei que eles estão a trabalhar na criação de redes organizadas, mas acho que o serviço deveria ser mais abrangente. E o que me preocupa é que não tenho os dados para saber ao certo quantos autocarros, com que frequência e com que custos.
GC – Em que situação está a escola do 1º ciclo?
RJ –Temos o jardim (dos três aos seis anos) e depois temos o 1º ciclo, com um centro escolar com boas condições, com cantina, biblioteca, apoio à família. Nos dois estudam cerca de 150 crianças.
Para além do público, temos o jardim da ASESM, que também está preenchido. Aí maioritariamente as pessoas são de fora, mas vêem Salir de Matos como um exemplo na educação e colocam cá os filhos.
GC – Existe extensão do centro de saúde?
RJ –Existe um pólo da USF de Tornada aqui, com urgências entre as 8h00 e as 9h00 e com consultas entre as 8h00 e as 13h00. Para além disso, faz-se consultas ao domicilio.
GC – E extensão dos CTT?
RJ –Temos um posto informatizado dos correios que atende não só as pessoas desta freguesia, como das vizinhas. Tem alguns custos para nós, porque o que recebemos não nos paga, nem de perto nem de longe, o trabalho que nos dá. Mas é um serviço social porque temos uma população idosa que assim tem muito mais conforto para pagar as contas, receber as reformas, etc. sem ter de sair daqui.
GC – Como tem sido o comportamento da oposição na Assembleia de Freguesia?
RJ –Têm feito o papel deles. Já nos conhecíamos antes. Têm sido cordiais.
GC – Quando é que a ponte à entrada de Salir de Matos vai ser intervencionada?
RJ –Esse troço pertence à Estrada Nacional 360 que passou para o domínio da Câmara e que, portanto, não entra nas nossas contas. Mas temos reivindicado para que seja arranjada.
GC – E os balneários abandonados no campo de futebol?
RJ –Poderia ser uma hipótese para o polidesportivo, mas queríamos que fosse mais perto da escola. Ainda assim, fizemos a requalificação da nascente que lá existe e temos feito a abertura da estrada para que não fique ali um beco.
GC – A ascensão a vila é um objectivo?
RJ –É! Gostávamos de repor uma situação que nos foi tirada injustamente, apesar de, em termos práticos, nos trazer poucos ou nenhuns benefícios.
“Para ser presidente de Junta é preciso ser padre e psicólogo”
GC – Nasceu na freguesia?
RJ –Sim, nasci em casa!
GC – Como é que se meteu na política?
RJ –Eu era presidente da Associação de Caçadores Os Mentirosos e fui convidado pelo anterior presidente, João Fialho, para fazer parte das listas. Na altura fui para a Assembleia, mais tarde fui Secretário da Assembleia e, quando o secretário da Junta deixou o cargo, passei a exercer essas funções.
GC – Como é o dia a dia de um presidente de Junta?
RJ –Quase todos os dias venho à Junta. Venho às 8h30, atendo as pessoas e quando posso tento tirar umas manhãs e umas tardes para mim e para as minhas actividades, mas ultimamente não tem sido fácil, porque isto absorve-nos muito. Por outro lado, por não termos uma equipa permanente, temos que estar mais presentes. Ao fim-de-semana, normalmente há actividades que também nos ocupam muito. Em termos familiares é complicado.
GC – Como lida com as pessoas descontentes com a sua prestação?
RJ –É um cargo que exige muita capacidade de encaixe para as críticas e muita paciência. É preciso saber ouvir. Por vezes não podemos dar a resposta que a pessoa quer ouvir, mas preocupo-me em dar uma resposta honesta e sincera.
GC – Das suas funções neste cargo, de que é que gosta mais?
RJ –Gosto de lidar com as pessoas e sentir que conseguimos resolver problemas. Para ser presidente de Junta é preciso ser padre e psicólogo, por vezes.
GC – Tenciona recandidatar-se?
RJ –Ainda é muito cedo para pensar nisso. Por agora estamos preocupados em fazer o nosso trabalho.