Humberto Marques, reeleito presidente da Câmara, diz que Óbidos e Caldas foram “uma ilha que não se deixou abalar com os ventos do governo nem do PS”. Contrariando o espectro nacional, o PSD não só manteve as autarquias nestes dois concelhos, como consolidou a votação relativamente há quatro anos.
O Movimento pela Usseira ganhou a freguesia ao PSD, juntando-se a mais dois movimentos independentes, nas Gaeiras e A-dos-Negros, ainda que nestes dois últimos casos sejam apoiados pelo partido no poder. O Bloco de Esquerda, que concorreu pela primeira vez a Óbidos, conseguiu eleger um deputado para a Assembleia Municipal.
Tratou-se, como o próprio reconheceu, de uma vitória num contexto difícil, em que o governo socialista tem uma popularidade grande e tentou influenciar estas eleições com uma “espécie de nacionalização das autárquicas”. Humberto Marques deu mesmo o exemplo da vinda de algumas figuras do PS nacional a Óbidos, como foi o caso de João Galamba. No entanto, de acordo com o presidente reeleito, o eleitorado reconheceu o trabalho feito, dando-lhe uma votação mais expressiva, que deixou o PSD a 120 votos de eleger um quinto vereador.
Humberto Marques disse que não tinha receio da derrota, mas reconheceu a dureza do contexto. Salientou que fizeram uma campanha “muito pela positiva, sem entrar em querelas, e com o sentimento que o eleitorado estava connosco e que queria alguma mudança, mas com a mesma equipa”.
A acompanhá-lo durante os 11 dias de campanha estiveram “mais de 90 jovens”, a quem Humberto Marques agradeceu, assim como aos outros elementos que possibilitaram que esta tivesse sido “uma das melhores” em que já participou. O presidente reeleito dirigiu-se ainda à oposição, pedindo que depois de uma “campanha muito agressiva, com insinuações e boatos, saiba interpretar os resultados e defender as pessoas do concelho”. Espera que a partir de agora se “arrumem facas e pistolas” e que, juntos, possam trabalhar em benefício do concelho.
E o que irá agora acontecer ao PSD a nível nacional? Humberto Marques considera que Passos Coelho e o partido têm que reflectir sobre os resultados. “A liderança do partido não pode fazer ouvidos de mercador ou estar cega face ao que aconteceu”, diz o autarca, que entende que estão criadas as condições para que surjam outras pessoas a disputar a liderança no partido. Na sua opinião, a figura que estará em melhores condições nesta altura será Rui Rio.
UMA PESADA DERROTA
Pouco passava das 20h00 e na sede de campanha do PS, na Usseira, o ambiente era de esperança contida. A casa estava cheia e a comida em abundância na mesa prevenia uma noite que poderia ser longa. O computador estava ligado no site das autárquicas e os quadros feitos à espera de serem preenchidos. Os dados de que a abstenção diminuíra nestas eleições davam alento à espera pois, como explicava José Machado, que presidiu à comissão de honra da candidatura de Vítor Rodrigues, as pessoas tendem a ir votar para mudar o poder instalado.
Mas não foi o que aconteceu. Os resultados deram uma maioria mais expressiva ao PSD do que há quatro anos, com a margem de 794 votos entre as duas principais forças políticas no concelho de Óbidos.
Pouco passava das 22h00 e, com os resultados conhecidos, o PS assumia a derrota e cumprimentava o partido vencedor. Entre abraços, ofertas de flores e palavras de incentivo, o candidato Vítor Rodrigues, deixou a promessa de não baixarem os braços e a garantia de que irão assumir as responsabilidades nos vários órgãos autárquicos enquanto oposição.
“Poderíamos ter feito alguma diferença, a população não quis… respeitamos essa escolha”, disse o candidato socialista, acrescentando que tem a consciência que tudo fizeram para mostrar à população o estado do concelho e as propostas que tinham. “Podiam não ser ambiciosas, mas eram propostas que certamente iriam melhorar a qualidade de vida das pessoas”, referiu Vítor Rodrigues.
O candidato destacou o facto da freguesia da Usseira ter sido ganha por um movimento de independentes e lamentou alguns resultados “menos positivos” do PS, como a derrota na Amoreira por poucos votos.
CDU TAMBÉM PERDEU
A CDU mantém-se como a terceira força política em Óbidos, embora diminuindo a sua votação para a Câmara e para a Assembleia Municipal, onde perdeu um deputado, dos dois que tinha no anterior mandato.
Ainda assim, o candidato à Câmara, Rui Raposo, prefere ver o copo meio cheio e destaca os resultados obtidos no Olho Marinho, onde conseguiu colocar mais um elemento na Assembleia de Freguesia e ficou a apenas 50 votos do vencedor. Nas Gaeiras manteve um mandato na Assembleia de Freguesia. Na Amoreira, onde se candidatou pela primeira vez, não conseguiu eleger ninguém.
Contra a maioria absoluta
A candidatar-se pela primeira vez em Óbidos, o BE conseguiu eleger um deputado – Fábio Capinha – para a Assembleia Municipal. O candidato independente pelo BE à Câmara, João Paulo Cardoso considera que esta eleição foi uma “vitória das pessoas que se preocupam em lutar contra as maiorias absolutas”.
O candidato destaca o quão gratificante foi a campanha, em que calcorrearam todo o concelho a apresentar as suas propostas. “Foi uma campanha que eu próprio idealizei de contacto com as pessoas, e de não fazer da política um festival”, disse, reconhecendo que foi bastante teórico nas suas apresentações e por isso não ter tido tanta aceitação.
Ainda assim, está dado o pontapé de saída e reunidas as bases para que dentro de quatro anos o BE volte a candidatar-se e ajudar os cidadãos a “perceber que é importante não haver uma maioria absoluta, independentemente dela trabalhar bem ou mal”.
Os resultados foram comemorados na Usseira, numa residência particular, e não faltou a música de Zézé Barbosa.
TRÊS QUEIXAS NA CNE
A noite também não foi de festa para o CDS-PP em Óbidos. A candidatura encabeçada por Carlos Pinto-Machado foi a menos votada nestas eleições. O candidato considera que em Óbidos existe uma bipolarização dos votos que penalizou o resultado do CDS-PP, mas acredita que, apesar de não estar representado nos órgãos autárquicos, há condições para continuar a fazer uma “oposição construtiva e assertiva, falando a verdade”.
Carlos Pinto Machado disse tratar-se e uma vitória expressiva do PSD. “O povo decidiu que Humberto Marques arrume a casa que desarrumou e que pague a dívida que contraiu”, salientou.
O candidato centrista aguarda ainda o resultado de queixas que fez à Comissão Nacional de Eleições por não lhe terem aberto a porta do Salão Paroquial no Olho Marinho para fazer uma sessão de esclarecimento, pela utilização da imagem de Assunção Cristas e de Marcelo Rebelo de Sousa no programa eleitoral de Humberto Marques e ainda pelo facto de um elemento da Assembleia Municipal do PSD integrar o movimento de independentes.