“Quando o 25 de Abril chegou havia muita miséria económica e também miséria espiritual, já que mais de um terço da população era analfabeta”. Palavras de José Carlos Faria numa sessão organizada pelo PCP que teve lugar, a 23 de Abril, nas instalações da União de Freguesias de N. Sra. Pópulo, Coto e S. Gregório. Subordinada ao tema “O 25 de
Abril e a Cultura”, o evento contou com a presença de dezenas de pessoas que ouviram falar sobre o negro cenário que o sector cultural vive na actualidade.
“O regime de censura existiu sobre a criação e o livre pensamento e, passados 41 anos, o que estamos a verificar é que há uma lógica onde a cultura, a educação e o saber voltam a ser incomodativos”, disse José Carlos Faria, para quem actualmente existe um não cumprimento do que a Constituição determina relativamente à democratização da cultura
Na sua opinião, atrás dos sucessivos cortes que o sector tem sido alvo, “está um ponto de vista ideológico de quem acha que a cultura não deve ser democratizada”. E recordou que na União Europeia, sempre tão evocada pelos políticos e pelos decisores, só dois países não têm Ministério da Cultura: Portugal e a Hungria. E este último é actualmente governado por um partido radical de direita “que tem suscitado as maiores apreensões por parte da UE”, já que, além de não estar assegurada a independência dos tribunais, naquele país há atitudes xenófobas por parte do governo para com o povo cigano. “Estamos pois em má companhia…”, disse o orador.
Desde 2011 os apoios à Cultura tiveram reduções de 75%. “Quando Cavaco Silva liderava o governo, 0,4% do orçamento destinava-se ao sector, agora é menos de 0,1%”, afirmou o também actor.
Actualmente os grupos que se dedicam à actividade cultural vivem dificuldades. A situação, diz, “é das mais negras e apreensivas desde o 25 de Abril. Nalguns casos é mesmo de pântano”. O orador queixou-se da falta de apoios e de sub-financiamento do ensino artístico que tem como uma das consequências o desemprego jovem “que já vai nos 60%”.
Há pois uma lógica de precarização do sector. José Carlos Faria referiu que os apoios às entidades artísticas deveriam ter sido tomadas no final de 2014, mas agora no início de Maio as estruturas de criação não sabem quando nem quanto dinheiro vão receber, não existindo sequer regulamentos. “E o primeiro semestre está praticamente no fim…. Como é possível trabalhar assim?”, questionou-se o orador que é também responsável pela companhia Teatro da Rainha.
Vítor Fernandes, membro da concelhia caldense do PCP não traçou um quadro melhor em relação à Cultura. A questão da municipalização dos museus caldenses é algo que preocupa o partido até porque poderá significar “uma despromoção”.
O actual modelo de CCC também preocupa os comunistas. Vítor Fernandes contou que em Janeiro do ano anterior formularam um conjunto de questões relacionadas com o modelo de gestão da Culturcaldas ao executivo da Câmara “e nunca nos responderam!”.
O público que esteve presente nesta iniciativa participou activamente no debate de ideias. Foi referida, entre outras questões, a falta de dinâmica nos espaços museológicos autárquicos pois é conhecida a falta de recursos humanos. E por isso preocupa os comunistas se a municipalização dos museus Malhoa e Cerâmica avançar, como será a futura gestão daqueles espaços. Foi ainda abordada a questão, à qual não se tem dado o devido destaque, os Bordados das Caldas.