A ROTA BORDALIANA DA PRESTAÇÃO DE CONTAS
O deputado social-democrata António Cipriano optou por uma forma nova de abordar as contas da autarquia, tentando desconstruir a natureza técnica do relatório com uma analogia à Rota Bordaliana. A proposta, que agradou bastante aos restantes deputados, passou por uma visita guiada à “rota bordaliana da prestação de contas”, à qual chamou o padre Cura, a Saloia, a Ama das Caldas, o Policia e o Zé Povinho. “O padre Cura, perante os resultados apresentados, iria com toda a certeza abençoar as contas de 2015”, começou por dizer, dando nota do resultado positivo do exercício, na ordem dos 76 mil euros, e do saldo de gerência superior a cinco milhões de euros. As receitas próprias do município cobrem 58% das despesas totais e há um aumento da receita corrente de cerca de dois milhões de euros, acrescentou. Já a Saloia “nunca foi uma mulher de contas”, diz o deputado, acrescentando que a preocuparia sobretudo o trabalho realizado pela Câmara em 2015.
Considera que esta personagem criada por Bordalo Pinheiro ficaria satisfeita com o investimento que o executivo faz na educação, no desporto e na cultura, dando como exemplo o aumento de 40% ao nível das visitas nos museus. O Polícia, como homem da lei que é, tem por função verificar o cumprimento das regras e, de acordo com António Cipriano, gosta do que vê. “Não houve prejuízos, os serviços municipalizados também deram lucro e existe um saldo de gerência superior a cinco milhões de euros”, sintetiza. Já o Zé Povinho, “está habituado a problemas financeiros e verifica que nas Caldas é diferente e fica espantado, tirando o chapéu à sólida realidade apresentada”. Mas a célebre figura de Bordalo Pinheiro quer as Caldas como uma cidade termal e pede mais: “que na nova dinâmica perdure o inconformismo, a criatividade e a vontade de fazer sempre mais e melhor”.
“A EXECUÇÃO TEM VINDO A MELHORAR”
“Depois da comédia, voltar ao drama”, começou por dizer Edgar Ximenes (MVC), que interveio a seguir ao deputado do PSD. Reconhece que a execução tem vindo a melhorar e a aproximar-se de um orçamento cada vez mais realista, mas realçou que os resultados operacionais são negativos, apenas equilibrados pelos resultados financeiros, o que permite o resultado líquido positivo em 76 mil euros. “O nosso município tem uma situação financeira confortável, a questão está nas opções”, disse Edgar Ximenes, que centrou a sua intervenção na margem que a Câmara dispõe para exprimir as suas opções de investimento (os 5,5 milhões de euros do saldo de gerência que é transferido para este ano). Disse que os impostos são a principal fonte de rendimento e não vê grande problema nisso, desde que isso se faça à custa de crescimento económico, maior actividade e criação de riqueza no concelho, e não no aumento de taxas. Edgar Ximenes falou ainda das políticas apresentadas no documento e que ascendem a vários milhões de euros, questionando o presidente da Câmara sobre quais é que irão ser concretizadas, até porque algumas já vêm transitando de orçamento em orçamento.
VISÃO ERRADA SOBRE O DESENVOLVIMENTO
O deputado João Diniz (CDS-PP) fez uma análise política da actuação do executivo tendo por base os critérios utilizados na gestão e distribuição das verbas. No documento “relatório de gestão 2015”, com cerca de 29.255 palavras, o subcapítulo dedicado à educação conta com 1.749 palavras, mas o dedicado à cultura 5.730, e ao turismo dedicam-se 1.405. Para o desenvolvimento de actividades industriais não existe nenhum subcapítulo (zero palavras), disse o deputado, criticando a “errada visão” camarária relativamente ao desenvolvimento económico. João Diniz disse ainda que o CDS-PP tem tentado contribuir construtivamente para a alteração deste estado de coisas, propondo a implementação de um Plano Municipal de Incentivos à Captação de Empresas, a atribuição de verbas ao programa Caldas Competitiva, a Requalificação da Zona Industrial, a efectiva implementação do Plano Local de Promoção da Acessibilidade e da Matriz Energética do Concelho. Por outro lado, voltou a criticar os subsídios que a autarquia dá às colectividades, associações e empresas “sem critérios objectivos, transparentes e sufragáveis”. Chamou a atenção para o “sorvedouro de recursos” chamado ADIO, apelando mais uma vez para que se ponha termo à gestão “absolutamente ruinosa” daquela associação.
Em total divergência com o modelo de gestão autárquico de que este relatório e contas são o espelho e em consonância com a posição tomada pelo CDS-PP na vereação, os deputados centristas votaram contra. O presidente da Câmara, Tinta Ferreira, referiu que não consegue ter uma política de impostos baixos e capacidade para fazer todas as intervenções sugeridas. Admite que a oposição tenha pontos de vista diferentes ao nível do plano e orçamento, mas realçou que o que neste ponto se votava era a execução das contas em 2015, que tem uma taxa a rondar os 95%. “Este é o melhor resultado de que me lembro em termos de execução”, disse, defendendo que merecia um voto favorável. Tinta Ferreira informou ainda que em 2016 irão receber menos meio milhão de euros de IMI do que o ano passado, assim como uma despesa acrescida com o património termal. Além disso, muitas das obras previstas estão dependentes de fundos comunitários, cujas candidaturas estão a ser elaboradas.
QUATRO MOÇÕES APROVADAS
Preocupados com a possibilidade do serviço de Oncologia encerrar nas Caldas da Rainha, os deputados municipais aprovaram, por unanimidade, uma moção onde exigem respostas prontas, para que de imediato se iniciem as obras necessárias naquele serviço. Propõem ainda que uma delegação de membros da Assembleia e Câmara Municipal peçam uma reunião, com carácter de urgência, ao Conselho de Administração do CHO. Esta tomada de posição surge depois de uma delegação inspectiva do Infarmede ter encerrado o espaço de tratamento de doentes oncológicos no Hospital das Caldas. As anomalias há muito que tinham sido detectadas, mas nunca foram corrigidas. Na moção, que será enviada ao ministro da Saúde, presidente da ARS de Lisboa e Vale do Tejo, presidente do Conselho de Administração do CHO e presidente da Câmara, é referida a relevância daquele serviço no tratamento dos doentes e a dedicação dos responsáveis, nomeadamente do médico Manuel Barros, que foi homenageado pela autarquia durante as Festas da Cidade. Também aprovada (com 14 abstenções e 13 votos a favor) foi a moção apresentada pelo PS para a implementação de “zonas 30” em todas as ruas onde se localizam escolas ou outros estabelecimentos de ensino do concelho. Esta é uma medida de “acalmia do tráfego que aumenta efectivamente a segurança dos peões, nomeadamente crianças e jovens estudantes, contribuindo para a redução drástica do ruído ambiente e para a melhoria significativa da qualidade do ar”, refere o documento. Esta implementação deve também ser acompanhada por sinalização rodoviária e marcações no pavimento, assim como ser integrada na elaboração do Plano Integrado de Mobilidade Urbana Sustentável, para que possa ter apoios comunitários no âmbito do PEDU (Plano Estratégico de Desenvolvimento Urbano das Caldas da Rainha). A poucos dias de celebrar o 42º aniversário da Revolução de Abril e 40º aniversário da Constituição da República, a Assembleia Municipal aprovou por maioria (com os votos contra do CDS-PP) uma moção apresentada pelo PCP, PS e MVC, que saúda os valores e conquistas da revolução. Por outro lado, é deixado um apelo aos trabalhadores, eleitos autárquicos, movimento associativo e população, para se associarem às comemorações do 25 de Abril, “na afirmação do Poder Local Democrático como conquista de Abril e na defesa dos interesses e direitos das populações”, refere o documento. Nesta reunião foi ainda aprovada, por unanimidade, uma moção de apoio à candidatura dos moinhos de vento a património da Unesco. No documento apresentado por João Diniz (CDS-PP), é referido que os moinhos de vento constituem um dos maiores marcos tradicionais da simbiose entre a terra e o mar e representam uma herança cultural vinda desde os primórdios da nacionalidade, assim como o enorme avanço tecnológico que a partir do século XVI a arte de marear introduziu no domínio da força motriz do vento. A iniciativa de propor a candidatura dos Moinhos do Oeste a Património da Humanidade partiu de uma família de moleiros da Lourinhã e já atraiu um conjunto significativo de apoios, nomeadamente as autarquias da região e na Assembleia da República os grupos parlamentares do CDSPP, de Os Verdes, do PSD e do PAN. De acordo com o deputado centrista, este projecto apresenta manifesto interesse, tanto na vertente da preservação cultural e patrimonial como na vertente turística. É também relevante “enquanto motor de desenvolvimento local agrícola ao integrar outras vertentes como seja a recuperação e produção de espécies tradicionais e autóctones de cereais e a certificação de farinhas produzidas em moagem tradicional”, concretizou.
Projectos do Orçamento Participativo vão ser inaugurados nas Festas da Cidade
Os projectos incluídos no Orçamento Participativo do ano passado, Parque Activo, Rotundas Seguras, Parque da Encosta, Fonte das Lágrimas, Pomar Urbano e Fonte da Pedra, deverão ser inaugurados no próximo dia 14 de Maio, integrados nas comemorações do Dia da Cidade. A 16 de Maio, e com a presença dos alunos da escola, será inaugurada a obra de requalificação do recreio da EBI de Santo Onofre e, se estiverem concluídas nessa altura, as hortas urbanas, um projeto do primeiro Orçamento Participativo caldense. As datas foram avançadas pelo presidente da Câmara, Tinta Ferreira, na última Assembleia Municipal, depois de alguns munícipes terem mostrado o seu desagrado com o atraso na sua realização. Miguel Miguel, preponente do Parque Activo, foi o primeiro a fazê-lo. O munícipe queixou-se na demora para implementação do projeto, que pretende promover a actividade e o exercício físico, com equipamentos para essa prática ao ar livre. Explicou que em finais do ano passado foi contactado pelo vereador Hugo Oliveira para o informar que o parque de fitness ficaria situado junto ao pavilhão Rainha D. Leonor e ao skate park. Miguel Miguel deu o seu aval e foi-lhe garantido que as obras iriam avançar. Na semana passada foi ao local e deparou-se com a colocação de oito máquinas que já estão a ser utilizadas pela população. O munícipe queixa-se de falta de comunicação, por parte da autarquia, que não lhe disse que o Parque Activo já estava em funcionamento. Entende também que devia ter participado na escolha dos equipamentos e ter mais envolvimento na implementação do projecto. “O comportamento da Câmara continua a não valorizar as ideias dos cidadãos e, mais uma vez, estamos perante a descredibilização de tão importante instrumento de participação cidadã”, disse. Também a munícipe Teresa Serrenho partilhou a sua experiência com o Orçamento Participativo e criticou o atraso na implementação do seu projecto. Participou no orçamento de 2014, juntamente com a filha, com uma ideia para a requalificação do parque de recreio da EBI de Santo Onofre, que acabou por ser uma dos vencedoras. As obras começaram em Janeiro deste ano e Teresa Serrenho pediu para que fossem realizadas durante a interrupção lectiva, mas ”lamentavelmente” não foi ouvida e soube recentemente pelo director da escola que apenas faltam as marcações no pavimento com os jovens. “Os baloiços estão lá, o piso está novo, mas está vedada à utilização das crianças”, disse a munícipe, que lamenta que a inauguração esteja prevista para o 15 de Maio, dando a entender que se trata de uma obra da Câmara. “O Orçamento Participativo é para os cidadãos poderem participar, não é de todo para ser utilizado como uma obra do município e como oportunismo de brilhar face a estes encarregados de educação, que são milhares”, disse. Também presente da reunião, Ana Costa Leal (recentemente eleita para dirigir o Conselho da Cidade) leu um manifesto assinado por 25 pessoas, com orientações políticas e interesses diversos, que defende um orçamento “verdadeiramente” participativo nas Caldas. O deputado do CDS-PP, João Diniz, considera que a questão que deve preocupar os deputados é a “incapacidade e a falta de humildade [do executivo] em procurar ajuda”, acusando que neste município, “por pura arrogância, persiste-se em reinventar a roda, enquanto que seria muito mais fácil, económico e eficaz pedir ajuda a quem já estudou os problemas, ensaiou possibilidades e encontrou soluções”. Também Jaime Neto, do PS, referiu que o Orçamento Participativo não funciona pois os projectos estão atrasados. Criticou ainda o facto da maioria instalada no executivo e na Assembleia não ouvirem a oposição. O seu colega de bancada, Manuel Nunes, lembrou que o Orçamento Participativo foi inicialmente uma proposta dos vereadores do PS na Câmara e disse que o montante canalizado, de 150 mil euros, é insuficiente.
Vítor Fernandes (PCP) considera que “é muito pouco” o que foi feito em relação ao Orçamento Participativo. Além deste instrumento ao serviço dos cidadãos, defende também que o orçamento da Câmara deve ser participado, com contributos das colectividades, associações e juntas de freguesia. Na opinião de Emanuel Pontes (MVC), não existe nenhum regulamento do Orçamento Participativo, mas apenas normas de regulamentação de participação, pelo que propôs que estas se transformem num regulamento municipal para assim poder ser discutido na Assembleia Municipal. Já o deputado do PSD, Paulo Espirito
Santo, defendeu que as obras são feitas pela autarquia, pelo que as deve inaugurar quando estão finalizadas. Destacou ainda que é um bom mecanismo de participação pública. O presidente da Câmara informou ainda que estão já a iniciar o procedimento para o Orçamento Participativo de 2017, de forma a poder cumprir com os calendários. Estão também a avançar com o Orçamento Participativo Jovem. O autarca recordou ainda que as Caldas foi das primeiras autarquias do país a ter Orçamento Participativo, em 2013, e que no Oeste apenas mais duas, Lourinhã e Torres Vedras, também o possibilitam.