Manuel Isaac e Rosário Ladeira preferem Adolfo Mesquita Nunes. João Forsado, Duarte Nuno e Paulo Pessoa de Carvalho preferem Rodrigues dos Santos
A Concelhia das Caldas da Rainha do CDS está dividida quanto ao futuro do partido. Se o líder da Comissão Política se mantém fiel a Francisco Rodrigues dos Santos, os históricos preferem ver Adolfo Mesquita Nunes na liderança.
“Nunca apoiei o Francisco, porque achei que não era a altura dele ser presidente do CDS. Mas disse-lhe que lá mais para a frente poderia ser, com outra maturidade e outro curriculum. O futuro deu-me razão. Ele errou em escolher ser presidente”. Manuel Isaac, que foi deputado na Assembleia da República, resume assim a sua posição face ao momento atual do partido, apoiando “Adolfo Mesquita Nunes, como também apoiaria Nuno Melo, porque têm ambos outro curriculum”.
“Nunca apoiei o Francisco porque achei que não era a altura dele ser presidente do CDS”
Manuel Isaac, ex-deputado
Maria do Rosário Ladeira, outra histórica caldense do CDS, diz que ficou encantada a primeira vez que ouviu falar Francisco Rodrigues dos Santos numa iniciativa do partido e que pensou que, um dia, seria presidente do partido. “Foi cedo demais. Faltava-lhe o traquejo necessário para tomar conta do partido. Não se passa, de um dia para o outro, da Jota para presidente sénior.”
Por outro lado, a militante considera que Francisco Rodrigues dos Santos está a ser vítima “das muitas raivinhas” que existem no CDS e que minaram o mandato. No entanto, Rosário Ladeira entende que não é o momento para um congresso extraordinário, devendo o partido preparar-se para as autárquicas e decidir o futuro presidente após esse ato eleitoral. Qual presidente? “Se não houver outro, voto Adolfo Mesquita Nunes”, responde.
Opinião diferente tem João Forsado Gonçalves, reeleito no verão passado para um segundo mandato na liderança da Concelhia. É também membro da Comissão Política Nacional e do Conselho Nacional do CDS. “Fui um dos apoiantes do Francisco Rodrigues dos Santos no congresso de 2020 e no último Conselho Nacional votei a favor da moção de confiança do líder, porque não fazia sentido nenhum que um mandato de dois anos fosse interrompido a meio. Ainda por cima, o mandato de Rodrigues dos Santos só teve um mês de normalidade, pois aconteceu a pandemia e não houve condições para o presidente poder executar na sua plenitude o programa que apresentou.”
Questionado se era também essa a posição da Concelhia das Caldas, o dirigente admitiu que “existem diversas sensibilidades”, mas que estão todos “juntos e a cerrar fileiras no interesse do partido e coesos para o trabalho que temos para as autárquicas”.
Duarte Nuno, deputado na Assembleia Municipal das Caldas, diz que “se há um mandato ele deve ser cumprido até ao fim”, manifestando-se, assim, ao lado da atual liderança. “No congresso que elegeu o Francisco Rodrigues dos Santos, percebeu-se claramente que os deputados do partido apoiaram outro candidato, mas uma coisa é oposição interna e outra é minarem o trabalho de um presidente democraticamente eleito”.
“Uma coisa é oposição interna e outra é minarem o trabalho de um presidente eleito”
Duarte Nuno, deputado municipal nas Caldas da Rainha
Duarte Nuno diz que Adolfo Mesquita Nunes tem responsabilidades nos últimos resultados do CDS, porque era vice-presidente do partido e desenhou o programa eleitoral. “Essa responsabilidade não se esfuma ao fim de 12 meses. Ele tinha a obrigação de explicar aquele resultado e de fazer um mea culpa”, disse.
Paulo Pessoa de Carvalho admite que o “coração pende mais para o Francisco” e que “o Adolfo saiu a perder da reunião do Conselho Nacional]”. Embora reconheça que Adolfo Mesquita Nunes é um homem inteligente e com muitas qualidades e competências, considera que “este não era o momento, nem ele tem o carisma para ser líder do CDS”. Admite também que Francisco Rodrigues dos Santos não conseguiu fazer descolar o CDS, sobretudo devido ao aparecimento de novos partidos, como a IL e o Chega, bem como pela pandemia e pelo lastro dos maus resultados das legislativas de 2019. “Foi um ano terrível para o CDS e fosse o Francisco ou outro líder, dificilmente se conseguiria melhor”. ■
A ideologia ainda conta para os militantes
Duarte Nuno recusa a ideia de que o CDS esteja entalado entre o PSD e o Chega porque “o espaço da direita não é assim tão pequeno, como, aliás, se pode ver noutros países da Europa onde existem várias direitas”. O deputado municipal considera que o partido deve posicionar-se onde está: “à direita do PSD e claramente muito à esquerda do Chega”. Sobre este último, entende que nem sequer tem uma ideologia.
Paulo Pessoa de Carvalho acha que a grande referência ideológica do CDS é a democracia cristã, à qual deve ser fiel. Considera que, com Assunção Cristas e Adolfo Mesquita Nunes, houve uma deriva um pouco mais liberal, a tentar agradar a um eleitorado que não era o seu, e que isso teve consequências pois “há princípios em que devemos ser firmes e um deles é a democracia cristã”.
Essa opinião é partilhada por Maria Rosário Ladeira, que diz que o CDS não deve sair de onde está: “democrata-cristão, um bocadinho conservador nos costumes e liberal na economia”.
O presidente da Concelhia, João Forsado Gonçalves, é liminar: “ideologicamente, o CDS é um partido de centro direita. Ponto.” Quanto ao Chega, diz que “é um partido radical de direita, com o qual não nos identificamos, pois o CDS está onde sempre esteve – no centro direita”.
Já Manuel Isaac joga fora deste campeonato: “Estou-me a marimbar para as ideologias. As ideologias, para mim, vão todas para o mesmo saco porque o que é preciso é gente competente para trabalhar para que o povo e o país vivam melhor”.
Questionado sobre o motivo pelo qual está no CDS, diz que é por este ter sido um partido fundador da democracia, com Diogo Freitas do Amaral e Adelino Amaro da Costa, nos quais se revê em termos de valores. “O CDS precisa é de gente honesta, com curriculum e com valor e que venha para a política para acrescentar alguma coisa e não para se servir dela”. ■